Leitura na infância: a importância de desenvolver hábitos com os livros
Profissionais de várias áreas fazem reflexões e sugerem estratégias para estimular as crianças a se tornarem adultos que tenham prazer em ler
Fábulas, contos, lendas… existe um amplo universo para ingressar no mundo da leitura desde os primeiros anos de vida. Esse objeto tão importante no desenvolvimento intelectual conta, em 2 de abril, com a celebração do Dia Internacional do Livro Infantil. Para isso, o Educação em Pauta traz reflexões sobre os hábitos de leitura na primeira infância.
Esta interação dos mais novos com o livro é representativa no Brasil. A faixa etária dos 5 aos 10 anos de idade é o perfil com maior frequência de consumo de livros de literatura, independentemente do suporte. Essas crianças representam 23% de toda a população e costumam ler diariamente ou quase todos os dias por vontade própria.
Estes dados constam na última edição da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, realizado pelo Instituto Pró-Livro (IPL), em parceria com a Associação Brasileira de Livros e Conteúdos Educacionais (Abrelivros), a Câmara Brasileira de Livros e o Sindicato Nacional dos Editores de Livros (Snel).
Ainda bebê, o livro pode estar presente. Aquele de plástico, que vira brinquedo na hora do banho, é uma forma de ter o primeiro contato com a leitura. A professora do curso de Pedagogia da UniRitter, Vanessa Kopp, comenta que somente o fato de manipulá-lo possibilita reconhecer um livro, tornando o ato de ler algo natural. “É importante que a família leia para as crianças, pois vão se apropriar das histórias. Quando são capazes de uma comunicação verbal, podem fingir que estão contando a mesma história”, salienta.
Na escola, ela acredita que os professores, ao contarem histórias com estímulos visuais, como dedoches, ampliam as chances de criar futuros adoradores de livros. “Além disso, as visitas à biblioteca e a interação com quem trabalha nesse ambiente deve formar um leitor efetivo”, salienta.
A professora da UniRitter destaca que é importante montar uma rotina para as crianças. Ter uma programação semanal que tenha, por exemplo, dois dias de leitura digital e dois de livros analógicos. “Esse hábito vai se perpetuar na adolescência e na vida adulta”, comenta.
Quanto ao letramento literário, Vanessa frisa que é importante que as crianças tenham a percepção da origem do autor, o que ele já escreveu, o que traz de outros escritores. Bem como provocar interatividades, é importante ressaltar a relação dos textos com o cotidiano, com matérias jornalísticas, com músicas, ou seja, entender os contextos que os conteúdos foram escritos.
Outro fator fundamental é respeitar os interesses de leituras dos pequenos. “Dessa maneira, é possível alternar com outros tipos de conteúdos para ampliar a formação”, enfatiza.
Acostumada com o dia-a-dia escolar, a coordenadora de Língua Portuguesa do Ensino Fundamental e Anos Iniciais do Colégio Rio Branco, de São Paulo, Elody Nunes Moraes, ratifica que ao combinar a escrita com fotos, ilustrações, sons variados, falas, músicas, gestos e movimentos, os alunos se aproximam de uma linguagem mais contemporânea, típica da era digital que vivemos, construindo sentidos e dialogando com outras formas de expressão.
Ao compreender as relações entre palavras, imagens e sons, os estudantes estarão desenvolvendo outras competências que os ajudarão a compreender melhor o mundo em que vivem. “Nesse sentido, incentivar a leitura de livros físicos e digitais com recursos multimodais, pode ser uma forma de ajudá-los a se transformarem em usuários competentes da língua, além de aguçar o prazer pela leitura”, salienta.
Na visão de um escritor
Autor de obras para o público infanto-juvenil, o escritor Antônio Schimeneck comenta que a literatura ajuda a elaborar o processo de humanização. “A leitura desde a infância é tão imprescindível. As narrativas literárias não estiveram presentes nessa primeira fase da minha vida. Foi só na entrada da adolescência que, em uma biblioteca escolar, comecei a trilhar os caminhos das palavra”, relata.
