Aprender a olhar para o mundo no período escolar mudou minha vida

Como pensar fora da caixa se nunca saímos de dentro dela? É responsabilidade da escola preparar as crianças e jovens para o mundo, com uma visão ampla das oportunidades, dos desafios e de como enfrentá-los com coragem e brilho no olho

imagem: Deposit Photo

Raquel Boechat
Jornalista, sócia fundadora de empresas no Brasil e no Canadá, líder de expansão da aceleradora de negócios canadense para mulheres empreendedoras Women on the Move/ Artemis Project. Conselheira do site Educação em Pauta


As experiências de viagem e de olhar para o mundo durante o período escolar mudaram minhas escolhas para a vida. Lembro como se fosse hoje de uma viagem no Ensino Médio ao Chile para um intercâmbio com uma escola em Santiago. Cruzar a Cordilheira dos Andes de ônibus, aprender a esquiar na neve, conhecer outros costumes, culinária, música, vivenciar os hábitos e a rotina de jovens de outro país. Todo o grupo cheio de curiosidade, vendo o quanto o mundo é cheio de belezas e novas oportunidades a serem descobertas diariamente. Sair dos livros e sentir com todos os sentidos o que antes era só História e Geografia. Como a perspectiva muda quando vivemos intensamente nossas descobertas.

Ainda no Ensino Médio, escrevi um livro sobre uma viagem de estudos à Inglaterra e descobri que queria seguir compartilhando histórias, optando pelo Jornalismo. Hoje adulta, com uma filha de 12 anos, moro em Toronto, no Canadá, onde vivemos na capital mais multicultural do planeta, com mais de 200 idiomas falados na mesma cidade. Além de aprender a respeitar as diferentes culturas, vejo o quanto estar com o mindset global abre uma janela para o mundo para as crianças e um oceano de novas escolhas para os adolescentes. Acompanho pais e filhos compartilhando suas histórias e seus idiomas nativos. Professores de origem distintas enriquecem o convívio. Aprendemos todos os dias a respeitar as diferenças. E isso também é Educação.

Mas internacionalizar não é só sair do país. É ter a curiosidade de saber além das fronteiras, de interagir e se comunicar. Te trazer algo novo. Para isso, a escola precisa planejar como inserir estas oportunidades de contato ao longo da jornada e ciclo escolar, com interações entre instituições, entre gestores, alunos, centros de pesquisa, museus, especialistas e lideranças. Com a comunicação digital e a Internet, o contato com pessoas do outro lado do mundo passou a ser tão simples. Basta articular a rede e planejar. Incluir o pensar global no processo de ensino.

Convivo com lideranças que desejam trazer seus negócios para o Canadá e muitas vezes o principal desafio não é o idioma, mas o medo do novo, por nunca ter saído de seu mercado. Como pensar fora da caixa se nunca saímos de dentro dela? Ao mesmo tempo, empresas lideradas por jovens do mundo inteiro interagem e compartilham conhecimento trazendo inovações para a educação de forma acelerada. Empreendedores das Edtechs revolucionam com novos métodos de aprendizagem, análise de desempenho, interação e avaliação virtual, conquistando espaços e uma audiência mundial. São exemplos o Duolingo, ApplyBoard e Top Hat.

No Brasil, num levantamento feito pela Associação Brasileira de Startups, em parceria com o Centro de Inovação para a Educação Brasileira, as edtechs lideram em número de startups no país e estão presentes em 25 dos 26 estados brasileiros. É um movimento com potencial global de expansão. Entre as brasileiras estão o aplicativo Mira Aula, criado para ajudar a combater a evasão de alunos; e o School Guardian, que já está no Canadá, Estados Unidos e em outros países da América Latina.

É responsabilidade da escola preparar as crianças e jovens para o mundo, com uma visão ampla das oportunidades, dos desafios e de como enfrentá-los com coragem e brilho no olho. Essa interação irá contribuir para resolução de problemas e inovações no ambiente de pesquisa e estudo, em casa, no trabalho e no país. Abrindo portas para o mundo, valorizamos também o que temos de bom, compartilhando e aprendendo uns com os outros.

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