Da aluna à diretora: as avaliações do primeiro ano do Novo Ensino Médio
2022 marcou a implementação efetiva do novo currículo nas escolas; após um ano de intenso trabalho para fazer as mudanças necessárias, alunos, professores e equipe pedagógica já identificam avanços positivos no processo de ensino e aprendizagem
por:
Eduardo Wolff | eduardo@padrinhoconteudo.com
Publicado em 21/11/22 às 07:07 - Atualizado em 28/11/2022 às 13:13
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AdobeStock
Como organizar a nova grade curricular da escola? Como os estudantes vão se adaptar aos estudos? Essas foram algumas dúvidas, bem como os desafios enfrentados em decorrência do Novo Ensino Médio.
Essa grande reforma educacional foi iniciada em 2018, mas 2022 foi o marco zero para sua implementação gradual. As escolas tiveram que tomar escolhas dos itinerários formativos, além de realizar a aplicação de quatro novos componentes curriculares: Projeto de Vida, Mundo do Trabalho, Cultura e Tecnologias Digitais e Iniciação Científica.
Como indica o documento da Base Nacional Comum Curricular (BNCC): “cabe às escolas de Ensino Médio contribuir para a formação de jovens críticos e autônomos, entendendo a crítica como a compreensão informada dos fenômenos naturais e culturais, e a autonomia como a capacidade de tomar decisões fundamentadas e responsáveis.” Para acolher as juventudes, as escolas devem proporcionar experiências e processos intencionais que lhes garantam as aprendizagens necessárias e promover situações nas quais o respeito à pessoa humana e aos seus direitos sejam permanentes.
Para saber como se comportaram as escolas, a reportagem do Educação em Pauta apurou diferentes percepções de uma aluna, uma professora, uma coordenadora pedagógica e uma diretora.
Em seu 1° ano do Ensino Médio na Sociedade Educacional Três de Maio (Setrem), a aluna Gabrieli Rieth Marasca destaca que o sistema de ensino utilizado pela escola foi o Bernoulli. Nesse formato, são apresentados materiais que compreendem soluções educacionais integradas e acompanham o estudante em cada etapa da vida escolar.
No seu caso, foram quatro livros ao longo do ano que unificaram três matérias: Geografia, História e Português. “O que percebi foi uma maneira mais prática de apresentar os conteúdos”, salienta.
Com o Novo Ensino Médio, Gabrieli percebeu a troca de algumas disciplinas por outras, como, ao invés de aprender Português, o ensino é sobre bioética. Em relação à carga horária, pouco se alterou, pois na Setrem já haviam dois dias com turno integral, com poucos ajustes e baseado no sistema de ensino Bernoulli.
Outra diferença foi a grande interação com a tecnologia: dentro da grade curricular, existe muito uso de vídeos, QR Code e robôs nas dinâmicas de aula.
Esse novo formato foi aprovado pela estudante, que o classifica como mais interessante em relação ao anterior. “É bastante científico, tem novidades e bem atualizado. Busca abranger todas as áreas do conhecimento”, comenta.
No entendimento da professora
Diante desse cenário, o método STEM, que envolve Ciências, Tecnologia, Engenharia e Matemática, está mais presente no ambiente escolar. Por ser professora desta disciplina no Colégio Santa Dorotéia, Aline Fagundes acredita que essa forma de lecionar facilitou em sua inserção nos itinerários formativos. Ela é formada em Matemática, com mestrado em STEM pela Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (UERGS).
Em sua disciplina, Aline reforça que a ementa da BNCC prevê a interdisciplinaridade e a prática das teorias trabalhadas em outras disciplinas por meio da metodologia de aprendizagem baseada em projetos. “Proporcionamos aos alunos uma avaliação processual, com base nas etapas de cada projeto, levando em consideração comprometimento, dedicação, trabalho em grupo, interação e produção final”, pontua.
Devido à pandemia e outros aspectos relevantes, a professora analisa que seus estudantes ficaram empolgados com as ideias apresentadas, mas, de início, a procrastinação era nítida. No entanto, acredita que a proposta dos itinerários formativos é muito boa e que é necessário criar uma cultura de “mão na massa”.
