Professores devem investir na aprendizagem memorável

Especialista Thuinie Daros explica o conceito e mostra como os professores podem implementar ações que despertam o prazer em aprender e fixam o conhecimento de forma indelével

por: Pedro Pereira | pedro@padrinhoconteudo.com
imagem: Arquivo Pessoal

A ciência, em diversas frentes, vem tentando entender e explicar como se dá a aprendizagem para, a partir daí, potencializá-la. Entre as descobertas recentes, principalmente por meio da neurociência, está a importância da emoção para impulsionar a cognição. Por aí passa o processo de entranhar o conhecimento por toda a vida.

Mexer com a emoção é criar momentos inesquecíveis. Daí vem a Experiência de Aprendizagem Memorável, especialidade da pedagoga, palestrante e escritora Thuinie Daros. Em entrevista ao Educação em Pauta, ela explica como é construído esse ambiente para que os alunos se engajem e tenham total atenção ao processo de ensino e aprendizagem.

Thuinie, que também é diretora de planejamento acadêmico da Vitru Educação, cursou mestrado em Educação e MBA em Gestão da Aprendizagem. Essa caminhada ajudou a compreender o que motiva os estudantes e de que forma o professor pode guiá-los por meio de metodologias que façam sentido, aumentando o interesse – o que ela compartilha na conversa a seguir.

Os gestores e educadores do ensino privado do Rio Grande do Sul também terão a oportunidade de aprender mais sobre o tema durante o 17º Congresso do Ensino Privado, entre os dias 19 e 21 de julho. Thuinie Daros sobe ao palco na tarde do dia 19 para falar sobre “Os saberes e as experiências memoráveis da aprendizagem”. As inscrições para o evento estão abertas e têm descontos especiais até o dia 18/06. Saiba mais.

O que são Experiências de Aprendizagem Memoráveis?

Quando a gente fala de memorável, nos referimos a algo inesquecível, célebre, notável, digno de ficar na memória. Quando ofertamos a criação de experiências de aprendizagem memoráveis, queremos dizer que, na prática, o estudante se apropriou do conhecimento a ponto de mobilizá-lo quando precisar utilizá-lo.

Qual o ganho com esse tipo de experiência?

Basicamente, quando a gente fala do exercício da docência, a aprendizagem memorável requer que o professor mude o jeito que organiza e sistematiza a oferta da experiência para o estudante. Para ela se tornar memorável, a gente bebe na fonte da neuroeducação – sobretudo da neurociência contemporânea. 

Para a gente aprender, o cérebro precisa dos inputs, que o professor seja fonte de informação, mas também dê acesso a ela por meio de vídeos, textos, áudios, podcasts. Mas, depois, é fundamental que o estudante faça o processo de output, que é o processamento desta informação.

O primeiro ponto é este: a experiência de aprendizagem memorável vai se basear o tempo todo em input e output. A formação do professor acaba gerando uma experiência diferenciada por conta disso.

Outro benefício é que ela se baseia em três aspectos: o primeiro é ensinar o que é cognitivo, usando inputs e outputs. Depois, utilizar a emoção, o aspecto emocional, porque a aprendizagem passa pelo estabelecimento de vínculos. A conexão não é só afetiva, mas também com tema, interesse e repertório que o aluno já tinha em relação ao assunto. E, por fim, o aspecto relacional, ou seja, como ele se sente no ato de aprender. 

A neurociência vem se aproximando da educação. Qual a importância de entender o funcionamento do cérebro para definir estratégias pedagógicas?

Hoje a gente tem, cada vez mais, olhado para a neuroeducação, porque já significa uma adaptação desse conhecimento sobre como o cérebro funciona, justamente para transformar a maneira de aprender dos estudantes. 

A gente vai pensando sobre o que acontece no cérebro quando ele aprende algo novo, em como ampliar o repertório. Para isso, temos que entender como ele aprende. Quando conheço o funcionamento do cérebro, como ele gera flexibilidade cognitiva, quando ele consegue capturar atenção e foco no engajamento, consigo uma experiência de aprendizagem memorável – lembrando que memorável é aquilo digno de ser lembrado.

Emoção e cognição andam juntas. Onde aparece o sentimento no processo de aprendizagem memorável?

Platão já dizia que todo aprendizado tem uma base emocional. A neurociência mostra que a emoção tem papel fundamental nesse processo. Ela aumenta a motivação, que gera engajamento – e o engajamento, movimentado pela motivação, aumenta a performance cognitiva. Ou seja, a pessoa aprende mais.

Primeiro, é preciso conectar o conteúdo com as experiências pessoais. Trazer perguntas, mobilizar esse pensamento, associando a situações com as quais os estudantes se identifiquem. Movimentar essa emoção – que não é só um sentimento de amorosidade, mas de conexão – com recursos visuais interessantes. Por exemplo: uma imagem que chama atenção, um vídeo curioso, storytelling ou infográfico. Acaba sendo mais atraente e eu me conecto novamente, me emociono, aquilo me toca.

Atividades práticas, mão na massa, trabalhar de forma mais realista, tudo isso aumenta o envolvimento emocional. Colaboração e trabalho em grupo também, eles se sentem pertencentes. Conhecer melhor o outro também pode gerar mais emoção. 

