Além das palavras: os benefícios da relação entre bilinguismo e neurociência
Metodologia Systemic Bilingual é pioneira no Brasil e é baseada em estudos de linguística aplicada, pedagogia, psicologia e neurociência
Ser fluente em um segundo idioma é, sem dúvida, algo que destaca um estudante não apenas nos processos de aprendizagem, mas também na preparação para o mercado de trabalho e para o Ensino Superior. No Brasil, o interesse por instituições de ensino que oferecem uma educação bilíngue está crescendo.
De acordo com dados divulgados pela Associação Brasileira do Ensino Bilíngue (ABEBI) a quantidade de escolas bilíngues cresceu cerca de 10% entre 2014 e 2019, e hoje existem mais de 1,2 mil escolas neste modelo no país. Tais números chamam a atenção também para a relação do bilinguismo com a neurociência, área que estuda os comandos e as funções do cérebro e aponta os benefícios de dominar mais de um idioma.
“Tão importante quanto produzir o conhecimento científico é aplicá-lo com eficácia para gerar resultados melhores do que aqueles que se obtinham antes e, assim, conseguir evoluir. Há, portanto, a necessidade de uma espécie de ‘tradutor’ da teoria para a prática, que às vezes se chama de ‘método’, para se ter uma prática bem-principiada, ou seja, cientificamente bem-embasada. Já há livros e cursos disponíveis que mostram como aplicar a neurociência na prática”, explica Vanessa Tenório, mestra em Educação pela Universidade de Bath, na Inglaterra e especialista em neurociência e comportamento pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS).
Vanessa é coidealizadora da Systemic Bilingual, primeira metodologia de educação bilíngue no Brasil, e afirma que existem muitas definições acadêmicas para o bilinguismo. Segundo o professor francês Françoise Grosjean, as palavras “bilíngue” e “bilinguismo” possuem significados diferentes, dependendo do contexto em que são utilizadas. Elas podem significar tanto o conhecimento e o uso de dois ou mais idiomas, a apresentação de informações em duas línguas, a necessidade de duas línguas ou o reconhecimento de duas línguas. Independente do significado, o que a ciência afirma é que, quanto antes o aluno é inserido em uma abordagem bilíngue de ensino, mais natural e efetivo torna-se o seu aprendizado.
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“Como as crianças ainda não têm noção das funções de uma língua, desde que o ambiente seja acolhedor e as atividades sejam interessantes, elas mergulham na proposta. Além disso, as conexões entre os neurônios estão acontecendo a pleno vapor. Ou seja, em nível cerebral, as condições são altamente propícias para o desenvolvimento da linguagem e de outras habilidades”, conta Vanessa.
Por meio de exames como ressonância magnética, a neurociência tem identificado mais evidências sobre os impactos do bilinguismo nos jovens estudantes. Vanessa destaca que estudos demonstram em crianças bilíngues uma ativação, diferente e mais abrangente, de áreas relacionadas não apenas ao processamento da linguagem, mas também à atenção, às funções executivas, ligadas ao córtex pré-frontal, e outras áreas do cérebro, sugerindo uma superioridade no processamento cognitivo e linguístico em relação aos estudantes que trabalham com apenas um idioma em seus processos de aprendizagem.
Apaixonada pelo tema, Vanessa criou, junto com a irmã Fátima, em 2002, o Systemic Bilingual, que inicialmente foi aplicado na escola de idiomas que as duas mantinham. Insatisfeitas com o resultado dos alunos, que era bem abaixo do esperado em termos de comunicação real e fluência, apesar do uso do que havia de mais moderno no mercado de material didático e abordagem pedagógica, as duas resolveram aprofundar os estudos da Second Language Acquisition, uma disciplina dentro da Linguística Aplicada, com o objetivo de encontrar uma abordagem mais eficaz.
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“Foi então que nasceu o Systemic Bilingual, baseado em uso de conteúdos escolares de disciplinas diversas para desenvolver o inglês e os conteúdos de maneira integrada e concomitante. “Criamos tanto a metodologia quanto o material didático para colocar essa abordagem em prática. Assim que começamos a pilotar essa nova proposta metodológica em nossa escola, ficamos impressionadas com os resultados que apareceram rapidamente. Por tudo isso, ressaltamos que, no Systemic Bilingual, nós não damos aulas de inglês, nós educamos em inglês”, ressalta Vanessa.
Esse tipo de abordagem, integrando língua e conteúdo, começou a ser sistematizada e aplicada no Canadá nos anos 1960 e ficou conhecido como Canadian Immersion. Com os bons resultados obtidos, pesquisadores das áreas de Linguística Aplicada e de Psicologia de universidades canadenses começaram a desenvolver trabalhos sobre esse tipo de abordagem. Na década de 1980, surgiu, nos Estados Unidos, o Content-Based Instruction (CBI) uma abordagem semelhante, baseada nas mesmas premissas. Na década de 1990, na Europa, foi desenhada a abordagem Content and Language Integrated Learning (CLIL). Esses tipos de abordagem, de acordo com Vanessa, são descrições diferentes para o processo de Educação Bi/plurilíngue, que tem como objetivo educar e instruir os alunos em pelo menos dois idiomas.
Mais do que favorecer a aquisição de uma língua adicional de forma mais ágil e coordenada com as necessidades e habilidades de cada aluno, os métodos também demonstram que outros pontos do desenvolvimento das crianças são expandidos a partir dessa abordagem.
“Pesquisas também apontam para aspectos como maior flexibilidade e adaptabilidade a contextos diversos em termos de língua e cultura e maior capacidade para entender regras gramaticais e interpretar textos em alunos bilíngues”, finaliza Vanessa.
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