Já estão determinados quais serão os governantes que conduzirão tanto o Brasil como também o Rio Grande do Sul para os próximos quatro anos. Apesar dessas definições, ainda ficam dúvidas sobre como será essa condução, principalmente em relação à economia do país.
Muito impactado pela pandemia, o setor de serviços (que inclui o ensino privado) ainda está em recuperação. Diante desta situação, uma das preocupações constantes dos gestores das instituições de ensino tem sido a inadimplência.
Para apontar as projeções deste cenário, o Educação em Pauta entrevistou o doutor em economia e economista-chefe da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs), André Nunes.
Educação em Pauta – Com as definições no comando do governo no país, o que se pode esperar da economia para 2023?
André Nunes – Temos a definição da eleição, mas ainda existem muitas indefinições e incertezas de quem vai ocupar os ministérios das áreas de finanças e economia. O presidente Lula deu poucos detalhes de quais seriam esses nomes, os perfis daqueles que vão comandar essas pastas. Existe a possibilidade de ser separado a Economia, o Planejamento e a Fazenda, como foi em outros governos petistas. A partir dos nomes (dos ministros) se consegue ter uma noção do que esperar, qual tipo de abordagem vai ser adotada nos ministérios e até uma noção de abordagem de como será o próprio governo.
O principal desafio, quando a gente olha o Brasil e a influência do governo para o ano que vem, é justamente as contas públicas. Temos dificuldades de encontrar o orçamento dentro das regras do teto para todas as despesas contratadas e prometidas durante a campanha. Então, como vai ser esse arcabouço construído? Como vai ser a construção disso no próximo governo? Qual será a linha ideológica que a área de economia tende a tomar? Um perfil mais técnico ou mais político? É algo que ainda traz muita incerteza.
Educação em Pauta – Em relação ao desafio fiscal, o que se tem previsto?
André Nunes – O que se sabe é que ano que vem o desafio fiscal será muito grande. Estamos dentro de um ciclo de desaceleração da economia e da inflação. O Brasil se adiantou nesse ciclo de aperto da taxa de juros, mas isso ainda não produziu todos seus efeitos na economia.
Tivemos a redução da inflação muito ainda concentrada em alguns bens, na parte da energia, influenciada pela PEC que diminui o ICMS sobre telecomunicações, energia e combustíveis. Então, a gente tem parte dessa aceleração cíclica promovida pela taxa de juros para acontecer no primeiro semestre de 2023.
Educação em Pauta – E as projeções do setor de serviços, os quais o ensino privado está inserido, para 2023?
André Nunes – O setor de serviços está bastante aquecido, bem como seus preços em reajuste. Esse setor está no final do processo de normalização. Durante o primeiro semestre de 2023 a inflação de serviço vai ser mais alta, ou seja, os prestadores de serviços estarão reajustando os preços. Para o segundo semestre, talvez uma inflação um pouco mais controlada, índice cheio e caindo.
Existe uma desaceleração econômica para o próximo semestre. Não é uma recessão, uma queda do PIB do ano, não estamos vendo nada disso. Estamos vendo um movimento cíclico depois do segundo semestre, mais aquecido de atividades do Brasil.
Quando olhamos para o Rio Grande do Sul, a situação está mais clara com a reeleição do governador Eduardo Leite. A gente conhece qual é a linha de trabalho, quais as orientações ideológicas do governo. Temos uma expectativa de continuidade e avanço em algumas, que não tiveram tanto foco no primeiro mandato por conta da necessidade de colocar as finanças em dia e da própria pandemia que ganhou total atenção em detrimento de outras agendas.
Esperamos mais avanços e discussões e um plano mais profundo na área da educação, algo que o governador tem falado durante a campanha e parece ser um segmento importante, mas de certa forma não deu tempo de tratar com maior atenção.
Vai ter o desafio dentro do Estado com a queda da arrecadação por conta da rendição de alíquotas de ICMS de produtos especiais, como combustíveis, telecomunicações e energia. Certamente, vai haver uma pressão não só do nosso governo, mas de grande parte dos governos dos outros estados sobre a União para tentar achar uma alternativa para essa queda de arrecadação.
Educação em Pauta – Diante desse cenário, deve ocorrer reforma tributária?
André Nunes – Acredito que sim. Grande parte do congresso eleito tem relação com a sociedade mais produtiva e vai existir uma pressão dos governadores para isso. É um tipo de reforma que está bastante madura e não acredito que o governo Lula seja contra isso.
Agora, vai ser uma reforma em que a discussão tende a ser bastante difusa, na medida em que visa trazer melhorias do ponto de vista do ambiente de negócios, talvez traga um pouco de aumento de carga tributária.
Muita gente vai ser a favor de como está sendo construída, de melhorias de custos de conformidade que vão ser reduzidos, de melhor alocação de recursos da economia e mais justiça tributária entre os setores. Junto a isso, terá uma discussão de aumento de carga tributária, porém acredito que tenha todo incentivo para que ocorra a reforma no ano que vem.
Educação em Pauta – A inadimplência é uma preocupação constante dos gestores do ensino privado. Como o senhor vê o poder de consumo das famílias e o problema do endividamento para o próximo ano?
André Nunes – No segundo semestre deste ano houve recorde de crescimento, mas, pelos dados construídos com bancos que acompanhamos, esse foi o pico e a inadimplência vai reduzir ao longo do início do próximo ano. A visão é relativamente positiva, pois a renda das famílias está em crescimento e essa redução da inflação, principalmente a de produtos básicos, ajudou na renda disponível. Isso faz com que a tendência seja de melhora nos dados de inadimplência.
Educação em Pauta – Quais recomendações o senhor daria aos gestores da área do ensino?
André Nunes – É entender que o ano de 2023 terá dois atos. O primeiro semestre será um pouco mais turbulento, pois tem várias coisas para acontecer, como a discussão da regra de teto de gastos, as eleições na Câmara dos Deputados e toda montagem do governo, isso pode trazer ruído. Juntamente com isso, ainda estamos com a taxa de juros alta e a economia em desaceleração, o que tende a ser um período mais conturbado.
Já no segundo semestre a visão é mais positiva, claro isso dentro de hipóteses, pela montagem do governo, que não aconteça algo que seja uma quebra de paradigma. É um ano em que a inflação tende a surpreender para baixo, principalmente nos meses de fevereiro, março e abril. Depois ao longo do ano, tende a aumentar e terminar o ano abaixo dos 5%.
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