A Inteligência Artificial na prática dentro da sala de aula

Especialista destaca a importância da formação digital de professores e também fala sobre questões éticas no uso de ferramentas tecnológicas

por: Bianca Zasso | bianca@padrinhoconteudo.com
imagem: Freepik

Foi-se o tempo em que uma lição de casa exigia uma mesa repleta de livros para pesquisa. O peso dos calhamaços deu lugar a equipamentos menores e mais leves, como celulares e tablets, capazes de realizar tarefas que levariam horas em apenas alguns minutos graças às inúmeras ferramentas de Inteligência Artificial disponíveis, como o ChatGPT

Uma pesquisa realizada pelo Google, em parceria com o Educa Insights, apontou que três em cada 10 estudantes brasileiros já utilizaram ferramentas de Inteligência Artificial(IA). O mesmo estudo apontou que 73% dos alunos esperam que as instituições de ensino invistam tempo e dinheiro nesta e em outras tecnologias. O resumo é simples: a IA já está presente no cotidiano de muitas salas de aula, mas ainda são muitas as dúvidas sobre seus benefícios para a aprendizagem. Ademar Celedônio, professor e diretor de ensino e inovação do SAS Educação acredita que a IA pode trazer dinamismo para o ambiente escolar. 

“Para os estudantes, chatbots como o ChatGPT podem responder a perguntas de forma rápida, oferecendo acesso imediato a informações e ajudando a compreender conceitos difíceis. Para os professores, a IA pode auxiliar respondendo a perguntas comuns dos alunos, liberando tempo para atividades de ensino mais aprofundadas. Além disso, essas ferramentas podem personalizar o aprendizado, fornecendo planos de estudo sob medida, materiais adaptados e feedback específico para que os estudantes progridam no próprio ritmo”, explica o professor. 

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No que diz respeito à preparação de aulas, Celedônio orienta que os professores podem utilizar a IA para criar materiais didáticos, elaborar planos de aula e gerar atividades de avaliação. A exposição precoce dos alunos à IA faz com que eles se familiarizem com ferramentas que devem fazer parte de suas futuras carreiras, um das habilidades cruciais para o século XXI. Mesmo com tantas possibilidades animadoras, os desafios também existem quando se fala de Inteligência Artificial na sala de aula. Entender como ela funciona é um ótimo primeiro passo. Para alunos e para professores.

“A educação digital é fundamental para ensinar alunos e professores a usarem a IA de forma crítica e ética. A integração consciente da IA no currículo pode apoiar e complementar o aprendizado. Por fim, envolver pais e a comunidade nas discussões sobre IA pode criar um ambiente mais colaborativo e consciente do impacto dessas tecnologias”, esclarece. Na prática, trazer ferramentas de IA para as aulas deve ser algo pensado pelo educador e nunca uma alternativa que o aluno pode ou não utilizar para realizar suas atividades. Com a proposta bem elaborada, o resultado é uma pesquisa de mais qualidade e o acesso a informações mais precisas, sem esquecer do olhar crítico. 

“Há o risco de os estudantes se tornarem excessivamente dependentes da IA, utilizando-a como um atalho em vez de desenvolverem habilidades de pensamento crítico e resolução de problemas. A qualidade da informação fornecida pela IA pode conter erros ou simplificações, sendo necessário que alunos e professores avaliem criticamente as respostas fornecidas. Questões éticas, como plágio, também podem surgir devido à facilidade com que os chatbots geram conteúdo, exigindo que as instituições educacionais estabeleçam diretrizes claras sobre o uso dessas ferramentas”, informa. 

Transformação radical na aprendizagem

Estabelecer políticas claras de uso para ferramentas de IA é fundamental para que a integração desses dispositivos seja proveitosa. Celedônio desta que é preciso definir regras específicas sobre os momentos e os modos como os dispositivos podem ser utilizados, garantindo que seu emprego seja focado em objetivos educacionais. “Por exemplo, os professores podem permitir o uso durante atividades que integrem aplicativos educacionais, enquanto restringem o uso em momentos que demandam maior interação pessoal ou discussões em grupo. Isso ajuda a manter o foco dos alunos e a minimizar distrações”,  sugere o professor. 

O monitoramento contínuo e a avaliação regular do uso dessas tecnologias também são essenciais para compreender seu impacto no aprendizado. Professores e gestores escolares devem revisar como os dispositivos e a IA estão sendo incorporados às aulas e se estão contribuindo efetivamente para os objetivos educacionais. Isso pode incluir coleta de feedback dos alunos sobre suas experiências e ajustes nas práticas conforme necessário para melhorar o engajamento e o desempenho.

“O treinamento adequado dos professores é fundamental. Eles precisam estar bem versados não apenas no uso técnico dos dispositivos e aplicativos, mas também em estratégias pedagógicas para integrar efetivamente a tecnologia ao currículo. Esse treinamento deve cobrir as melhores práticas para manter os alunos engajados e assegurar que o uso da tecnologia agregue valor ao aprendizado”, orienta o professor. 

Ao integrar a IA na educação, é possível criar um ambiente mais adaptativo, interativo e inclusivo, que atende às necessidades individuais dos estudantes e enriquece as práticas pedagógicas. Celedônio acredita que a IA tem potencial para transformar radicalmente os processos de aprendizagem e muito dessa mudança deve-se à possibilidade de personalização do aprendizado. “Sistemas baseados em IA podem analisar o desempenho e o comportamento dos alunos para adaptar o material didático de acordo com as necessidades de cada um. Isso pode incluir ajustar o nível de dificuldade dos exercícios, oferecer recursos adicionais para áreas de dificuldade e acelerar o progresso em tópicos que o aluno domina. Essa personalização mantém os alunos engajados e melhora significativamente a retenção de conhecimento”, comenta o professor. 

A inclusão também pode ser beneficiada pela Inteligência Artificial. Estudantes com deficiência visual podem contar com ferramentas que transformam textos em áudios. Além de facilitar o acesso às informações e materiais, os dispositivos também permitem uma interação maior entre os alunos e, inclusive, uma participação mais intensa na troca com os colegas e professores.

“Plataformas de aprendizado equipadas com IA podem sugerir grupos de estudo ou parceiros de projeto ideais com base nas habilidades e interesses dos alunos, promovendo uma colaboração eficaz e enriquecedora. A IA também pode enriquecer o conteúdo curricular por meio de simulações e visualizações interativas. Essas ferramentas tornam conceitos abstratos mais tangíveis e compreensíveis, facilitando a aprendizagem e estimulando o interesse dos alunos”, finaliza Celedônio.

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