No caso do Colégio Santa Dorotéia, além do Espaço Maker, é ofertada uma aprendizagem mais dinâmica, sem a estruturação matricial realizada nas salas de aula mais tradicionais.
Aline notou que quando os projetos vêm de ideias e curiosidades propostas pelos alunos, o engajamento é maior. “Estamos vivendo uma primeira série de Novo Ensino Médio com resultados muito positivos. Um projeto realizado em um dos Itinerários teve bastante repercussão, inclusive em rede nacional”, frisa.
O fato de priorizar as competências e habilidades dos alunos, não somente focando a parte cognitiva, por si só, promoveu uma mudança estrutural nas práticas pedagógicas. É o que sinaliza a coordenadora pedagógica do Colégio La Salle Medianeira, Marlete Gut.
“Além disso, o Novo Ensino Médio permitiu possibilidades ao estudante se aperfeiçoar e intensificar seus estudos de acordo com a área de conhecimento que tem mais afinidade”, complementa.
Outra transformação destacada é o maior uso da tecnologia. A professora lembra dos seus estudos relacionados a John Dewey (filósofo e pedagogo norte-americano) que defendia que as escolas precisam estar conectadas na vida e não separadas das práticas sociais dos estudantes. Ela acredita que, em um cenário da sociedade em rede, os alunos precisam saber utilizar de forma ética e responsável as tecnologias digitais.
Para Marlete, a ética e a sustentabilidade estão sendo mais estimuladas por meio de disciplinas como a Matemática Aplicada ou a Física do Cotidiano, sendo mais conectadas com a realidade dos estudantes.
A inserção das tecnologias digitais nas práticas pedagógicas deixa o processo de ensino-aprendizagem mais dinâmico, ativo, inventivo e interativo. Em contrapartida, é um longo caminho a ser trilhado, pois, uma prática ensinada durante anos e anos, a sua mudança de fato deve ocorrer a médio e longo prazo. “Teremos que fazer ajustes e se adaptar para que assim se concretize tudo”, analisa.
Mais um aspecto reforçado é a importância da comunicação e socialização da informação na grade curricular. A disseminação de notícias falsas, desinformação, postura nas redes e comunicação não agressivas são temas que aplicam diferença na aprendizagem. “Hoje, isso está instituído, são situações que fazem parte de forma expressa em sala de aula. Vejo isso como muito positivo”, diz.
Na percepção da diretora
O planejamento e o trabalho multidisciplinar foram fundamentais para a implementação do Novo Ensino Médio no Colégio Monteiro Lobato. Para que esse movimento ocorresse, foi promovida uma escuta ativa com professores coordenadores de diversas áreas. Outra iniciativa foi a ajuda externa da pesquisadora e professora associada da Faculdade de Educação na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), no Departamento de Ensino e Currículo, Roselane Zordan Costella.
Por já trabalhar na perspectiva multidisciplinar, a mudança no Monteiro Lobato ocorreu de maneira orgânica. Conforme aponta a diretora do Colégio, Ana Lobato, era algo que estava sendo realizado e se acreditava, o que potencializou seu currículo escolar. “Esse planejamento em diversas áreas e o trabalho dos professores na gestão escolar fez toda a diferença”, enfatiza.
Segundo ela, os alunos foram consultados sobre a implementação ser a resposta a um grande nível de satisfação. As famílias também foram escutadas, trazendo muito contentamento à nova forma de ensinar. Entre os apontamentos, está um programa muito organizado e contemporâneo, com aprofundamento acadêmico.
O itinerário formativo escolhido pelo colégio foi: Interlocução Cultural, Mídia e Processos Criativos; Economia e Sustentabilidade; Contemporaneidade: Tensões e Perspectivas Globais; Aprofundamento Acadêmico para o Futuro e Projetos de Vida.
Entre os destaques dos itinerários, está o de Projetos de Vida, em que os alunos realizaram visitas técnicas ao Lar Maria de Nazaré e na Fundação Pão dos Pobres. “São atividades bem mão na massa, que transpuseram muros da escola. O retorno é que os estudantes do nono ano (do Ensino Fundamental) estão com um grande nível de adesão ao Ensino Médio”, celebra.
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