A educação socioemocional propõe o desenvolvimento de competências como criatividade, abertura ao novo e cooperação, entre outras. Essas competências estão previstas na Base Nacional Comum Curricular (BNCC).
Um levantamento consistente relacionado ao tema foi desenvolvido recentemente. Originalmente publicado pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) em inglês como Beyond Academic Learning: First Results from the Survey of Social and Emotional Skills, o estudo foi traduzido pelo Instituto Ayrton Senna com o título Além da aprendizagem acadêmica: primeiros resultados da pesquisa sobre competências socioemocionais.
A demanda por essas habilidades exige que professores e colaboradores estejam preparados para desenvolvê-las. No entanto, o estímulo ao bem-estar é algo a ser proporcionado a estes profissionais, com resultados positivos demonstrados a seguir.
Entendendo o estudo e seus principais apontamentos
Nesse levantamento da OCDE, algumas habilidades foram incluídas na Pesquisa de Competências Socioemocionais. Foram as seguintes: curiosidade, tolerância, criatividade, responsabilidade, autocontrole, persistência, iniciativa social, assertividade, entusiasmo, empatia, confiança, cooperação, tolerância ao estresse, otimismo, controle emocional, motivação de realização e auto-eficácia.
Para medir os sentimentos, preferências, comportamentos e pensamentos dos alunos, o estudo utilizou autoavaliações e avaliações de outras pessoas. Alunos, pais e professores preencheram um questionário no qual indicam a extensão de sua concordância ou discordância com afirmações a respeito de suas próprias (ou das do estudante ) crenças, preferências, comportamentos usuais, atitudes, etc.
Entre os recortes da pesquisa, é possível destacar que “otimismo, curiosidade e motivação para a realização acadêmica, principalmente, estão relacionados ao bom relacionamento de alunos e professores, achado também observado em outros estudos. […] descobriram que o desempenho em uma tarefa e a colaboração estão ligados a relacionamentos próximos e não conflitantes entre alunos e professores, enquanto a baixa regulação emocional está ligada a relacionamentos dependentes e conflitantes.”
Outro indicador é de que:
“Algumas dessas competências, como curiosidade, controle emocional e cooperação, têm um impacto positivo implícito em uma ampla gama de resultados e contextos, tanto no nível individual quanto no social. Em outros casos, algumas habilidades, como ser mais descontraído e sociável, podem depender mais especificamente dos objetivos do estudante. Por exemplo, no mercado de trabalho, a extroversão pode ser mais relevante para papéis empreendedores e gerenciais, onde a interação social é crucial.”
Positividade gera positividade
Quando se refere ao bem-estar da escola, tem de se levar em conta todo o seu ecossistema, ou seja, não somente gestores, professores, alunos, famílias, mas a combinação entre si. A interferência substancial da escola no bem-estar das famílias é pequena, pode ser indireta, mas em relação ao ambiente de ensino, com os colaboradores, os professores e os estudantes, a escola possui uma grande responsabilidade.
Conforme ressalta o especialista em aprendizagem socioemocional e CEO da Semente Educação, Eduardo Calbucci, diversos resultados nessa área têm impacto significativo no aprendizado escolar e a pesquisa da OCDE confirma evidências relacionadas. É o caso de um estudo, elaborado em 2011, publicado na revista Child Development, que sinaliza que alunos de escolas com programas para o desenvolvimento socioemocional têm resultados 11% melhores na performance acadêmica.
Cobucci destaca que um aluno mais responsável, determinado, persistente, curioso, criativo contribui para criar o ambiente de bem-estar. Aquele conceito de que um estudante precisa de mais aulas para aprender matemática, por exemplo, não é totalmente eficaz. “Acumular estudos é uma meia verdade. Se não incentivar, mais frustração será gerada”, frisa.
E como o professor vai desenvolver essa competência, se não as domina? O olhar atento aos docentes para desenvolver essas valências pode fazer a diferença.
Para o especialista, o bem-estar dos professores vai resultar no dos seus estudantes. Para promover esse ambiente, o acolhimento e o respeito são peças-chave para que ocorra essa positividade.
Ou seja, se for para iniciar um processo de melhora de clima, o caminho é começar pelos docentes, pois os resultados serão efetivos. “Muitos acabam se afastando da sala de aula em decorrência de doenças psiquiátricas, como depressão e síndrome do pânico. A aprendizagem socioemocional pode contribuir, em muito na vida dos professores”, afirma.
Uso da psicologia positiva
Além das práticas tradicionais como salário, benefícios e oportunidades de crescimento, a gestão escolar pode incentivar autonomia e mais controle das pessoas sobre aquilo que é seu trabalho.
Conforme aponta a psicóloga e especialista em desenvolvimento de carreiras e lideranças, Shaíze Maldonado Roth, é importante dar segurança psicológica e permitir a mudança de postura em relação aos erros e desafios. Outra iniciativa é a criação de oportunidades de aprendizado e evolução, a partir das situações vividas no dia a dia, tanto pessoal quanto profissional.
A especialista acredita que um ambiente escolar pode promover o senso de pertencimento e o significado para reforçar a importância das pessoas em seu time, além de criar momentos de conexão e fortalecimento dos relacionamentos. O suporte aos colegas e liderados diante de situações difíceis, sejam pessoais ou profissionais a partir do “eu me importo com você”, também é importante.
A preocupação com saúde mental é bastante recente na nossa sociedade. “É preciso entender se as escolas têm o desejo e recursos para fazer essa mudança cultural”, salienta.
Shaíze destaca que boa parte dos professores e gestores vieram de uma cultura que não estimulava as competências socioemocionais. A psicóloga reforça um dos dados da pesquisa da OCDE, o qual aponta que quanto mais os adolescentes vão ficando mais velhos, mais dificuldades terão em suas competências socioemocionais.
“Não é estimulado o preparo social, saber lidar com os erros. É preciso trazer essa conscientização, aprender mais sobre isso”, reforça.
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