Autismo: características e como esses alunos aprendem
Com mais incidências na população mundial, as pessoas com transtorno do espectro autista possuem determinadas formas de se desenvolverem, principalmente no modo de aprender
“Espectro significa que não existe um padrão único. Os autistas podem ser muito diferentes”. A frase é da neuropediatra do Instituto do Cérebro (Inscer), Marta Hemb, que representa muito bem essa forma de viver, que ainda tem muito a ser compreendida, tendo em vista os avanços de diagnósticos e estudos relacionados que mostram o quão é representativo pessoas com o transtorno do espectro autista (TEA). Em 2 de abril, é celebrado o Dia Mundial de Conscientização do Autismo, e o Educação em Pauta traz à tona algumas questões importantes sobre o assunto.
1 em cada 36 crianças de 8 anos são autistas nos Estados Unidos, o que significa 2,8% daquela população. O dado é do Centro de Controle de Prevenção e Doenças (CDC), do governo americano. Entre as principais características do TEA, estão as dificuldades e os atrasos na comunicação. É o que frisa o psiquiatra da infância e adolescência do Centro Especializado em Reabilitação Intelectual e Auditiva (CER II) do Hospital Santa Ana, Pedro Victor Santos.
O médico explica que na comunicação verbal, a criança, até os dois anos de idade, não usa palavras ou emite frases como “me dá” ou “eu quero”, que expressem desejos. Na comunicação não verbal, as crianças apresentam falta de capacidade de se fazer entender e a fazem por meio de gestos, sem direcionar o olhar e sem compreender gestos simples. “Elas usam as pessoas como instrumentos, puxam a mão de alguém para levar até o objeto desejado”, explica.
Outra maneira de perceber é pela comunicação social, o buscar pelo contato com outras pessoas, aceitar a interação ou sorrir de volta. Também tem a dificuldade de compreender essas “deixas sociais” em crianças mais velhas, o que é a chamada “teoria da mente”, por não compreender que seu pensar é diferente.
Quanto às causas que levam ao autismo, o psiquiatra frisa que ainda se sabe muito pouco da origem, mas alguns casos têm relação com o uso de alguns fármacos durante a gestação ou síndromes genéticas.
Estímulos para aprendizagem
Para a pedagoga e coordenadora do Núcleo de Apoio ao Discente (NADi) e do Núcleo de Apoio ao Docente (NAD) da Universidade Luterana do Brasil (Ulbra) de Canoas, Mara Lúcia Salazar Machado, é complexo responder como estimular um cérebro de autista, isso devido a suas individualidades. Por ser também pesquisadora no Trabalho Educacional e Terapêutico com crianças e adolescentes com diagnóstico no TEA na universidade, ela comenta que tem alunos que podem ser tocados, que não gostam do contato “olho no olho”, e outros não. Alguns têm maior dificuldade cognitiva, outros já não a possuem. Tudo vai depender muito caso a caso e a estimulação vai variar.
Desde os anos 1990, Maria Lúcia atende crianças, adolescentes e adultos com autismo, comenta que alguns alunos possuem estímulos visuais, ou seja, é necessário explorar mais recursos de imagens e vídeos em sala de aula. Já aqueles com a audição mais apurada, a estimulação sonora precisa estar mais presente. “As singularidades são infinitas. Cada estudante possui uma forma de estimulação cognitiva. Já os profissionais do ensino precisam acompanhar sistematicamente as necessidades e, se preciso, fazer ajustes nessas orientações”, enfatiza.
A neuropediatra do Inscer, Marta Hemb, comenta que para estimular a reabilitação, quanto mais precoce, mais qualificada será. Normalmente, é feita a terapia ocupacional com integração sensorial, fonoaudiologia, psicomotricidade e fisioterapia.
Ela também sinaliza a terapia ABA (uma ciência cujas intervenções derivam dos princípios do comportamento e possui como objetivo aprimorar comportamentos socialmente relevantes) e método Denver (técnica que promove o desenvolvimento da criança por meio de novos contatos sociais contínuos e prazerosos). “O estímulo é por meio de incentivos nas áreas que têm desenvolvimento falho, que são essas supracitadas”, ressalta.
Incentivos ao contato social
O neurologista Infantil e neurofisiologista clínico do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), Josemar Marchezan, destaca que é recomendado que uma criança autista não fique isolada em casa, que ela vá até uma praça e, se tiver em idade escolar, que frequente o colégio. “Existe até melhoras das suas habilidades. Funciona melhor a interação criança com criança do que com um adulto”, complementa.
Marchezan comenta que tem pacientes do espectro Nível 1 que são os melhores em sala de aula. Já atendeu crianças com dois anos de idade, que ainda não falam, mas já estão alfabetizadas. O hiperfoco permite saber mais que os seus colegas.
“A dificuldade vai ser em entender algo que é solicitado em grupo. Se uma professora falar ‘abram o livro na página 75’, eles não vão entender. Mas se falar ‘João, abra a página 75’, a compreensão será feita prontamente. São pequenas sutilezas a serem realizadas”, menciona.
Já para o Nível 3 se faz necessário um ensino totalmente estruturado. Os autistas precisam ter bem estabelecidas suas rotinas, saber o que vai ocorrer, ter uma sequência lógica.
Para a psicopedagoga Camila Fumagalli Eichenberg, o contato social é muito importante, no entanto, estimular esse convívio pode ser desafiador e demanda atenção de quem promove a interação. Para isso, ela aponta que é preciso observar as questões sensoriais e a própria dificuldade de interação que faz parte do diagnóstico.
O autista pode não querer socializar e sua vontade deve ser levada em conta. “Para os adolescentes e os adultos pode ser interessante um grupo de habilidades sociais, mas é imprescindível a vontade de participar”, pontua.
Já a coordenadora do NADi e do NAD da Ulbra ressalta que o contato social necessita de cautela e bom senso. Maria Lúcia comenta que, profissionalmente, gosta de estar in loco para orientar melhor os professores.
Ela relata que uma aluna, que a acompanha constantemente, precisa fazer reuniões com os professores, os quais a atendem. As orientações são para que não aconteçam riscos a esse tipo de pessoa, organização e relações interpessoais diferentes. “É preciso ter uma rede de apoio para que essas orientações aconteçam de forma singular e uma instrumentação dos docentes da melhor maneira para interagir”, diz.
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