Ensino inclusivo: como os terapeutas podem ser parceiros nas escolas?
Com todo o acolhimento proporcionado pelos professores e pelas escolas, em determinados casos podem ser necessárias redes de apoio para garantir o desenvolvimento de alunos de inclusão
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Eduardo Wolff | eduardo@padrinhoconteudo.com
Publicado em 08/07/22 às 07:00 - Atualizado em 15/07/2022 às 10:59
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Dificuldades em interagir com os colegas da turma e da escola, desenvolver trabalhos em grupo, participar das aulas e se comunicar. Essas são algumas barreiras muito comuns para os estudantes da educação especial em um ambiente escolar.
Além de auxiliar o aluno para que avance intelectualmente, os professores também precisam ajudar no seu desenvolvimento social. Muitas vezes é necessário unir saberes além das conversas com a família precisando também do apoio da equipe multidisciplinar externa da escola que acompanha a criança ou adolescente.
A integrante do Departamento Científico de Pediatria do Desenvolvimento e Comportamento da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), Ana Márcia Guimarães Alves, lembra que a ajuda de terapeutas pode ser acionada para crianças ou adolescentes com algum tipo de deficiência, autismo ou superdotação ou outros casos como: Transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH) ou dislexia.
“Isso garante o auxílio para que a escola faça a adaptação necessária ao estudante. Cada inclusão depende do diagnóstico e, a partir disso, será realizado o seu desenvolvimento”, explica. E vale lembrar que a conversa com pais e terapeutas auxilia a instituição na visão correta sobre as modificações realizadas.
São diversos tipos de profissionais que podem participar desses progressos dos alunos. Fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais, psicólogos, psicopedagogas, psiquiatras, neurologistas, entre outros, e podem trabalhar de forma colaborativa.
Para garantir um ensino de qualidade, a união (de competências) pode fazer a força.
Roda de conversa para troca de informações
Nos casos de estudantes de educação especial, a troca de informações entre profissionais da escola e da saúde é valorizada pela AVAEC Unidades Educacionais, de Veranópolis. “Quando esses estudantes ingressam na nossa escola, são acompanhados desde a matrícula, pois fazemos contatos com os pais para entendê-los de uma maneira mais detalhada”, comenta a vice-diretora e coordenadora dos anos iniciais da AVAEC, Vânia Wetzel.
A roda de conversa é algo praticado pela instituição. É agendado um horário com os pais em uma sala de atendimento. Nesse momento, ocorrem trocas, por parte dos pais, sobre como o jovem age dentro de casa, e, por parte da escola, como são seus comportamentos no ambiente escolar. A partir desse compartilhamento, constroem-se quais são as ações a serem tomadas.
Em um caso recente, Vânia comenta de um estudante do Ensino Fundamental que possui autismo leve e apresentava dificuldades com os temas de casa. “A sua professora nos trouxe muitos subsídios, fizemos uma roda de conversa que contou com a participação da psicóloga desse jovem”, recorda.
Nos primeiros meses, foi possível obter devolutivas com retornos positivos. “O vínculo que ele construiu com a sua professora foi muito importante, lhe deu confiança. Após as nossas definições com a profissional da saúde, caso o estudante não fizesse o tema de casa (pois estava recebendo cobranças da sua mãe), ficaria de combinar com a docente como resolver essa entrega. Essa postura lhe proporciona mais autonomia no seu aprendizado”, diz.
Para a vice-diretora, é muito positivo e necessário esse olhar multidisciplinar para melhor lidar com os estudantes público-alvo do AEE. “A psicologia trabalha o lado emocional, a fonoaudiologia e os terapeutas ocupacionais, os sentidos. Vejo todos os terapeutas como muito necessários como suporte”, complementa.
Estudante apresenta melhoras na interação
Desde a educação infantil, o Colégio Monteiro Lobato, de Porto Alegre, realiza uma avaliação para atender plenamente aos alunos que possuem necessidades especiais. “Sempre pedimos os contatos dos profissionais que atendem esses estudantes”, reforça a coordenadora geral do colégio, Silvana de Boer Waskow.
Um exemplo relatado foi de uma aluna do Ensino Médio que chamou a atenção por ter dificuldades de relacionamento com colegas e professores, bem como de executar trabalhos em grupo. “Em primeiro momento, todos pensaram que fosse apenas muito tímida, mas resolvemos conversar com a família, que, por consequência, teve o envolvimento da psiquiatra dessa menina. Como ela possui um autismo leve, construímos juntos uma lista de procedimentos a realizar pela nossa coordenação pedagógica”, explica.
Essas dificuldades de relações interpessoais, de sentar em grupo e opinar, notado pelos professores da jovem, proporcionaram grandes ações.
“Uma professora de um projeto de cultura pode entender melhor determinados comportamentos dela, isso em decorrência do que foi levantado pela psiquiatra. Essa combinação entre os profissionais permitiu que essa estudante estivesse construindo atividades com outros colegas. Ela está conseguindo desenvolver as suas habilidades sociais”, celebra Silvana.
O que pensam os especialistas?
A construção de uma rede de apoio é essencial para o desenvolvimento dos estudantes de educação especial. A coleta de informações de competências permite estabelecer um vínculo com o aluno. “Dependendo do caso, somente o professor fica difícil de atender devido às particularidades. A escola pode constituir com essa rede”, frisa a psicopedagoga, psicomotricista e coordenadora do Núcleo de Apoio Docente e Discente da Universidade Luterana do Brasil (Ulbra), Mara Lúcia Salazar Machado.
No projeto da escola, deve constar uma unidade que aborda especificamente a inclusão sobre a rede de apoio. “Até as medicações, quando ajustadas, são responsáveis por mudanças comportamentais”, sinaliza Mara Lúcia.
Na área cognitiva, o conselheiro e presidente da Comissão de Educação do Conselho Regional de Psicologia do Rio Grande do Sul (CRPRS), Vinícius Pasqualin, ressalta que é fundamental a saúde mental na escola. A boa relação entre professor e psicólogo garante mais assertividade, uma construção em conjunto, com o acompanhamento dos pais.
“Os professores são muito importantes no momento do diagnóstico, permitem conhecer os limites e as tolerâncias dessa criança ou desse adolescente. Por meio de observações, é possível adaptar o que é ensinado de acordo com o que o aluno tem interesse. Por exemplo, um jovem com TDAH pode gostar de uma história de quadrinhos e esse ser um meio de prender a sua atenção”, cita.
Também pode participar do planejamento educacional de alunos do Atendimento Educacional Especializado (AEE) e de estudantes em situação de risco para problemas de aprendizagem acadêmica. Quando percebem alguma dificuldade de fala ou audição no aluno, as escolas solicitam para que as famílias procurem um fonoaudiólogo externo.
Quando não fazem parte da equipe técnica pedagógica, esse profissional pode contribuir por meio da consultoria colaborativa. “Isso por meio da realização das flexibilizações e adaptações curriculares e na implementação do Plano de Ensino Individualizado (PEI), garantindo assim uma melhor situação de ensino-aprendizagem para alunos definidos como público-alvo”, esclarece a coordenadora do Departamento de Fonoaudiologia Educacional da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia (SBFa), Simone Aparecida Capellini.
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