“O Pacto almeja contribuir para o êxito do ecossistema da educação gaúcha”

Em entrevista, a integrante do comitê-executivo do Pacto pela Educação, Mônica Timm, fala sobre esse novo movimento que pretende garantir aprendizagem a todos os alunos do Estado

por: , Eduardo Wolff | eduardo@padrinhoconteudo.com
imagem: Divulgação

“Consideramos a educação uma responsabilidade coletiva e desejamos tornar o Rio Grande do Sul um ambiente educacional de referência no cenário mundial.”

Este é um trecho do manifesto do Pacto pela Educação, um movimento constituído por um grupo de pessoas da sociedade civil, entre elas empresários, educadores e empreendedores. Com essa proposta audaciosa de transformar o modelo de ensino gaúcho, o Pacto foi lançado oficialmente no dia 31 de maio e já movimentou as primeiras iniciativas.

De maneira colaborativa, é possível apresentar e desenvolver projetos, bem como atuar como voluntário ou contribuir com recursos.

Para entender como será essa união de forças no Estado, o Educação em Pauta entrevistou a integrante do comitê-executivo do Pacto pela Educação, Mônica Timm.

Mestra em Gestão Educacional pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), Mônica é especialista em gestão empresarial e licenciada em Letras pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Foi diretora do Colégio Israelita Brasileiro, de Porto Alegre, de 1998 a 2016, e integrante da diretoria do Sindicato do Ensino Privado do Rio Grande do Sul (Sinepe/RS).

Educação em Pauta – Como se originou esse movimento que pretende ser transformador na educação gaúcha?

Mônica Timm – O movimento surgiu do inconformismo de muitas pessoas, de diferentes formações e ocupações profissionais, diante da gravíssima situação educacional em nosso país e, mais particularmente, em nosso Estado. Dia após dia tomou-se ciência dos impactos da pandemia na educação: aumento do analfabetismo, da evasão escolar e da ampliação da desigualdade social.

Os dados anteriores à Covid-19 já eram alarmantes, mas se agudizaram nos últimos dois anos. Os mais vulneráveis – crianças e jovens de baixa renda e que contam apenas com a escola pública para realizar sua formação acadêmica – precisavam que a sociedade fizesse a sua parte por eles. O Pacto surge, principalmente, em defesa do direito que esses estudantes têm de aprender.

Educação em Pauta –  No que este pacto se difere dos outros?

Mônica Timm – Se difere na sua origem e em um de seus propósitos. Na sua origem, porque seus idealizadores não representam uma instituição de classe, uma empresa ou qualquer organização previamente constituída. O pacto nasce de pessoas que se uniram para dar a sua contribuição em nome de uma educação pautada pelos princípios da equidade, diversidade e inclusão.

Estamos em defesa da escola como espaço basilar para o desenvolvimento social, ambiental e econômico. Por certo, não somos os únicos que defendem essas ideias, mas, talvez, o Pacto pela Educação seja um dos primeiros movimentos a buscar a superação das posições “entrincheiradas”, que são típicas de ambientes polarizados como este em que vivemos.

Educação em Pauta –  O que este movimento pretende se tornar? O que almeja?

Mônica Timm – O movimento não pretende se tornar referência no ensino, já que é tão somente um apoio da sociedade civil para que o segmento da educação gaúcha alcance resultados no nível das melhores referências mundiais. Não pretendemos substituir o papel dos gestores públicos, dos professores, das famílias. É muito importante que os papéis dos diferentes atores estejam bem claros, para que a busca do bem comum seja algo organizado e possível.

O que o Pacto almeja, como representação da sociedade, é contribuir para que o ecossistema da educação gaúcha tenha êxito em seu propósito de garantir aprendizagem a todos os estudantes. O nosso modus operandi será:

1) receber as demandas das comunidades;

2) oferecer apoio em forma de trabalho voluntário, rede de relacionamento e/ou recursos para a realização de projetos, sempre na perspectiva de atender às necessidades que nos forem indicadas.

O nosso lado propositivo vai na direção de convidarmos toda a sociedade gaúcha a elevar as expectativas em relação ao que podemos legar a crianças e jovens. Que não fiquemos como mero espectadores do analfabetismo funcional, das enormes desigualdades sociais e da falta de esperança das novas gerações no seu futuro.

Educação em Pauta –  Como transferir do discurso para a prática?

Mônica Timm – Primeiramente, é preciso que a maioria da população gaúcha concorde que a educação deve ser a prioridade número um no Estado. O Pacto, ou seja, a sociedade nele representada pode e deve se colocar como um ente que exigirá seriedade e efetividade no trato das questões educacionais. É inadmissível que continuemos a constatar a existência de escolas sem infraestrutura mínima para garantir bons espaços de aprendizagem. É inadmissível que não tenhamos mais jovens dispostos a trilhar a carreira do magistério, porque a educação e seus profissionais não recebem valorização e reconhecimento. É inadmissível que a grande maioria dos estudantes do Ensino Médio não tenha desenvolvido habilidades básicas de leitura e a capacidade adequada de operar com números.

