O que mudou na capacitação dos professores depois da pandemia 

Mais do que explorar áreas do conhecimento, prática permite a docentes aprender a solucionar problemas do dia a dia

por: Tatiana Py Dutra | tatianapydutra@padrinhoconteudo.com
imagem: Depositphotos

“O que você aprendeu de novo neste mês?” Se o questionado for um professor, espera-se que ele tenha algo para contar. A profissão exige constante busca por novos conhecimentos e atualização sobre novas metodologias, tendências na educação, orientações legais etc. Estar atualizado não apenas torna o docente mais completo mas, especialmente, significativo para os alunos. Em uma era em que a informação e o conhecimento são compartilhados de maneira quase instantânea, as principais demandas nascem na sala de aula. E a pandemia, claro, influenciou nesse contexto, pois ampliou a variedade de formações on-line.

“Capacitação pressupõe que a pessoa não sabe ainda fazer alguma coisa e precisa aprender. Se você não capacita o professor na perspectiva de promover a aprendizagem, pode ser que ele fique trabalhando com várias estratégias em vão. Já na formação continuada você tem um profissional capacitado que precisa desenvolver, se atualizar, se aprofundar, trocar ideias com outras pessoas”, esclarece a pedagoga, escritora e palestrante Priscila Boy, idealizadora da Escola da Transformação.

O docente em busca de aprimoramento intelectual tem diversas possibilidades, como de pós-graduação, participação em seminários e cursos.

“O professor pode fazer cursos virtuais de pequena duração ou, se não tiver recursos, buscar vídeos no YouTube, a maior plataforma de vídeos do mundo, que abriga conteúdos muito ricos. Mas o professor não deve perder essa busca por uma bibliografia mais aprofundada, uma vez que é um acadêmico. Assim ele vai conseguir se atualizar constantemente”, recomenda Priscila.

A professora Alessandra Rosa migrou da indústria química para o magistério desde 2008. Na bagagem, trouxe o gosto pela atualização de conhecimentos, indispensável no mercado em que iniciou.

“Na indústria, estamos sempre buscando capacitações e na docência, se não nos atualizarmos, não atenderemos às demandas dos estudantes. A velocidade das transformações na educação acelerou muito em função da pandemia. Tive de buscar novas metodologias, edição de vídeo, videoaula. Então é preciso que o professor não (estude) só sobre sua disciplina, mas que esteja adequado a seu tempo”, diz a professora.

Na escola

A formação continuada dos professores é responsabilidade também das escolas. Segundo especialistas, a implantação de uma proposta, além da vantagem de melhorar o ensino, é uma forma de valorizar os profissionais, alinhando o docente com as expectativas da instituição. 

Se antes da pandemia a agenda dos professores poderia dificultar um programa de formação, a experiência do ensino remoto adicionou flexibilidade à equação. Há  plataformas on-line que oferecem informações relacionadas ao trabalho com as habilidades da BNCC em sala de aula, novas tecnologias, desenvolvimento infanto-juvenil, avaliação de desempenho dos alunos, entre outros temas que possam estar relacionados às necessidades dos docentes.

“Antes (da pandemia), existia um preconceito muito grande em relação à formação virtual, mas a pandemia fez ver que as ferramentas tecnológicas podem ser aplicadas no universo escolar. Essas ferramentas permitem que tenhamos salas de bate-papo, façamos trabalhos em grupo e discussões”, valoriza Priscila Boy.

“Para muitos pode ser difícil sair da rotina das escolas para ir fazer um curso. Com cursos on-line, é possível se organizar e cada um fazer a seu tempo”, acrescenta a professora Alessandra.

Presencial ou híbridas, as atividades formativas expositivas realizadas com os professores  precisam ser repensadas pelas instituições.

“Os estudos apontam que há aprendizagem onde há protagonismo e participação. Hoje, não fazemos mais formação só no modelo instrucionista, dando aula lá na frente, como uma  palestra. Damos a instrução, trazemos as teorias, mas promovemos momentos de interação, nos quais o professor possa interagir, participar e fazer uma parte prática”, recomenda Priscila.

Em relação aos temas a serem estudados com os professores, a doutora em Educação Elenise Eckert sugere que não fiquem restritos às áreas de conhecimento. O dia a dia dos docentes pode se tornar pauta de uma formação.

“As escolas precisam ouvir os professores e serem criativas. Um problema de indisciplina enfrentado por um docente pode gerar uma atividade muito rica, com a participação de seus colegas. O grupo aprende em conjunto, troca experiências e constrói soluções para problemas cotidianos”, sugere.

Professores inquietos

O Colégio Farroupilha, onde Alessandra trabalha, oferece formações internas e externas (com o custeio de congressos, por exemplo) tradicionais. Mas foi justamente a demanda dos professores em compreender e solucionar desafios do cotidiano escolar que motivou a criação da Escola de Professores Inquietos.

“Tínhamos a demanda de fazer a formação continuada dos professores dentro de temas contemporâneos, com atividades que não fossem de muito longa duração, mas que ajudassem a resolver problemas bem pontuais”, explica a diretora pedagógica do colégio, Marícia Ferri, curadora e co-criadora da Escola de Professores Inquietos.

A iniciativa incentiva que o professor desenvolva competências cognitivas, socioemocionais e interculturais, que possam fazer evoluir sua prática pedagógica. Desses pressupostos nascem cursos como Comunicação Não-Violenta, Inteligência Emocional para Educadores, por exemplo. Com o tempo, essas atividades foram abertas para a participação de profissionais de fora do Colégio Farroupilha – e hoje a escola está em tratativas com a prefeitura de Porto Alegre para oferecer as atividades aos professores da rede municipal.

“Inicialmente, abrimos para outras escolas poderem participar dos eventos que aconteciam aqui no colégio. Mas a versão on-line dos cursos, durante a pandemia, ampliou muito o número de participantes. O de Metodologias Ativas atingiu profissionais do país inteiro, a capacitação sobre Google Classroom também. Mas o diferencial é que os cursos são bem ‘mão na massa’. A ideia é que os professores participem e saiam com um projeto pronto, algo que possam aplicar em sala de aula no dia seguinte”, valoriza Marícia.

Atualmente, um dos temas da formação da escola é Primeira Infância.

“Focamos neste primeiro semestre em como trabalhar com a convivência. Como lidar com a criança depois que ela brigou com o coleguinha. Não dá para mandar eles se abraçarem. É preciso nomear os sentimentos e respeitá-los. A formação vem justamente para tentar dar respostas a essas angústias e fazer o professor pensar sobre sua forma de agir”, explica a diretora.

Educadora e aprendente, a professora Alessandra comemora a oportunidade de crescimento trazida por atividades dessa natureza:

“Um bom professor não é o que detém o conhecimento de sua disciplina, mas que consegue articular com diferentes sabedorias, buscando se aproximar da forma com o que seu estudante aprende. Por isso, a atualização deve ser contínua”.

TAGS





Assine nossa newsletter

E fique por dentro das novidades