Aprendizado constante: quais são os indicadores de desempenho de professores?

Para ampliar o ensino-aprendizagem nas escolas, a maneira de avaliar, monitorar e investir em formação contínua são alguns dos caminhos para que os docentes obtenham bons resultados em suas avaliações

por: Eduardo Wolff | eduardo@padrinhoconteudo.com
imagem: Depositphotos

“Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina.” Essa frase da poetisa Cora Coralina é sempre atual e verdadeira. No que se refere à área da educação, mais do que necessária, ainda mais para quem transmite os ensinamentos: o professor. 

Existe um critério muito objetivo para a avaliação do docente: a aprendizagem dos alunos. Mas não para por aí. 

Segundo o Censo Escolar da Educação Básica 2020, houve um acréscimo no percentual de professores com graduação e pós-graduação. No comparativo entre 2016 e 2020, ocorreu um aumento de 34,6% para 43,4% no número de docentes com pós-graduação. Com relação à formação a nível de graduação, o estudo revela um aumento em todas as etapas de ensino (infantil, fundamental e médio). 

Os dados sobre o avanço dos alunos em relação ao que estava previsto para ser ensinado são indicadores contundentes da performance do professor. Porém, a gestão da aprendizagem não deve considerar somente a documentação pedagógica organizada pelo docente. 

Conforme o artigo 12 da Lei de Diretrizes e Bases (LDB), é dever da escola “velar pelo cumprimento do plano de trabalho de cada docente”. Pelo princípio da transparência, é importante que todos os professores estejam cientes dos critérios, bem como que se trata de um procedimento para aprimorar o que é sagrado em uma instituição escolar: a qualidade do ensino em favor da aprendizagem. 

Um exemplo de iniciativa para criar o desenvolvimento profissional de docentes é a proposta pela Fundação Carlos Chagas com a BNC – Formação Continuada na prática: implementando processos formativos orientados por referenciais profissionais. Neste documento, é indicado como as redes de ensino podem usar essa matriz para a avaliação dos professores feita por formadores em conjunto com os próprios docentes, de modo a levantar necessidades formativas e oferecer subsídios ao planejamento dos processos formativos. 

As formas de realizar as avaliações

Um indicador adicional pode ser extraído por meio de instrumentos que integram áreas, como simulados, para que as habilidades desenvolvidas pelos estudantes sejam colocadas à prova em contextos mais amplos. Outro caminho que pode trazer importantes parâmetros são projetos transversais apresentados pelos alunos para comitês de professores, que revelem competências específicas e gerais previstas na Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e que devem ser desenvolvidas pelos professores em sala de aula. 

“Quando possível, uma pesquisa que considere a percepção dos estudantes pode trazer prognósticos sobre didática e relacionamento – pontos importantes da atuação docente”, sinaliza a diretora pedagógica do Sistema Positivo de Ensino, Acedriana Vicente Vogel.

Outra maneira é avaliar os professores de diversas formas e finalidades, por exemplo, usando os concursos públicos para ingresso na carreira. É o que aponta a pesquisadora e integrante do grupo de pesquisa em Políticas e Práticas de Educação e Formação de Professores da Fundação Carlos Chagas, Gabriela Miranda Moriconi. 

“Se estamos pensando em avaliações que tenham como objetivo apoiar os professores na melhoria do seu trabalho, é importante que o trabalho em si seja avaliado. Ou seja, que o objeto principal da avaliação sejam as práticas profissionais dos professores”, comenta. 

Ainda, segundo a pesquisadora, é preciso levantar múltiplas evidências de como essas práticas estão ocorrendo, como por meio da análise de plano de aulas, de tarefas dos estudantes, da observação de aulas, entre outras.

Os estímulos à formação continuada 

Para a diretora pedagógica do Sistema Positivo de Ensino é necessário que um professor aprendiz seja muito aberto ao novo e sem medo de assumir a sua vulnerabilidade. “Eles precisam acompanhar a velocidade das informações e desinformações, considerar as metodologias ativas e as tecnologias em sala de aula. Engajar e manter o engajamento dos alunos, trabalhar a inclusão e a diversidade como princípios pedagógicos e, ainda, recompor aprendizagens do trabalho remoto ao qual fomos submetidos”, frisa.

Conforme sinaliza a gestora pedagógica de formação de professores da Nova Escola, Karina Padial, a formação continuada é um recurso mais importante para melhorar os processos de ensino-aprendizado dentro da escola e influenciando nos resultados dos estudantes. “É tempo de refletir práticas e aprimorá-las”, pontua.

Para isso, é relevante a homologação de processos de metodologias ativas, mesmo que, em muitos casos, os professores possuam poucas referências quanto a isso. “Desde a escola até na graduação e em outras capacitações, normalmente, os docentes não têm esse enfoque no ensino. Geralmente, estão acostumados a assistir palestras expositivas ou cursos on-line. Acredito que ainda é muito pouco colocado em situações no ensino ativo. Se reverter esse quadro, vão permitir que os alunos sejam ainda mais ativos nesse lugar ativo de aprendizado”, indica.

As estratégias para serem desenvolvidas

De modo geral, os professores são formados para o acerto. Eles avaliam, não estão acostumados a ser avaliados. Levantar pontos frágeis tende a ser angustiante para o professor, porém um caminho necessário para quem pretende ensinar, afinal – aprender e ensinar são faces de uma mesma moeda. 

“Ao gestor cabe aproveitar esse momento de feedback para abrir um espaço de escuta ativa sobre a sua atividade na liderança, bem como acolher as percepções e angústias do professor. Portanto, não se trata de um monólogo. Mas de uma conversa norteada por dados concretos. Dessa forma ambos podem desenhar os pontos de atenção e as formas de acompanhamento das melhorias até o próximo feedback”, diz a especialista do Sistema Positivo de Ensino.

Já a pesquisadora da Fundação Carlos Chagas destaca que, ao fazer a avaliação junto com os professores, os formadores podem ter as oportunidades de oferecer devolutivas e discutir as suas atuações. “Eles podem planejar ações formativas que vão ao encontro dessas necessidades, visando o desenvolvimento profissional e a melhoria do trabalho dos professores”, sugere.

Do mesmo modo, é importante que os responsáveis (sejam eles da secretaria e/ou das escolas) pela avaliação garantam a participação dos professores em todo o processo avaliativo. Seja na definição dos aspectos que serão avaliados, das formas de avaliação e dos usos dessa avaliação; no levantamento de evidências a partir das quais a avaliação será realizada; e na reflexão e tomada de decisão a partir dos resultados da avaliação.

Critérios essenciais e diagnóstico

Entre os critérios, aponta a diretora pedagógica do Sistema Positivo de Ensino, estão “o envolvimento nas atividades mais gerais da escola que envolvem as famílias; a utilização de recursos didáticos; a participação em formações propostas pela escola; a contribuição nas pautas de inovação do trabalho escolar e a pontualidade nas entregas do que está sob sua responsabilidade”.

Todo esse trabalho precisa ser garantido por meio do monitoramento do processo de melhorias, caso contrário, não terá continuidade. 

“O acompanhamento constante permite que os professores mantenham a reflexão das suas práticas, promovendo a autocrítica. Assim, os professores vão avançando nas suas estratégias para fazer um planejamento coletivo”, complementa a gestora pedagógica da Nova Escola.

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