O que a NR-1 nos ensina sobre liderança, comunicação e cuidado

Professora Alessandra Becker fala sobre saúde mental como questão de dever legal, humano e organizacional

imagem: IA / Gemini

Alessandra Becker é professora e consultora em segurança psicológica, felicidade no trabalho e liderança comunicadora. Diretora de Imagem Institucional e Grupos de Estudo da ABRH-RS. Sócia-fundadora da FALE Consultoras.

Nos últimos anos, a saúde mental saiu das conversas de bastidores e chegou à agenda principal das instituições de ensino. O que antes era visto como um tema de “bem-estar” passou a ser tratado como uma questão de saúde e segurança no trabalho – um dever legal, humano e organizacional.

A nova NR-1, atualizada pela Portaria MTE 1.419/2024, ampliou o conceito de riscos ocupacionais, incluindo de forma explícita os riscos psicossociais – como sobrecarga, assédio, comunicação precária e práticas de gestão que geram medo ou insegurança.

Na prática, isso significa que as escolas agora precisam identificar, avaliar e agir preventivamente também sobre os fatores que impactam a saúde mental dos trabalhadores da educação.

Mas, mais do que uma exigência normativa, esse movimento é um convite à transformação cultural.
E dois elementos são decisivos nessa virada: a liderança e a comunicação.

A liderança como agente de saúde mental

Nenhum programa de prevenção se sustenta sem lideranças conscientes do seu papel. São elas que dão o tom da cultura institucional – modelando comportamentos, reconhecendo esforços e abrindo espaço para o diálogo.

Quando um líder normaliza a sobrecarga, ignora sinais de sofrimento ou não escuta suas equipes, a cultura adoece. Mas quando ele pratica escuta, distribui o trabalho de forma justa e cria ambientes de confiança, a escola se torna um espaço mais seguro e produtivo.

A nova NR-1 reforça isso ao propor que as organizações olhem para as condições de trabalho – e não apenas para os sintomas individuais. É o reconhecimento de que trabalho mal-estruturado adoece, e de que o cuidado com as pessoas começa pela forma como organizamos o cotidiano escolar.

Comunicação: o elo entre gestão e bem-estar

A comunicação é outro pilar essencial da saúde mental nas instituições. Ela precisa ser transparente, constante e baseada em dados reais – tanto para compreender o que está acontecendo quanto para orientar as ações de melhoria.

O inventário de riscos e o plano de ação previstos na NR-1 não são meros documentos técnicos. Eles são instrumentos de diálogo: servem para que gestores, equipes e comissões de saúde discutam, revisem e ajustem práticas de forma conjunta.

Nas escolas, isso significa criar canais de escuta e devolutiva, promover conversas abertas sobre carga de trabalho e clima organizacional e comunicar de forma clara as decisões e critérios de gestão.

Quando os dados e a comunicação caminham juntos, nasce um ambiente de confiança e corresponsabilidade – condições essenciais para que professores e colaboradores possam ensinar e aprender com saúde.

Um compromisso com o futuro

Segundo a OIT e a OMS, mais de 12 bilhões de dias de trabalho são perdidos anualmente no mundo por causas relacionadas à depressão e à ansiedade. No Brasil, os transtornos mentais já são o segundo maior motivo de afastamento do trabalho.

Esses números mostram que não se trata apenas de um problema individual, mas de um desafio organizacional e social. A boa notícia é que as escolas têm um papel privilegiado nesse processo: são espaços de formação humana, capazes de multiplicar práticas saudáveis e inspirar outras instituições.

Cumprir a NR-1, portanto, vai muito além de atender a uma norma. É um ato de liderança e de comunicação responsável, que coloca o cuidado no centro da gestão educacional.

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