Psicóloga defende diálogo mais frequente e aberto entre família e escola

Referência nacional em educação e família, Rosely Sayão faz reflexões e apontamentos para que haja mais contribuições mútuas

por: Eduardo Wolff | eduardo@padrinhoconteudo.com
imagem: Arquivo Pessoal

O envolvimento da família tem sido muito mais com o filho na escola do que com a própria escola. É o que constata a psicóloga, referência nacional em educação e família, Rosely Sayão, a partir de suas observações e retornos recebidos tanto de pais como de profissionais envolvidos com o ensino.

Referência nacional em educação e família, Rosely Sayão faz reflexões e apontamentos para que haja mais contribuições entre escola e família
Rosely Sayão é psicóloga, consultora educacional, palestrante e colunista | Foto: Arquivo Pessoal

Segundo a especialista, de algumas décadas para cá, a educação virou um bem de consumo. “Os pais estão preocupados que o filho passe de ano, tenha boas notas, muito mais do que realmente com a aprendizagem que obtém na escola”, salienta.

Rosely é psicóloga, consultora educacional, palestrante e colunista na Band News FM. Juntamente com a jornalista Thais Dias, apresenta o podcast Seus Filhos. Também foi colunista dos jornais Folha de São Paulo e Notícias Populares e é autora de vários livros, entre eles, Família: modos de usar (2006) e Educação sem Blá-blá-blá (2016). 

O Educação em Pauta fez uma entrevista exclusiva com Rosely Sayão. Confira: 

Educação em Pauta – Qual é o papel da família na educação de crianças e adolescentes?

Rosely Sayão – É fazer aquilo que a gente chama de socialização primária, ou seja, ensinar o básico para a criança, que é aprender a seguir regras, a se vestir, a comer junto com os outros, a compartilhar coisas. Isso tudo faz parte desse preparo da criança para saber conviver com pessoas conhecidas, com parentes. 

A família não consegue preparar a criança para o convívio com a sociedade, a não ser essa micro sociedade que engloba a família e todos os que estão ao redor. É na escola que a criança vai aprender a conviver com o diferente, com o desconhecido, com a pessoa com quem ela não simpatiza. É na escola que se aprende, de fato, a convivência pública.

Educação em Pauta – Em um dos seus livros, você aborda que existem alguns casos de pais que promovem a “terceirização” na criação de crianças e adolescentes. Como é possível contribuir para mudar esse mindset?

Rosely Sayão – O ensinamento da escola e da família são complementares. Isso que a gente tem chamado de terceirização vem muito por conta desta ideologia de produtividade profissional que a gente vive. Parece que quanto mais a gente trabalha, melhor a gente é. E aí é claro que junto a isso nós temos também a ideologia da juventude. É difícil ser adulto nesse mundo. Então, essa terceirização com crianças em período integral na escola, por exemplo, e uma van que leva e busca com motorista, é basicamente fruto da maneira como vivemos no mundo atual.

É nesse momento que a responsabilidade social da escola aumenta. De um lado, não é bom para a escola, porque ela tem que fazer aquilo que a família não fez ou não faz, mas é desse jeito que nós temos condição de preparar o cidadão. Para muitas crianças e adolescentes, a escola é a salvação delas nesse sentido, no sentido da formação. Os pais que são leigos, ou mesmo aqueles que são professores, mas não do seu filho, possuem expectativas geradas a partir da pressão social. 

Educação em Pauta – E quais são as ideias mais confusas que os pais têm sobre o ensino?

Rosely Sayão – Os pais fazem muita confusão com a quantidade de conteúdo que o filho precisa ou deve aprender. Eles consideram muito o Exame do Ensino Médio (Enem) e o vestibular. Não é a quantidade de conteúdo que importa para uma boa aprendizagem, mas sim a profundidade desse ensinamento. 

Quando um aluno aprende uma coisa mais profundamente, fica mais tempo pensando naquilo, aprende também, paralelamente, a lidar com outros conteúdos que não é esse que aprendeu, pois aprendeu a metodologia. 

Educação em Pauta – Quais são as recomendações você daria a um professor para ajudar nessa interação com as famílias dos alunos?

Rosely Sayão – Eu acho que é difícil para um professor estabelecer uma boa relação com a família dos seus alunos, porque é mediada pela escola. A instituição de ensino tem muitas outras facetas que não apenas o professor. Então, quem deve assumir essa responsabilidade é a escola e o gestor, que tem uma grande responsabilidade nisso. 

Primeiramente, preparar os professores naquilo que chamamos de formação continuada em serviço. Aprender a respeitar as famílias no sentido de que cada família faz o que sabe, o que pode, ensinar aquilo que sabe ensinar, inclusive as crenças que têm, e a escola vai ensinar tudo sob o olhar do investimento formal, sistematizado, além de preparar seus professores para esse respeito às famílias, para a diversidade familiar, inclusão e tudo mais.

Educação em Pauta – Aproveitando que você mencionou os gestores escolares, quais caminhos você indicaria?

Rosely Sayão – Eles devem preparar as famílias para ter um diálogo mais frequente, mais aberto. Vejo que há pouco espaço para participação das famílias, a não ser ouvir e questionar aquilo que ouvem. Uma boa parceria deveria ser previamente combinada entre a escola e as famílias dos seus alunos. O que esta comunidade quer para a formação desses alunos? Eu acho que uma boa parceria seria essa. Nós temos também uma tradição de que as escolas brasileiras acham que elas precisam ser iguais entre si. Não precisam. 

Hoje em dia, com todo o novo conhecimento que a gente tem, sabemos que há muitas maneiras de uma escola se organizar de formas muito diferentes, mas parece que é um receio de comparação. Há muita competição entre as escolas, não só as privadas, mas as públicas também. Isso atrapalha a possibilidade de se organizarem de uma maneira diferente. 

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