As emoções no contexto de pós-pandemia

Especialista em aprendizagem socioemocional fala sobre as dificuldades enfrentadas pelos educadores e alunos durante a pandemia e da importância de ter um olhar atento para os momentos de interação social

imagem: AdobeStock

Eduardo Calbucci

Doutor em Linguística, professor da Educação Básica, especialista em aprendizagem socioemocional e diretor-geral do Programa Semente

O início do ano letivo é um bom momento para refletir sobre tudo o que tem acontecido na educação nos últimos anos. Ao mesmo tempo, é uma oportunidade para cada escola proporcionar a estudantes e professores um ambiente acolhedor e harmônico.

“Se nossos alunos forem capazes de se conhecer melhor, de realizar sonhos, de evitar situações de risco, de estabelecer bons relacionamentos, fazer escolhas prudentes, eles estarão preparados para os desafios do século XXI”

Educardo Calbucci – especialista em aprendizagem socioemocional

Entre 2020 e 2021, não faltaram mudanças e adversidades para o mundo escolar: a suspensão das aulas presenciais, as dificuldades do ensino on-line, a volta gradativa ao ambiente escolar, a insegurança em relação ao futuro, os déficits de aprendizado. Tudo isso foi – e continua sendo – um desafio para o Brasil e para o mundo.

Agora, em 2023, é preciso compreender que nossos alunos não são os mesmos de 2019, e nós também não somos os mesmos. Há uma nova realidade e, cada vez mais, é fundamental que a escola se torne um espaço que estimule a curiosidade e a iniciativa social, em que as pessoas possam se entusiasmar e confiar umas nas outras, porque, dessa forma, será muito mais fácil criar um espaço propício ao aprendizado de todas as disciplinas do currículo escolar.

Em 2020, praticamente um bilhão de estudantes ficaram, em algum momento, fora da sala de aula. O ineditismo da situação trouxe questionamentos difíceis de serem respondidos. Que prejuízos a falta de interação social pode trazer? Que dificuldades de aprendizagem poderiam surgir? Quais os melhores caminhos para a retomada da “normalidade” nas escolas?

Todas as pessoas que trabalham com educação perceberam que os alunos voltaram ao ambiente escolar com defasagens de aprendizado. E é preciso reconhecer que essas defasagens só não foram maiores porque professores e gestores se reinventaram durante a pandemia, garantindo que as condições para as aulas a distância fossem as melhores possíveis.

Mas, quando pensamos nessas defasagens, é comum associá-las somente aos conteúdos tradicionais de Português, Matemática, Ciências e Humanidades. As crianças deveriam saber usar acentos gráficos (e não sabem), os adolescentes deveriam conhecer os gráficos das funções de 2º grau (e não conhecem). Surgiram, então, estimativas do tempo que será necessário para compensar esses déficits, o que nos dá a certeza de que há muito a ser feito nesse quesito.

O ponto crucial é que existem outros prejuízos da pandemia, mais difíceis de serem mensurados, mas que precisam ser lembrados, se queremos efetivamente trabalhar com os princípios da educação integral. A escola não existe apenas para que se possa falar sobre biodiversidade, sobre reciclagem de lixo, sobre a importância da democracia, sobre combustíveis renováveis, sobre finanças pessoais. É certo que, sem estar de posse desses conteúdos variados, os estudantes terão mais dificuldades para se tornarem bons profissionais ou cidadãos responsáveis. Mas também é preciso ensinar crianças e adolescentes a gerir emoções, a agir com empatia e responsabilidade, a tomar decisões responsáveis, a desenvolver foco e persistência. E a pandemia também trouxe prejuízos em relação ao aprimoramento das competências socioemocionais.

Com a volta às aulas presenciais, muitos educadores relataram dificuldades de relacionamento entre os estudantes. Isso era, de alguma forma, esperado. Crianças e adolescentes, quando vão à escola, não aprendem apenas durante as aulas, com a mediação explícita dos professores. Eles aprendem também na entrada e na saída da escola, na hora do recreio, nas discussões, nos conflitos, nas múltiplas interações sociais que o ambiente escolar proporciona. E a maioria dessas interações deixou de existir durante a pandemia.

O que fazer diante desse quadro? Um caminho é cada gestor ter um olhar ainda mais atento para a aprendizagem socioemocional. Nesse momento, isso pode ser um enorme diferencial para as escolas. Se nossos alunos forem capazes de se conhecer melhor, de realizar sonhos, de evitar situações de risco, de estabelecer bons relacionamentos, fazer escolhas prudentes, eles estarão preparados para os desafios do século XXI. O futuro começa no primeiro dia de aula de 2023.

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