Tecnologia pode ser importante aliada da escola

Tecnologia impacta relação das escolas com a família e exige cuidado e dedicação para gerar bons resultados

por: Bianca Zasso | bianca@padrinhoconteudo.com
imagem: FreePik

A palavra tecnologia costuma remeter a ferramentas digitais, como aplicativos e plataformas de Inteligência Artificial. No entanto, não se pode esquecer que a tecnologia não surgiu com a chegada do mundo digital: ela existe desde sempre e está presente em elementos que colaboram para a realização de uma tarefa, como um lápis ou um livro. Mas é inegável que o advento do digital realizou uma verdadeira revolução, impactando dinâmicas no nosso cotidiano, inclusive dentro da educação

Graças a ambientes virtuais de aprendizagem e a alguns aplicativos de comunicação instantânea, a relação entre as instituições de ensino e as famílias dos estudantes foram reconfiguradas para estarem melhor alinhadas com as demandas de um mundo cada vez mais conectado. 

Mesmo com a rapidez típica do universo dos avanços tecnológicos digitais, adaptar-se às novas formas de comunicação e ensino demanda tempo e preparação, abrindo uma porta para oportunidades, mas também trazendo desafios para a sala de aula e os lares dos estudantes. 

Na visão do escritor, professor e coordenador do Laboratório de Humanidades Digitais da PUCRS, Bernardo Bueno, a tecnologia digital precisa ter os seus processos estudados e compreendidos para que se possa maximizar os benefícios e minimizar os riscos de seu uso. “A tecnologia acelera e facilita muitas tarefas. O desafio é saber dosar o uso para que seja significativo, frutífero, e não esteja substituindo outros aspectos da vida que são essenciais. Para garantir o desenvolvimento das crianças e uma vida adulta saudável, precisamos entender a tecnologia e o espaço que ela deve ter. É muito mais do que discutir tempo de telas: é preciso pensar em propósito e significado”, orienta. 

Bernardo é um dos autores do livro Crianças Bem Conectadas, publicado pela editora Maquinaria e que se propõe ser um guia para ajudar pais e professores a usufruírem a tecnologia de uma forma saudável e inteligente, fugindo da ideia de substituição do contato direto pelas plataformas digitais. “Os pais de hoje não cresceram com modelos anteriores, ou seja: viram os primeiros computadores, celulares, smartphones e o surgimento da internet. Precisaram, e precisam ainda, entender a tecnologia conforme ela vai se desenvolvendo. Mas faz parte da natureza da tecnologia digital essa mudança constante a cada vez mais acelerada”, aponta o professor. 

Comunicação e presença

Utilizar a tecnologia de maneira estratégica é alternativa para fortalecer o relacionamento entre escola e família. Isso porque o uso de aplicativos de comunicação pode permitir um feedback mais rápido sobre o desempenho dos alunos e também incentivar uma participação mais ativa dos pais dentro das iniciativas da escola e do próprio acompanhamento da aprendizagem dos estudantes. 

Com uma experiência de oito anos como professora no Colégio Anchieta, em Porto Alegre, Caroline Fonseca também atua como orientadora pedagógica com foco em tecnologia, atuando como uma ponte dos professores com o setor de Tecnologia da informação (TI) e Tecnologia Educacional (TE) da escola. Para ela, o surgimento de novos canais de comunicação das famílias com a escola foi a principal revolução trazida pela tecnologia para reforçar a relação dos pais e cuidadores com a instituição e suas propostas. 

“Atualmente, contamos com um aplicativo que possibilita acompanhar o progresso dos estudantes, com acesso a notas, frequência e materiais de apoio. Desde a pandemia, demos ênfase na realização de reuniões virtuais e na transmissão de eventos escolares ao vivo. Com a rotina que as famílias possuem, acredito que essas iniciativas permitem que os responsáveis participem da vida escolar de uma maneira mais flexível”, avalia. 