A atenção é um recurso escasso. Para gerar aprendizagem memorável, tenho que ter o componente da emoção, que é isso que garante a atenção, e depois motivação e engajamento.

Como isso se reflete no desenvolvimento e no gosto por aprender?

Quando a gente estimula o cérebro dos alunos, cria conexões neurais que se transformam em memórias duradouras e, preferencialmente, positivas. Quando você faz isso, acaba se beneficiando da plasticidade cerebral, aumentando a performance cognitiva, se desenvolvendo mais. Acaba melhorando o rendimento acadêmico, em qualquer nível de ensino.

O caminho não são horas ininterruptas de conteúdo, mas organizá-lo de fato, entendendo como o cérebro funciona. Existe uma diferença. Professores mais tradicionais focam na exposição do estudante a longas horas de conteúdo. Como ele não processa o suficiente, não gera experiência de aprendizagem memorável. Ocorre uma falsa fluência de que sabe, mas, quando precisa praticar, vê que não aprendeu.

Mostrando o propósito, e o aluno entendendo isso, naturalmente se cria conexão maior. O problema é que a gente ensina sem falar por quê. Fica alheio à situação do estudante. Ele não entende como precisa daquilo. Hoje, nossos professores precisam trabalhar muito com a pedagogia do propósito.

Quais os elementos-chave para uma experiência de aprendizagem memorável?

Quando a gente fala de pontos-chave, além dos aspectos de organizar a experiência para ter os aspectos cognitivos, falamos também do emocional e do relacional, quando se está muito contido na experiência ela vai ficar memorável.

Mas existem outras tendências, como apresentar ao aluno o portfólio de habilidades que ele vai adquirir com aquele conhecimento. Se estou falando de propósito, não posso comunicar apenas o conteúdo que ele tem de aprender, até mesmo no Ensino Superior. O aluno não compreende o retorno que está tendo com aquilo. Comunicar o portfólio de habilidades e como elas serão usadas na prática é essencial. Aprendizado com propósito é fundamental. A clássica pergunta do porquê de aprender, para que precisa daquilo.

Além disso, também é imprescindível ter ambientes promotores de pertencimento. Se somos movidos por conexão, isso vai influenciar diretamente nos resultados. Pesquisas mostram que 1 a cada 4 alunos não se sente pertencente ao ambiente escolar, principalmente na adolescência. 

Desse jeito, ele não fica aberto a aprender. O estudante é quem precisa passar pelo processo de aprendizagem, enquanto a função do professor é criar situações e motivações para ele sentir o desejo de aprender. O desenvolvimento de uma mentalidade criativa e resolutiva é essencial para uma experiência de aprendizagem memorável.

O que já é feito, geralmente, nas aulas e pode ser adaptado ou mesmo compreendido, doravante, como aprendizagem memorável?

Como estratégia de tornar a experiência de aprendizagem com maior grau de memorabilidade, o primeiro ponto são as metodologias ativas, que geram input e output

Confio muito nas rotinas de pensamento, elas são práticas de sala de aula que estimulam o pensamento do estudante. São aquelas sequências de três ou quatro passos que direcionam o pensamento do estudante. Isso está dentro da teoria do visible learn

Se a gente não ajuda o aluno a organizar o pensamento, o conteúdo não faz sentido. Então tem muitas estratégias que vão servir dentro da rotina: metodologias ativas, rotinas de pensamento e eu estimularia as recuperações ativas de conteúdo. 

O professor deve ter consciência do impacto que gera na aprendizagem, entender como avaliar toda essa construção. Hoje, existem estratégias de percepção da experiência do aluno em relação à aprendizagem, como “engajômetro”, “aplausômetro”, estratégias de verificação que ajudam o professor a mensurar o impacto e isso vai alimentando com dados para qualificar a metodologia.

E na vida, como a aprendizagem memorável aparece? Qual o papel da família e do ambiente?

Uma das coisas essenciais é garantir uma formação continuada dos professores para que eles entendam como o estudante da contemporaneidade se comporta, como as metodologias inovadoras geram resultado e como avaliar melhor. A formação de professores precisa ser bastante experiencial. Isso é papel da gestão: fortalecer as potencialidades identificadas na equipe e promover o melhoramento contínuo. 

A família, obviamente, vai apoiar o estudante e ter participação ativa dentro dos espaços de aprendizagem, e saber os limites e acompanhar o desenvolvimento do aluno.

Qual o efeito da aprendizagem memorável, no fim da jornada desse estudante?

É um aluno capaz de ter repertório realmente vasto dentro da aprendizagem, porque aprendeu durante todo o processo. Tem abertura maior com soft skills, comportamentos humanos, vai se comunicar com mais eficiência, ter escuta mais ativa, exercer liderança e saber ser liderado. No fim, ele aprendeu todo o conjunto de conhecimentos e incorporou ao repertório.
É um estudante que vai entender a importância do lifelong learning, que significa aprender durante toda a vida. Com as mudanças aceleradas do mundo, novas ciências são produzidas, ampliadas e melhoradas. Quem não se coloca nessa posição de aprendiz eterno, só vai ter aquele repertório aprendido no passado. A gente precisa que ele mantenha a postura de pessoa que segue aprendendo.

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