Alunos criam ações para ajudar colegas de aula e comunidade
Premiada como ouro na categoria Estudante Protagonista do Prêmio Inovação SINEPE/RS 2023, iniciativa tem planejamento e desenvolvimento de estudantes do Colégio Santa Clara
Há cerca de dez anos, o Centro de Educação IDEAU – Colégio Santa Clara, da cidade de Getúlio Vargas, tem potencializado o protagonismo estudantil. O foco tem sido em abrir mais espaço para que os alunos se desenvolvam, criem e liderem projetos. Com esse viés, surgiu a iniciativa “Rede de apoio em… luz, câmera, protagonismo e ação!” que alcançou grandes resultados. Tanto é que foi ouro na categoria Estudante Protagonista do Prêmio Inovação SINEPE/RS 2023.
Conforme enfatiza o diretor do Colégio, Ivonei Fabiano Grolli, a ideia é que os estudantes não sejam meramente reprodutores de conteúdos, mas sim construtores e criadores. “Depois da pandemia, eles sentiram a necessidade de querer se engajar mais. Outros não sentiam segurança em vir até o colégio. Foi então que um pequeno grupo começou a se organizar e apoiar seus colegas”, recorda.
>> Confira o vídeo de apresentação do projeto na Defesa Pública do Prêmio Inovação SINEPE/RS
Em 2022, o colégio comemorou o seu centenário. Segundo lembra a coordenadora pedagógica da Educação Infantil e Anos Iniciais, Caroline Tonin Cadorin, houve uma construção de várias atividades para ressignificar a história da instituição. “Os estudantes dos sétimo e oitavo anos procuraram a direção e as coordenações do colégio e perguntaram: O que podemos fazer? Como é que podemos buscar nossos colegas que não querem vir à escola? Como dar apoio emocional para eles?”, diz.
Já em 2023, a rede de apoio ficou mais estruturada, sendo totalmente vinculada ao âmbito educacional e pedagógico da escola. Dos 450 alunos do colégio, 50 estão participando desta ação. São estudantes que estão desde o segundo ano até o nono ano do Ensino Fundamental. A cada semestre, eles recebem uma formação com uma orientadora educacional que aborda questões de conduta e postura.
Estes alunos atuam no contraturno e, quinzenalmente, fazem uma reunião para programar suas atividades, sendo alinhadas a partir das demandas transmitidas pela direção e pela coordenação do colégio. Após isso, os jovens apresentam o que vão desenvolver aos mesmos. “Tem uns que gostam de atividades sociais, outros mais pedagógicas. Eles atuam em áreas em que têm mais interesse”, pontua o diretor.
Cultura da paz entre outras ações
Datas e meses simbólicos costumam ter atividades, como o Outubro Rosa e o Novembro Azul. No entanto, uma grande campanha foi criada: a cultura da paz. A rede de apoio realizou conversas nas turmas, engajando os jovens na escola, como também produziram vídeos que foram enviados aos seus pais. Além disso, a ação foi para as ruas. “Fitas brancas foram entregues para as pessoas. Houve uma semana em que eles colocaram uma mensagem nos para-brisas de vários carros que estavam nos arredores do colégio”, comenta Caroline.
Outra atividade foi a inauguração de um novo espaço de um lar de idosos. Em semanas anteriores, os alunos haviam ido até o local para fazer pintura de quadros com os idosos. “Depois disso, os responsáveis pelo lar nos ligaram no dia dessa inauguração e pediram para que os estudantes que atuam na rede de apoio fossem lá para expor os quadros juntamente com eles”, lembra.
Atitudes como essas chamaram a atenção de outras entidades da cidade, as quais estão fazendo convites à rede de apoio do colégio. Para a coordenadora pedagógica dos Anos Finais e Ensino Médio, Beatriz Menegaz, esse reconhecimento é algo fundamental na vida destes jovens. “Quando a gente tem essa iniciativa de apoio, percebemos quanta gente tem que pertencer à escola e o quanto eles querem fazer diferença aqui dentro. Eles estão sempre dispostos a ajudar no que for preciso. Contribuir com as habilidades que possuem, bem como desenvolver outras também”, ressalta.
Engajamento de crianças e adolescentes
A rede de apoio envolve todas as idades. Segundo o diretor do colégio, os mais pequenos, que estão entrando no Ensino Fundamental, já demonstram interesse em se inscrever. “Eles adoram, porque querem estar envolvidos, aprender com os alunos mais velhos. Lembro de um estudante do terceiro ano do Ensino Fundamental, que contribuiu com uma turma do maternal 2. Ele estava feliz ajudando as crianças, brincando com elas”, diz.
Já os jovens que estão concluindo a sua passagem pelo colégio, o fato de se envolver com a rede de apoio vem ao encontro do que é proposto no novo Ensino Médio e seus itinerários formativos. “Percebemos que eles dão um jeitinho de participar, seja na hora do intervalo ou logo depois das suas aulas, se colocando à disposição. Eles fazem questão de atuar”, sinaliza Beatriz.
Essa empolgação é evidente entre os jovens. Para a aluna do sexto ano do Ensino Fundamental, Júlia Albarelo essa experiência está sendo fantástica. “Todos nos sentimos mais valorizados, escutados e acolhidos. Estar em contato com outros estudantes sabendo que você está fazendo a diferença na vida de alguém é um sentimento incrível”, comenta.
Para Louise Comarella Serafini, do sétimo ano, é “um verdadeiro oásis” a rede de apoio. “Aqui é onde nutrimos e somos nutridos pelas relações das redes que se tecem das mais diversas formas”, ressalta.
Já Emanuelli Regauer, do nono ano, reforça que os estudantes não são protagonistas somente do presente, mas sim da história do colégio. “Esse projeto ajuda a estimular e construir com sabedoria nosso projeto de vida, fazer cada um identificar suas virtudes e fortalezas”, complementa.
E o que vem por aí?
O desejo do diretor do colégio é que esse grupo se mantenha com esse nível de interesse e energia. Muitas atividades de 2023 podem ser repetidas para o ano que vem, mas claro, com algumas modificações, sendo, um exemplo, a campanha da cultura da paz. “A ideia é seguir dando espaço para que os estudantes possam desenvolver novas propostas e atividades. A rede de apoio deu uma vida muito diferente aqui para o nosso colégio”, celebra.
Em 2024, Caroline adianta que a rede de apoio será exposta para outros educadores da região. “Algumas escolas do município estão querendo saber como é que ocorre esse nosso projeto. Eles querem fazer algo semelhante”, comenta.
No entanto, para ela, a rede de apoio tem um valor muito importante: a inovação. “O ato de mudar, transformar, fazer algo diferente, a atitude, o pensamento, as relações. Esses são os eixos principais para inovar”, conclui.
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