Artes visuais despertam olhar crítico e imaginação nas escolas

Com propostas que incentivam a fruição e a criatividade, linguagem deve estar presente no currículo da Educação Básica

por: Bianca Zasso | bianca@padrinhoconteudo.com
imagem: Gemini

Muito além do ensino de cores e formas, as artes visuais são fundamentais nas escolas para desenvolver o olhar crítico, ampliar repertórios culturais e estimular a criatividade dos estudantes. Para que isso seja efetivo, contudo, é imprescindível integrar o componente curricular uma das linguagens da Arte, conforme previsto na Base Nacional Comum Curricular (BNCC), de forma orgânica, promovendo inclusão, sensibilidade e um aprendizado que dialoga com as demais linguagens: artes visuais, dança, música, teatro e demais componentes. E isso começa pela formação dos professores.

Professora da Licenciatura em Artes Visuais da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Aline Nunes da Rosa aponta que propor essa abordagem da linguagem das artes visuais na Educação Básica de forma transversal é interessante, mas pode ser problemática, visto que muitas instituições não contam com profissionais com formação adequada.

“É essencial demarcar o lugar do componente curricular de arte dentro do currículo escolar, já que muitas vezes ela é considerada menos importante na proposta de algumas instituições”, explica.

Coordenadora do projeto de pesquisa Nomadismos, que aborda estudos e práticas que envolvem arte e educação, a professora e artista também ministra a disciplina Introdução ao Ensino das Artes Visuais, do primeiro semestre da UFRGS. A matéria foca em conceber a educação artística não como uma replicação de técnicas junto aos alunos, mas como um meio de sensibilização, aprendizagem dessas técnicas e compreensão crítica do mundo. Assim, quando os futuros professores chegarem às escolas, poderão usar o conhecimento adquirido para ampliar e diversificar o repertório visual dos estudantes, especialmente desta “geração imersa nas telas e que acaba tendo acesso a estéticas restritas”.

“Embora as redes sociais apresentem novos artistas, é crucial que os futuros professores busquem outras bases de pesquisa para nutrir sua criação e expandir seus horizontes, incluindo artes de cunho decolonial, ameríndias e afro-brasileiras”, orienta Aline, que coordena, dentro do Núcleo de Artes Visuais da universidade, o Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID).

Com acadêmicos cada vez mais jovens chegando ao curso, Aline destaca que a iniciativa fortalece o conhecimento dos estudantes e os incentiva a ocupar o espaço da escola, entendendo a importância das artes na educação básica, especialmente em um cenário de baixa procura por licenciaturas, como o que vive o Brasil.

Para a professora, a arte permite a abertura para o impensado e o inimaginável, um lugar de liberdade que expande o sujeito no mundo, e as instituições devem ter isso em mente ao elaborarem seus currículos.

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Ferramenta para a sensibilidade

Artista e professora do Colégio de Aplicação da UFRGS, Fernanda Bulegon Gassen acredita que as competências exigidas pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC) para os professores de arte vão passar por transformações, especialmente em termos de complexidade. Ela explica que cada etapa do processo de ensino apresenta uma expectativa e uma expressão específica, e que as propostas que envolvem observação, reflexão e elaboração prática vão aos poucos aproximando os alunos de como se constituiu um processo criativo, bem como fornecem ferramentas sensíveis para entender como as obras de arte se colocam na sociedade.

“Quando os estudantes são incluídos em processos de estudo e criação em arte desde os primeiros anos do Ensino Fundamental, as camadas cumulativas dessas experiências não se dissipam”, afirma.

A sensibilidade e a percepção estética, embora subjetivas, são fundamentais para a compreensão do mundo, e as artes visuais podem ser uma ferramenta poderosa nesse desenvolvimento. Fernanda relata sua experiência em um projeto integrado com professoras de música e teatro, onde a colaboração foi a palavra-chave.

“Naquele contexto, fomos compreendendo que viver uma experiência criativa coletiva, a construção de um repertório, e colocar os alunos no interior de um processo criativo, compondo desde a ideia até o momento de colocar um objeto ou acontecimento no mundo, que ainda não existia, é uma forma de ser ferramenta”, explica.

Diante da crescente presença das tecnologias digitais dentro das escolas e na própria vida dos educandos, surge o desafio de incorporá-las ao ensino de artes visuais sem perder a essência da experiência “mão na massa”. Para a professora, essas ferramentas tecnológicas podem integrar planejamentos de aula e podem ter o mesmo espaço que outras manifestações ou técnicas. No entanto, ela alerta que a tecnologia precisa de formação, estrutura física, e contextualização para ser implementada dentro do componente curricular de arte.

“A experiência de fazer no espaço real é essencial. Conseguir criar um objeto novo no mundo, com uma ideia, um papel e um lápis, é poderosíssimo, e nós, como professores, presenciamos isso”.

Com tantos desafios trazidos por quem escolhe o ensino de artes como carreira, Fernanda argumenta que o espaço educacional, muitas vezes, reflete o que artistas vivenciam em relação à valorização da cultura dentro da nossa sociedade. Apesar disso, a professora mantém o foco no trabalho em sala de aula.

“Esse trabalho acontece formando seres abertos para as experiências sensíveis, com olhar em perspectiva, dando espaço para a subjetividade dos estudantes”, sinaliza.

Arte como linguagem essencial

Diante desses apontamentos, as artes visuais, quando presentes de forma estruturada e sensível no currículo escolar, abrem caminhos para que os estudantes desenvolvam criatividade, pensamento crítico e novas formas de expressão. 

Mais do que técnica, elas convidam ao olhar atento para o mundo e ao reconhecimento da diversidade cultural. Cabe às instituições de ensino e aos educadores proporcionar esse espaço, valorizando a arte como parte essencial da formação humana. No final das contas, criar também é aprender a existir com mais liberdade e sensibilidade.


Confira 3 animações que inspiram a criação artística:


O menino e o mundo
Direção: Alê Abreu

Explorando diferentes técnicas de animação, a produção brasileira conta a história de um menino em busca de seu pai. Com imaginação e criatividade, o filme é um convite para pensar como um simples traço pode conter inúmeros significados. Disponível na plataforma Globoplay.




Yellow Submarine
Direção: George Dunning

Unindo as belas canções dos Beatles e um visual psicodélico, o filme é um convite para as possibilidades que as cores e formas podem trazer para o universo infantil. Divertido e repleto de cenas icônicas, pode ser um bom recurso para falar sobre artistas que transformaram a arte na década de 1960. Disponível na plataforma Apple TV.




Tarsilinha
Direção: Cátia Catunda e Kiko Mistrorigo

Inspirados pela grande artista brasileira Tarsila do Amaral, a dupla de diretores experientes no universo infantil apresenta uma aventura de uma menina de 8 anos que, por meio de cores e formas, tenta recuperar a memória de sua mãe em um mundo repleto de perigos e desafios. Disponível na plataforma Prime Vídeo.

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