Os caminhos para uma educação infantil preventiva

Segundo psicopedagoga Márcia Delatorre, para conseguir qualificar a Educação Básica por meio de práticas preventivas, é preciso aprimorar a formação profissional

imagem: Freepik

Márcia Delatorre

Psicopedagoga Clínica e Institucional e especialista em Psicologia Escolar

Conforme dados do Ministério da Saúde, os primeiros anos de vida, chamados de “primeiríssima infância”, são fundamentais para o desenvolvimento infantil. Esse ciclo precisa ser garantido de forma ampla e saudável a partir de cuidados integrais para, assim, proporcionar o alcance do pleno desenvolvimento, conforme proposto pela Organização Mundial de Saúde (OMS), pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e pela Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Criança (PNAISC).

A educação infantil compreende a etapa mais importante do desenvolvimento humano. No entanto, sendo a primeira etapa da Educação Básica, ainda está em desenvolvimento no que se refere a qualificação da formação profissional.

Vivemos uma realidade sem volta: a inclusão. Hoje temos leis que asseguram direitos a todas as crianças que apresentam problemas no seu processo de aprendizagem. O Plano de Desenvolvimento Individualizado (PDI), por exemplo, é um documento elaborado pelo professor que precisa dar conta de traçar estratégias que ajudem a criança em seu desenvolvimento integral. 

Outro fato importante que vem sendo muito discutido é que embora tenha havido mudança nos critérios diagnósticos, segundo dados divulgados em março de 2023 pelo CDC (Centro de Controle de Doenças) do governo dos EUA, os casos de autismo são de 1 para cada 36 crianças. Diante disso, podemos pensar numa pedagogia típica e atípica, capaz de elaborar ações alinhadas aos direitos da criança e da promoção da saúde.

A base da criança é a família, e essa também mudou. Temos uma ampla gama de configurações familiares que precisam ser conhecidas, compreendidas, respeitadas e acolhidas em sua singularidade para que, de fato, sintam-se pertencentes e incluídas pela segunda instituição mais importante da vida da criança: a escola.

Os Conhecimentos, Habilidades e Atitudes (CHA) dos gestores educacionais e educadores já estão em processo de mudança por conta dessas transformações sociais, dos avanços tecnológicos, da contribuição da neurociência à aprendizagem e, é claro, da Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Tudo isso com o propósito de conhecer cada criança e sua história, o desenvolvimento infantil e seus marcos, bem como o comportamento e suas funções para o melhor acompanhamento da trajetória de aprendizagem.

Pensando nisso, adotar práticas de gestão que visem a capacitação e o desenvolvimento de profissionais em educação com ênfase em ações corretivas e preventivas pode ser uma forma de garantir a qualidade e ainda um diferencial competitivo.

Algumas dicas:

– Quanto à estrutura das escolas, é importante lembrar que salas lindamente decoradas com móveis, brinquedos, jogos e livros incríveis, não são suficientes para qualificar o trabalho desses profissionais para trabalharem com uma mente pedagógica de décadas atrás. Afinal, educação infantil é corpo, e por isso  brincar disponibilizando ele em sua plenitude é fundamental para o desenvolvimento psicomotor, cognitivo, emocional, social e da comunicação. 

– Sobre o processo de avaliação, vale lembrar que projetos e portfólios encantadores e poéticos que emocionam as famílias precisam sobretudo legitimar o desenvolvimento da criança.

– Relatar os processos e descrever o que está sendo observado como forma de preservar dados importantes do processo de aprendizagem, bem como sirvam também como possíveis sinais de alerta de atrasos no desenvolvimento.

– Para prevenir é fundamental compreender que nem famílias, nem educadores estão preparados para lidar com a neurodiversidade. Afinal, temos modelos mentais pré-concebidos das nossas crianças e não é nada fácil lidar com o desconhecido. Por isso, se faz necessário falar sobre isso de uma forma delicada e empática na formação de professores e nas reuniões de pais, como forma de mostrar que a detecção precoce por parte da escola é fundamental para o encaminhamento aos profissionais especializados da educação e saúde, em virtude de que a precocidade da investigação aprofundada e estimulação precoce resultará em benefícios para um melhor prognóstico.

Para conseguir qualificar a educação infantil através de práticas preventivas  será necessário mudar as concepções cristalizadas, afinal ela é a primeira etapa da Educação Básica. A ela se aplica a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que norteia as escolas quanto às competências e habilidades a serem trabalhadas. Embora não seja o currículo, é a base para construir o mesmo, compreendendo os direitos de aprendizagem com uma prática educativa acolhedora, respeitosa e inclusiva.

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