A professora também enfatiza que é preciso um investimento contínuo em capacitação das equipes das escolas para o uso das plataformas digitais, juntamente com a implementação de uma cultura digital da instituição. Para que isso se concretize, Caroline aponta a importância das identidades tecnológica e digital da escola. 

A identidade tecnológica tem relação com a influência da tecnologia nos valores e nas práticas da comunidade escolar. Já a identidade digital tem relação com como a escola interage nas redes sociais e outras plataformas de comunicação. “Para implementar uma cultura digital, é necessário que a instituição tenha muito claro essas duas identidades. Isso necessita de um planejamento para que passe a fazer parte da rotina da escola”, comenta a professora, que salienta que as famílias também precisam de um apoio para acompanhar essas atualizações – e cabe a escola investir no acolhimento desses pais quando surgirem dificuldades para encontrar uma informação ou mesmo acessar um determinado aplicativo. 

A quantidade e também a escolha das ferramentas digitais deve ganhar um olhar atento para que os resultados sejam mais assertivos tanto para professores quanto para estudantes. Investir em conhecimento sobre ciência de dados também é importante, já que ela está cada vez mais presente na educação. “A análise de dados auxilia nas tomadas de decisões dentro da escola”, finaliza. 

Mais tempo e menos gastos

O crescimento do interesse pela tecnologia na educação não é presente apenas nas instituições, mas também marca território na área da pesquisa. Coordenadora pedagógica e atual vice-diretora do Colégio La Salle Medianeira, Marlete Gut iniciou sua trajetória como pesquisadora das tecnologias nos ambientes de ensino ainda na graduação em Pedagogia e seguiu as investigações sobre o tema na pós-graduação. 

No cotidiano escolar, ela percebe um maior engajamento dos pais com a escola após a adesão de aplicativos e plataformas digitais para troca de informações e também desenvolvimento da aprendizagem. Marlete enfatiza a redução do tempo e dos custos para a escola, mostrando que a tecnologia também está a serviço da sustentabilidade. 

“O processo de escrever, imprimir e entregar bilhetes físicos é demorado e também gera desperdício. Ao utilizar plataformas digitais, esse processo se torna mais fluido e sustentável, permitindo que a informação chegue de forma imediata e interativa”, explica a pedagoga. 

No entanto, garantir que as famílias acessem as ferramentas digitais com regularidade é desafiador. Se o hábito de conferir as redes sociais diariamente é uma realidade para muitos pais, o mesmo não se observa quando o assunto é o acompanhamento do desenvolvimento escolar dos filhos. Por isso, Marlete acredita que além do suporte técnico e orientações práticas de uso das ferramentas, é preciso trazer as famílias para a discussão do uso correto das possibilidades do mundo digital. 

A profissional lembra que a quinta competência geral da BNCC, a Base Nacional Comum Curricular, preconiza que os estudantes devem compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas sociais, incluindo as escolares. Essa competência destaca a importância de se comunicar, acessar e disseminar informações, produzir conhecimentos, resolver problemas e exercer protagonismo e autoria na vida pessoal e coletiva. 

“Isso implica que o uso da tecnologia não deve ser consumido passivamente, mas deve se tornar um meio de engajamento ativo, reflexivo e criativo, promovendo o protagonismo dos estudantes. Assim, a escola, em parceria com as famílias, tem a responsabilidade de orientar o uso da tecnologia de maneira que contribua para o desenvolvimento ético, crítico e responsável”, afirma. 

O cenário da educação ainda será impactado em várias camadas pela tecnologia, exigindo, na visão de Marlete, a integração dessas ferramentas emergentes no cotidiano de forma equilibrada e consciente, tanto por parte dos gestores e educadores quanto das famílias. Isso envolve mostrar como as tecnologias podem ser ferramentas de aprendizado e desenvolvimento, mas também destacar os perigos e a importância do equilíbrio. 

“A relação entre família, escola e tecnologia precisa ser construída de forma que, ao ampliar o uso de tecnologias digitais, também se busque criar uma convivência saudável e produtiva. A chave será encontrar o equilíbrio entre o analógico e o digital”, conclui. 

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