Educação ambiental e as possibilidades de protagonismo estudantil

Pensar meio ambiente dentro da escola é uma oportunidade para discutir o papel individual em relação ao coletivo, e também de integração

por: ítalo Cosme | Especial
imagem: Depositphotos

Trabalhar a educação ambiental na escola é uma ótima oportunidade para potencializar a interdisciplinaridade e o protagonismo estudantil. A Base Nacional Comum Curricular traz o tema por todo o documento norteador, da educação infantil ao Ensino Médio – é transversal à formação das crianças e dos adolescentes. 

Por isso, pode ser discutida em diferentes momentos do ano letivo: no turno inverso, dentro de um projeto de sustentabilidade; ou no turno regular, como um projeto de pesquisa, quando os alunos fazem intervenções no entorno da escola para entender o impacto das ações humanas no ambiente em que vivem, por exemplo.

A interdisciplinaridade ocorre quando o estudante é instigado a pensar as diferentes nuances do tema, como para produção textual, aspectos químicos, físicos, impactos na agricultura e inserir questões matemáticas.

Com isso, a educação ambiental assume um papel de articulação para discutir sobre diversos assuntos, desde a alimentação ao impacto das construções habitacionais próximas aos rios. Independente de ser em turno integral, em um turno parcial ou, então, dentro da visão humanista, social, cultural, biológica, que é a educação integral.

“Quando se fala de educação integral, eu quero trazer um outro elemento que é a proposta de formação humana integral. Isso implica no cuidar de si, dos outros, do ambiente, para que a gente possa continuar vivendo. Mas é vivendo construindo qualidade para quem, inclusive, nunca teve qualidade de vida. Então, é preciso, sim, que a escola tenha mais tempo e que pense quais são as questões estruturais. Uma delas é a sustentabilidade”, comenta a pesquisadora e professora titular da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Jaqueline Moll.

Outro ponto importante é o professor manter-se sempre na condição de aprendiz, para buscar metodologias diferenciadas e uma linguagem mais conectada à utilizada pelo aluno. Sem contar na oportunidade de o educador, para além do conteúdo, incentivar o aprimoramento do raciocínio da classe, da estética do que está sendo apresentado, da oralidade e expressão corporal. 

Nesse contexto, os temas ambientais e científicos precisam de mais atenção. Moll reforça a necessidade de repensar a formação dos professores, dos projetos pedagógicos e valorizar as interfaces educacionais com problemas da vida real e de interesse das crianças. Um ponto negativo na Base Nacional Comum Curricular (BNCC), salienta a professora da UFRGS, é a nossa ancestralidade – saberes populares – não estar tão bem demarcada frente à importância do tema.

Interdisciplinaridade

No município de Viamão, Região Metropolitana de Porto Alegre, a escola privada Lápis de Cor se destaca, para além da carga horária expandida, pelo trabalho interdisciplinar com a disciplina de Educação Ambiental.

A instituição tem pouco mais de 230 estudantes matriculados e boa parte vive em sítios próximos. A escola está localizada numa área rural e possui trilhas ecológicas e uma praça bem arborizada no entorno. A biodiversidade é riquíssima, com várias espécies da fauna e da flora já catalogadas.

Na parte interna do colégio, há um pomar e uma horta agroecológica, onde o aluno acompanha o desenvolvimento das plantas e vegetais. Durante as refeições feitas na escola, os estudantes consomem frutas, legumes e verduras plantados ali por eles mesmos.

A professora Cármen Pereira é quem guia o aprendizado dos estudantes dos anos iniciais e finais do Ensino Fundamental na Lápis de Cor. Ela diz que antes mesmo de um alimento chegar ao prato dos pequenos, eles aprendem a importância do desenvolvimento daquela muda, do adubo natural e qual a importância daquele pezinho de planta em crescimento para a localidade e para o país.

“Nós trabalhamos de uma forma científica, lúdica e criativa. Durante nossas trilhas ecológicas, encontramos várias espécies de plantas, algumas típicas do nosso Estado e, inclusive, algumas de importância brasileira. Por isso, é muito importante saber desde o nome científico, onde surgiram, qual o melhor período para o cultivo, até os cuidados para cada uma”, descreve.

O conhecimento dos alunos sobre meio ambiente, plantações e animais já é bem rico, comenta a professora, pelo fato de o contato com a natureza já vir do berço. “Essa é a realidade externa dos nossos estudantes. Eles convivem diariamente com o verde. Então, já chegam com uma bagagem bem interessante para as aulas. Aqui, vamos trabalhar os conceitos e os aspectos importantes para a educação ambiental.”

Apesar do conhecimento prévio, ressalta a educadora, os educandos passam por um processo investigatório. “Para este ano, nós montamos um projeto sobre biomas e ecossistemas. E, assim, tentamos também aproveitá-lo em outras disciplinas para que todos os aspectos sejam trabalhados em sala de aula”, esmiúça.

Além da educação ambiental, a professora Cármen Pereira também leciona as disciplinas de ciências e informática. Ela acrescenta o diálogo entre os docentes de outras disciplinas para obter sucesso nos projetos desenvolvidos. Ela esclarece que os projetos são planejados e executados a partir do conceito de interdisciplinaridade, quando todos os professores são convidados a participarem como mediadores do conhecimento.

“Esse engajamento reflete diretamente no desenvolvimento do estudante. As atitudes do aluno acabam mudando em virtude do conhecimento que ele adquiriu em ambiente escolar e fora dele. O que ele aprende aqui, ele leva pro amigo, para comunidade onde está inserido. É uma ajuda mútua”, analisa.

Como exemplo positivo, Cármen cita o trabalho realizado durante as aulas remotas no período mais crítico durante a pandemia de Covid-19. A professora lembra que teve de repensar as estratégias para transmitir o conteúdo virtualmente. “Eu criei vinhetas de abertura, fui buscar uma tecnologia que eu não tinha. Aprendi a fazer vídeos interativos e editá-los. Isso despertou a curiosidade não só dos alunos, mas também dos responsáveis por eles. Mesmo com o retorno das aulas presenciais, eu mantive a tecnologia como aliada no ensino da educação ambiental.”

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