Essa indignação precisa ser levada aos nossos governantes e convertida em ações concretas de apoio à educação. Além disso, o Pacto se propõe a dar visibilidade às iniciativas em favor da qualidade do ensino, aos seus processos e resultados. Essa nos parece ser uma boa forma de converter discurso em ação concreta: mostrando a todos o que é possível fazer de bom e efetivo pela educação.

Educação em Pauta – Como educadores, gestores e estudantes das escolas particulares podem participar do movimento?

Mônica Timm – Primeiramente, os professores e gestores podem participar colocando-se como CPFs apoiadores e disseminadores dessa ideia. Antes de mais nada, cada um de nós é integrante da sociedade civil e, no Pacto, representa a si mesmo como cidadão. É claro que, dos profissionais da educação, se espera uma participação mais consistente, já que a proposta é colocar este segmento como sendo a prioridade do Estado.

Quem estudou para ser professor e se dedica à educação por certo tem muito mais a dizer, propor e fazer do que cidadãos que atuam em outras áreas. Então, profissionais da educação, que não percam a oportunidade de canalizar esforços para mudar o quadro educacional, ao menos em solo gaúcho.

Em um segundo momento, o Pacto abrirá espaço para que instituições se incluam nas redes de colaboração. É nessa etapa que a adesão das escolas privadas será muito importante, pois está nos seus propósitos colaborar para a construção de uma sociedade melhor.

Educação em Pauta – Como é o processo de desenvolvimento de um projeto?

Mônica Timm – Um projeto do Pacto sempre será uma alternativa de resposta a um problema identificado e demandado pelas comunidades. De modo algum se pretende impor pautas ou ajudas. O nosso papel como integrantes do Pacto é oferecer apoio, trabalho e visibilidade às diferentes iniciativas.

Eventuais dificuldades em formatar projetos também poderão ser sanadas, seja pela disponibilização de documentos com uma proposta de estruturação mínima das ideias, seja por meio de ajuda para a própria criação desses projetos. Há, repito, muita gente disposta a colaborar e muito conhecimento que poderá ser colocado a serviço da educação dos gaúchos.

Educação em Pauta – De que forma o Pacto vai desenvolver as ações mobilizadoras?

Mônica Timm – Identificando e recebendo as demandas e localizando quem tem desejo e possibilidade de ajudar. Ato contínuo, combinando com as escolas e secretarias qual será a melhor forma de integrar a ajuda aos tempos e espaços das instituições.

É muito importante que a gestão escolar indique o modo e a intensidade do apoio. Do contrário, boas intenções e bons recursos poderão se transformar num novo problema e não numa alternativa para melhor resolver dificuldades apontadas.

Educação em Pauta – Quais são os resultados almejados em curto, médio e longo prazos?

Mônica Timm – Os resultados almejados terão a proporção das nossas expectativas. Se entendermos, como parece já ser o caso, ser importante retirar o Rio Grande do Sul da posição de Estado com a menor quantidade de escolas de tempo integral no país, então poderemos ter como expectativa que todo o município gaúcho tenha ao menos uma escola de tempo integral em seu território. Estaremos falando da criação de 497 escolas de tempo integral. Isso demandará tanto recursos de infraestrutura quanto tempo de dedicação de professores e funcionários.

Pensar nos recursos necessários para quase 500 escolas de tempo integral pode parecer algo impraticável, mas se colocarmos a existência de uma dessas escolas como a materialização do compromisso de um município com a pauta da educação, por certo o sonho das 497 instituições de referência não será algo impossível de acontecer no médio prazo. É só o município dizer que sim! Por certo haverá em cada comunidade importantes redes de apoio.

Já no curtíssimo prazo, almejamos conquistar o maior número possível de assinaturas, para mostrar a adesão da sociedade ao Pacto. E, num segundo momento, a adesão de CNPJs que possam apoiar o movimento.

No médio e longo prazos, constatar uma sensível alteração nos resultados educacionais em termos de qualidade das aprendizagens dos estudantes e na criação de referências inovadoras no ensino.

Educação em Pauta – Quais são as próximas ações do movimento?

Mônica Timm – O próximo passo será compilar todas as contribuições recebidas, fazer os ajustes necessários à proposta original e apresentar tudo isso à sociedade gaúcha, num segundo encontro. Na sequência, iremos procurar os atuais representantes do poder público e os pré-candidatos ao governo do Estado, visando a que destaquem, em suas pautas e em seus compromissos, a educação como primeira prioridade.

Educação em Pauta – E as projeções do pacto para os próximos anos?

Mônica Timm – Pretendemos que a educação não seja apenas um programa de governo, mas um programa de Estado. Independentemente da bandeira partidária que assumir o Governo do Rio Grande do Sul nas próximas e demais eleições, que a educação seja o compromisso primeiro de nossos governantes, ao longo dos tempos e das diferentes gestões. Entendemos que somente assim será possível estabelecer uma sequência coordenada de ações que façam do Estado um ótimo lugar para viver, inovar, empreender e conquistar o desenvolvimento social, ambiental e econômico que todos queremos.

> Para participar do Pacto pela Educação, basta acessar o link.

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