A Educação Infantil e a Tecnologia: articulação e possibilidades

Glauce C. P. Bencke 
Coordenadora Pedagógica da Educação Infantil do Colégio Marista Rosário

Patrícia Cavedini
Mestre em Informática na Educação e Professora de Tecnologias da Educação Infantil do Colégio Marista Rosário

Discutir as práticas educativas envolve, cada vez mais, mapear o uso de tecnologias na articulação das intencionalidades pedagógicas. Por isso, faz-se necessário problematizar as formas com que cada escola vem tratando desse tema, que vai muito além do seu aparato tecnológico. Tomamos como base, a tecnologia como aliada na articulação das possibilidades que corroboram para o desenvolvimento cognitivo das crianças para que elas possam aprender de forma prazerosa e criativa, levantem suas hipóteses e experimentem alternativas para resolver os problemas do cotidiano. 

Na Educação Infantil, essa experimentação relaciona-se diretamente às curiosidades manifestadas na infância. É no brincar e na descoberta do trabalho coletivo entre os pares, que as crianças experimentam diferentes vivências. Por meio de propostas que circundam a curiosidade dos estudantes, eles exercitam novos fazeres, saberes e pensamentos, agregando à imaginação, os conhecimentos e os valores que perduram por muito tempo. A brincadeira, nessa perspectiva, parte da sensibilidade e da entrega, envolve organização do pensamento na medida em que a criança delimita regras, atua em diversos papéis, brinca de faz-de-conta, cria e recria cenários, estabelece associações consigo mesma, com o outro e com o mundo. 

Nesse contexto, a linguagem tecnológica pode ampliar as formas de conhecer, de se relacionar com o mundo e com as pessoas, provocando o exercício da criatividade tanto coletiva quanto individual. Ao fazer uso das possibilidades analógicas e virtuais interativas, as crianças encontram novas maneiras de socializar e construir conhecimentos.

Na Educação Infantil Marista, a aprendizagem se dá por meio de projetos originados da curiosidade dos estudantes, os quais valorizam o protagonismo das crianças, oportunizam vivências e experiências significativas, em que podem desenvolver a convivência, o brincar, o conhecer e o conhecer-se, além de proporcionarem a construção de conhecimentos, noções matemáticas, ampliação de vocabulário, desenvolvimento da criatividade, da imaginação, do levantamento de hipóteses e do trabalho em equipe, entre tantas outras.

Um exemplo disso, no Colégio Marista Rosário, foi o projeto desenvolvido pelas crianças de 5 anos, da Educação Infantil, no qual as aprendizagens foram apresentadas através do Minecraft Education, plataforma digital baseada em jogos que trabalha o aprendizado criativo. A iniciativa levou o troféu Bronze da categoria Estudante Protagonista do Prêmio Inovação SINEPE/RS 2022. 

A investigação iniciou a partir do questionamento e levantamento de hipóteses sobre animais, que, posteriormente, deram vida ao projeto “Que bicho é esse?”. Ao final dessa primeira investigação, as crianças se depararam com um novo desafio: pensar nas possibilidades de preservação dos animais em locais com grande fluxo de automóveis. Então, ao terminarem a pesquisa, experimentações e registros, os estudantes criaram, de maneira colaborativa, seu mundo virtual ideal. Refletindo sobre o que foi aprendido nas atividades, a turma construiu uma ponte ecológica, que possibilitou aos animais transitar livremente pela rodovia, estabelecendo um convívio harmônico entre natureza e ser humano.

Esse projeto revelou, em sua metodologia, o sentido da tecnologia como ação interdisciplinar, de modo a fazer da teoria a reflexão da ação, baseando suas experimentações a partir de um olhar múltiplo sobre o tema investigado. Reconhecendo sua complexidade como uma rede onde tecemos conhecimentos, nos permitiu transitar por diferentes linguagens na criação do diálogo permanente com a tecnologia.

Para compor um cenário produtivo, criativo, lúdico e intelectual, a tecnologia, juntamente com as práticas pedagógicas, utiliza do raciocínio lógico, da matemática, dos jogos e de diversos materiais que se aliam para constituir um processo educativo de qualidade e excelência.

A tecnologia desplugada pode ser uma forma de ensinar computação por meio da utilização de dispositivos não eletrônicos – como jogos de tabuleiro e brinquedos educativos –, aspecto que a diferencia da forma plugada. Ambas estimulam e potencializam inúmeras habilidades e processos, como o desenvolvimento cognitivo, o trabalho em equipe, a tomada de decisões, a resolução de problemas, a testagem de hipóteses, a criatividade e o raciocínio lógico da criança. Demarcamos, assim, o quanto a tecnologia alia-se às práticas desenvolvidas pela Educação Infantil, articulando a relação que a criança estabelece com o conhecimento, com o outro e com o mundo. Por isso, os espaços devem cada vez mais, ser pensados e organizados para proporcionar aos estudantes momentos que incentivam a imaginação, a criatividade, a interação, a descoberta, a autonomia e o protagonismo.​​​ As tecnologias proporcionam inovação e conhecimento, utilizando-se dos jogos plugados e desplugados, do pensamento computacional, da robótica educativa e da aprendizagem criativa como ponte facilitadora para a complementação das investigações no cotidiano da escola.

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