Ao escrever suas obras, ele comenta que procura criar para o “Antônio criança” e para “o Antônio jovem”. “Assim, permaneço fiel ao sonho e à fantasia, elementos que permitem olhar para o real com alguma esperança”, diz.
Livros digitais e suas possibilidades
Os livros digitais são de fácil acesso e, em alguns casos, constituídos de novos recursos que ajudam na promoção do gosto pela leitura. É o que sinaliza a CEO da Elefante Letrado, Mônica Timm de Carvalho. A plataforma digital de leitura foi criada para estudantes do Ensino Fundamental 1 e, em seus próprios registros, conta com mais de 10 milhões de livros lidos.
Mônica comenta que o resultado do contato de crianças com bibliotecas digitais tem sido a mais rápida formação do hábito da leitura, sem qualquer perda de interesse pelos livros físicos.
Ela ainda sinaliza que para ler textos em movimento, como ocorre quando se interage em mídias digitais, se mobiliza habilidades distintas daquelas que são empregadas ao ler textos parados e impressos. “Assim, uma pessoa só estará plenamente integrada à vida no século 21 quando ela conseguir ler, com competência, textos impressos e digitais, que exigem tanto um processamento linear quanto uma leitura eventualmente permeada por hiperlinks”, frisa.
Projeto Meu Primeiro Livro
No “Projeto Meu Primeiro Livro”, os estudantes do 4º ano do Colégio Anchieta, de Porto Alegre, escrevem poesias autorais e ilustram com desenho. Quando os estudantes passam para o 5º ano, esta atividade se transforma em um livro impresso, com direito a lançamento e uma sessão de autógrafos, que é realizada durante a Semana Literária e Cultural do colégio.
O objetivo dessa ação é possibilitar às crianças o conhecimento de textos poéticos, levando-as à motivação e interesse para ouvir, ler e escrever poesias, bem como, praticar ações leitoras com outros tipos de textos. “Os alunos escrevem muito e produzem uma narrativa com início, meio e fim. A poesia é mais complexa de se elaborar e possibilita expressar sentimentos”, salienta a coordenadora do Serviço de Orientação Pedagógica do 4º e 5º Ano do Colégio Anchieta, Adriana Bassi.
A metodologia aplicada visa relacionar e conhecer poemas diversos, sensibilizar os alunos para uma observação mais apurada dos elementos com as quais as palavras se entrelaçam em uma poesia, oportunizar o acesso à linguagem poética e expressar suas emoções criando seus próprios poemas.
Também proporciona ao estudante, por meio da oralidade, leitura e escrita, ampliar sua capacidade comunicativa e sua inserção no espaço em que vive, tornando-o um aluno mais motivado, mais participativo e mais questionador, ampliando suas possibilidades de aprendizagem.
Lançados anualmente, já são mais de 15 livros impressos. Durante o período da pandemia, duas publicações ganharam versões digitais: Poema em Tempos de Pandemia e 130 Anos em Versos.
Em alguns poemas, os estudantes expressaram o quanto adoram os livros:
Biblioteca!
por Marina Torres Kalil
Na biblioteca, quando leio
Um livro, fico a pensar
Se eu estivesse na história
Fico sempre a imaginar.
Biblioteca tem histórias
Tem conto de fadas, tem ação,
Tem mistério, tem poesia,
E muita emoção.
Tem centenas de livros,
Com diversos assuntos.
Me perco entre eles,
Quero ler todos juntos.
O que eu acho legal
por Leonardo André da Silva
Nos passeios eu aprendi
Sobre os imigrantes
Italianos e alemães
Grandes viajantes
Na aula pela História viajei
Sobre açorianos e africanos estudei
Na biblioteca eu mergulhei
No livro tem tanto conhecimento
Que as ideias entram como vento
No pátio eu brinquei
No escorrega e gira-gira
E muitos amigos conquistei.
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