Quando vale a pena buscar financiamento para as instituições de menor porte
Instituições deste segmento podem enfrentar impactos em suas operações, e a busca por alternativas para financiamento é um desafio aos gestores
Alta de preços, taxas de juros em crescimento, custo de vida maior, salários estagnados, empresários que perderam receitas, muitos foram os fatores que a pandemia desencadeou na economia. Vários setores sofreram impactos e não é diferente no caso do ensino privado, principalmente entre as instituições de menor porte.
Honrar os compromissos tem sido desafiador aos gestores, que, se contraíram empréstimos, precisam honrá-los com o primeiro pagamento, geralmente, em prazo de seis meses a um ano. Em um futuro próximo, se o volume de negócios não for o ideal e a despesa fixa crescer, haverá a necessidade de tomar uma decisão: buscar recursos para ganhar fôlego e/ou cortar despesas fixas. São diversos caminhos a serem seguidos que podem fazer total diferença na vida da escola.
Queda de alunos no ensino privado
Conforme aponta o último estudo da consultora de gestão escolar Grupo Rabbit, escolas de pequeno e médio portes foram as que tiveram mais impacto em queda de alunos, sendo esse segmento o que compõe a maior fatia do mercado.
As realidades foram diferentes para instituições de diferentes tamanhos. Colégios com mais de 550 alunos foram proporcionalmente menos prejudicados. O índice de retenção de matrícula alcançou cerca de 80%, e as escolas de pequeno e médio portes atingiram 60%.
Segundo Christian Coelho, CEO do Grupo Rabbit e apoiador do movimento União pelas Escolas Particulares, o foco para 2022 será as negociações de descontos. “Geralmente, são 20% de mês a mês, tentar reduzir esse benefício, estabelecer um prazo para esse reajuste com os pais. No caso da rematrícula, no máximo, dar um desconto de 10%, pois precisa ser menor que a inflação. Não se perde aluno por valores mas, sim, pela falta de receita”, analisa.
Realizar a reorganização institucional
O momento pós-Covid-19, mesmo que ainda não plenamente superada a pandemia, traz a necessidade de novas reflexões para todos os segmentos econômicos, respeitando seus respectivos portes e potenciais.“É importante atuar de forma restaurativa, observando algumas premissas essenciais como: prazos, situação econômica, situação financeira e fiscal, mercado e demandas, dentre outras”, aponta o consultor financeiro Roberto Medeiros.
O ponto de partida para um plano de reorganização institucional (para não dizer empresarial) se realiza por análises críticas da sua própria instituição. Para Medeiros, alguns paradigmas devem ser desconsiderados ou adequados ao atual cenário. “Não basta fazer comparações com base em fatos e opiniões. Os indicadores devem ficar atentos aos itens técnicos relacionados com sustentabilidade e rentabilidade; regime tributário; população (expectativas e demandas); estabilidade do mercado (novos entrantes)”, pontua.
Antes de ingressar no mercado financeiro, entenda seu negócio
Ao contrair um empréstimo, é importante o gestor de uma escola de pequeno ou médio porte sanar as suas dúvidas com especialistas. Verificar o que está operando errado no seu negócio, pois, se ainda está atuando como era antes da pandemia, pode haver um grande problema de gestão. “É importante procurar uma consultoria financeira, de recursos humanos, marketing ou logística. Estes são os primeiros passos para buscar qualquer suporte financeiro”, indica o consultor financeiro do Sebrae-RS, Maximiliano Kruel.
Conforme ressalta Kruel, o mundo mudou, as pessoas mudaram, como todo o consumo em si. “Muita gente alterou sua rotina de vida e trabalho e, em contraponto, muitas empresas seguem operando com a mesma mentalidade. Vários negócios pararam de atender muita gente e diversas famílias não gastam mais em uma academia ou uma escola particular, por exemplo. É preciso achar novas alternativas”, sinaliza.
Já Medeiros reitera que investir em estrutura a partir de contratação de empréstimos poderá ser o início do caos financeiro. “Não há como prever o retorno ou incremento de alunos por consequência desse tipo de investimento. A opção pelo ensino se dá por uma soma de fatores e quando se fala em investir em estrutura é necessário fazer um detalhamento desta composição. Equilibrar os resultados deve estar precedido de um estudo financeiro e econômico. Não se pode temer as consequências do que for necessário para conquistar tal equilíbrio. Não foque na busca por sustentabilidade e avaliação de rentabilidade. Neste momento, o importante é o equilíbrio, o resgate de eventuais perdas”, analisa.
Uma sugestão para as escolas melhorarem suas receitas é o foco em treinamento de venda, uma pessoa ou uma equipe dedicada para entrar em contato com as famílias. “Manter o engajamento, mostrar atividades com estudantes que chamem a atenção”, exemplifica Kruel.
Taxas, linhas de crédito e relacionamento com bancos
Com a constante elevação da taxa básica de juros, a Selic, o professor da Escola de Negócios da Fadergs, Eduardo Moraes, alerta que o negócio deve ter um retorno, em média, de 15% comparado com a taxa de juros. “Se não, a instituição vai trabalhar para algo que não vai gerar resultado para pagar o empréstimo. Por isso, é importante conseguir uma taxa adequada”, salienta. Outra recomendação é ajustar o prazo de financiamento e a prestação de pagamento para caber dentro do orçamento da instituição.
Moraes também destaca a importância de fazer uma pesquisa de instituições financeiras, pois as escolas de menor porte, normalmente, não possuem um “score” (o equivalente a nota) de crédito anterior – logo, as taxas não são favoráveis.
“Quando se tem um maior relacionamento com um banco, que faz a folha de pagamento, por exemplo, pode-se usar essa troca em condições melhores. Utilize esses serviços para ter reciprocidade”, indica.
Para negociar com as instituições financeiras, um grande deferimento das escolas, consideravelmente estável, são as mensalidades. “Podem ser usadas como garantia para empréstimo”, aponta o professor.
Algumas iniciativas vinculadas ao Governo Federal podem ser alternativas para captação de recursos. Entre elas, o Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe), Fundo Garantidor para Investimentos (FGI), Programa Emergencial de Suporte a Empregos (PESE) e Capital de Giro para Preservação de Empresas (CGPE).
“São boas alternativas. Junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), sempre existe um prazo maior para pagamento, com carência. Cada um dos programas têm suas particularidades e exigências. Cabe a cada negócio ver se enquadra, pois exigem garantias reais em diferentes porcentagens relativos ao valor solicitado”, comenta o consultor do Sebrae-RS.
Onde buscar recursos
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