Formação técnica e profissional no Ensino Médio fortalece PPP

Modelo estimula atuação intersetorial entre redes de ensino, setor produtivo, universidades e organizações da sociedade civil

por: Ítalo Cosme | Especial
imagem: Freepik

A partir das mudanças no último ciclo da educação básica, com a implementação de itinerários formativos, destaca-se já no primeiro ano do Novo Ensino Médio o eixo que trata da Educação Profissional e Tecnológica (EPT). Isto porque o 5º itinerário, como também tem sido chamado, fortalece as Parcerias Público-Privadas (PPP), na visão de educadores e pesquisadores. De acordo com esses especialistas, o modelo estimula a atuação intersetorial entre redes de ensino, setor produtivo, universidades e organizações da sociedade civil para viabilizar a formação.  

O itinerário formativo de EPT pode ser aplicado em qualquer ano do Ensino Médio, desde que a carga horária dedicada aos itinerários formativos seja de 1.200 horas. Amábile Pacios, presidente em exercício da Federação Nacional das Escolas Particulares (Fenep) e presidente da Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação (CNE), relata que muitas instituições privadas começam o projeto de vida ainda no Fundamental II para se dedicar apenas aos itinerários no último ciclo da Educação Básica. 

A respeito dos moldes das parcerias para oferta dos cursos profissionais e técnicos, Amábile diz que os colégios estão utilizando instalações de universidades, do Sistema S e até fechando parceria com outros sistemas particulares para possibilitar o itinerário. A conselheira salienta que para firmar parceria com o setor privado o processo é mais rápido. Algumas parcerias são de um ano. Outras, de seis meses, por exemplo.

No entanto, não é obrigatório que a escola ofereça o eixo de EPT. De acordo com Carlos Milioli, que integra a diretoria do Sinepe/RS e é diretor-administrativo da Escola Técnica Cristo Redentor, a possibilidade depende do projeto de cada instituição. 

“Ela (escola) pode começar a oferecer o itinerário formativo no primeiro ano do Ensino Médio, mas com as disciplinas eletivas, como o projeto de vida. Não necessariamente com disciplinas técnicas. O 5º itinerário formativo, na reforma do Novo Ensino Médio, de fato, ainda não está sendo oferecido. Os projetos serão contemplados no segundo e no terceiro ano. Por tanto, em 2023 e 2024”, comenta. 

Para Cacau Lopes da Silva, gerente de Implementação do Itaú Educação e Trabalho, o trabalho conjunto dos setores pode ocorrer em rede a partir de parcerias em diversas frentes, como na oferta de cursos, em atividades práticas nos ambientes de trabalho, melhoria de infraestrutura dos laboratórios, qualificação de currículos e materiais didáticos, entre outras possibilidades.

“É fundamental que toda essa cadeia perceba o valor da EPT, com potencial de transformação de realidades, e que atue em rede para garantir aos jovens o acesso a um itinerário formativo qualificado, que dê sentido ao aprendizado e amplie as perspectivas de seus projetos de vida”, sugere. 

A ideia é que iniciativas como a do Itaú possam contribuir, também, para reduzir a taxa de desemprego dessa faixa-etária: conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 19,3% dos jovens estavam desempregados no segundo trimestre deste ano. O percentual é superior à média da população geral, que está em 9,3%. 

Para tanto, Cacau salienta ser fundamental levar em conta algumas etapas, entre elas, o planejamento da oferta a partir de sua aderência com o potencial econômico da região, com as demandas sociais e dos estudantes, considerando, ainda, estudos de tendências sobre o futuro do trabalho e a nova economia.

“É preciso criar estratégias para contratar e formar professores, com foco no desenvolvimento profissional dos professores de EPT; garantir orçamento, insumos e infraestrutura às escolas que receberão o itinerário, a fim de aproximar teoria e prática; estabelecer uma política de parcerias com o mundo do trabalho, para qualificação da oferta e inclusão produtiva dos jovens; e criar mecanismos de acompanhamento e avaliação da aprendizagem dos estudantes e da trajetória dos egressos”, elenca Cacau. 

A partir de 2023

Para a implementação do 5º itinerário, Milioli  conta que o Sinepe/RS tem atuado em duas frentes. A primeira, mais próxima do Conselho Estadual de Educação, para viabilizar a documentação para parcerias – o que já foi feito em partes no fim do ano passado. Mas novas resoluções deverão sair para clarear ainda mais essa possibilidade de parcerias. 

A segunda frente de atuação, diz Milioli, é um consórcio de entidades para desenvolver essas parcerias. O Sinepe/RS faz parte de um grupo de regime de colaboração com outros players do segmento educacional, como secretarias de educação municipais e do Estado, além do CEE-RS. O objetivo é agilizar as parcerias.

“Quem faz o quê? Como isso se dará? Como acontecerá para que as instituições se sintam mais seguras no firmamento dessas parcerias?”, são perguntas que o grupo tenta responder, segundo ele, quer seja para o segmento privado-privado, público-privado, ou apenas para o segmento público.

A presidente em exercício da Fenep diz que a rede precisa ficar atenta à planilha na hora de escolher o que vai oferecer aos estudantes. “No sentido do impacto, há algum estudo em relação à sua planilha? Não adianta ofertar uma modalidade, um projeto, se não vai acomodar o custo. Não pode ficar oneroso para a família ou para a escola”, aconselha.

Evasão

Para além das necessidades, Cacau Lopes da Silva, gerente do Itaú Educação e Trabalho, acredita que o itinerário de EPT é uma oportunidade de retorno e retenção dos estudantes para a sala de aula. “Isso porque o jovem vê valor no aprendizado e é um anseio dele que a escola o prepare para o mundo do trabalho.”

Pesquisa recente do Itaú Educação e Trabalho, em parceira com a Fundação Roberto Marinho, realizada pelo Plano CDE, ouviu mais de 1 mil jovens e constatou que 98% dos respondentes concordam que é importante a escola prepará-los para o mundo do trabalho e 83% acreditam que o Ensino Técnico é uma opção interessante, pois ajuda a conseguir um emprego.

Além do interesse dos jovens por essa formação, outro estudo do Itaú Educação e Trabalho, em parceria com as Fundações Roberto Marinho e Arymax, mostrou que a Educação Profissional e Tecnológica viabiliza mais oportunidades de evolução de carreira para os jovens em relação a quem concluiu apenas o Ensino Médio. 

A pesquisa ouviu mais de 800 empresas e revelou que jovens com Ensino Técnico completo têm maiores chances de estarem ocupados e contribuindo para o sistema de Previdência do que aqueles com apenas o Ensino Médio completo. Os dados reforçam o valor da EPT para os jovens e a importância de garantir oferta de qualidade para os estudantes.

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