A visão de quem cuida de tudo e de todos para que a educação aconteça

Diretores de instituições de ensino refletem sobre desafios e oportunidades à frente das equipes e refletem sobre o papel social do educador

por: Pedro Pereira | pedro@padrinhoconteudo.com
imagem: FreePik

Uma data reservada para homenagear aqueles que lideram instituições de ensino: 12 de novembro é o Dia do Diretor Escolar. Profissionais que precisam conhecer profundamente todo o processo de ensino e aprendizagem, a fim de tomar decisões e dar condições para que ele ocorra da forma mais proveitosa possível. É pela sala do diretor que passam todas as questões inerentes à comunidade escolar.

Para saber um pouco do que pensam esses líderes, o Educação em Pauta procurou alguns diretores de escolas do ensino privado gaúcho. Nestes depoimentos, eles compartilham suas trajetórias. Da angústia diante de um mundo cada vez mais acelerado e exigente, em todos os sentidos, à satisfação de ver a sociedade reconhecendo um trabalho bem feito, eles estão aqui para mostrar que o endereço até pode mudar, mas as agruras e as glórias são as mesmas em todo lugar.

Tradição com frescor de juventude

Com 120 anos de história, o Colégio Bom Conselho, de Porto Alegre, carrega na figura do diretor um olhar sempre renovado pela esperança nos jovens. “É muito bom ver a gurizada aprendendo”, costuma repetir Antonio Dreyer, principalmente depois de comentar algo que cause aflição na arte de educar. É como se precisasse sempre ponderar que o principal, ou seja, o ensino, será resguardado acima de todas as coisas.

O projeto pedagógico da instituição está alicerçado sobre a trinca conhecimento, emoção e a prática de fazer. Esta é a vertente da educação integral, segundo Antonio, por isso pauta tudo o que é feito na escola. “O mundo todo mudou ao redor do colégio. Até mesmo a geografia, pois antes essa região era dedicada à criação de cabras”, diverte-se. “Mas a missão permanece: fazer educação dentro da realidade que existe hoje. Se fosse só cumprir uma obrigação, teria outra forma. O estudante precisa sair do Bom Conselho com um jeito específico de ser, que é tendo uma visão fraterna e de preservação do meio ambiente” resume.

Atuando na instituição desde 1989, principalmente com jovens do Ensino Médio, o diretor tem uma grande identificação com os adolescentes. Mas o diálogo é constante, com toda a comunidade. Periodicamente, representantes de todas as séries participam do Café com a Direção, divididos por faixa etária. É o momento em que eles colocam em pauta o que está bom, o que precisa ser diferente, ao passo em que ouvem dos gestores o que é possível fazer e os motivos que impedem algumas medidas.

“As coisas mudam muito e mudam rápido, parece que estamos sempre correndo atrás. Como preparar para esse futuro que amanhã já vai ser diferente? É muito no jeito de fazer, não tanto do que fazer, mas sim como se aprende, para lidar com as diferentes situações”, reflete. Segundo ele, a geração atual carece de princípios e referências – tanto alunos, quanto famílias. Tanto que, muitas vezes, os profissionais da educação são procurados por eles para serem referência no processo educativo. Isso denota a importância de se estar preparado para atendê-los nas mais diversas situações.

Apesar dos pesares, Antonio se mantém fiel à máxima que carrega consigo. “A minha rotina é pesada, a gente chega em casa e parece que não sobrou nada. Mas no outro dia vem e vê a gurizada fazendo maravilhas. Eu fico de boca aberta vendo o que essa gurizada consegue fazer, uma série de habilidades. Isso supera qualquer coisa. Está dando resultado, vamos embora”, sentencia.

Educar pessoas que vão cuidar de pessoas

A preocupação com uma educação integral se dá pela necessidade de entregar à sociedade cidadãos preocupados não apenas com a carreira profissional, mas em construí-la enquanto protege o meio ambiente, tem capacidade de conviver harmoniosamente e sabe trabalhar em equipe. Tudo isso é potencializado quando se fala em preparar pessoas que vão cuidar de outras pessoas. E é isso que faz a Escola de Educação Profissional de Saúde, de Cachoeira do Sul.

A instituição já nasceu ligada ao Hospital de Caridade e Beneficência, por isso também é conhecida como Escola HCB. O objetivo era formar profissionais que atendessem à demanda por mão de obra qualificada no próprio hospital, mas foi bem além. Hoje, é referência para diversas cidades da região. Todo esse processo está, há 17 anos, sob a batuta de Maiara Carvalho, diretora da escola.

É muito interessante formar pessoas para cuidar de pessoas. Tem que ter um perfil de muita humanização”, defende. Ela é pedagoga, especializada em supervisão escolar, planejamento e administração para docentes, com mestrado em Educação, na área de multiculturalidade. Depois de ter sido secretária de Educação da cidade de Candelária e em meio a uma carreira de docente no Ensino Superior, à qual se dedicou por 15 anos, foi convidada para liderar a escola.

“A gestão é desafiadora, principalmente quando a gente chega na questão dos desafios financeiros. Eles podem ser um entrave, por isso precisamos ter criatividade na captação de recursos, mas também uma gestão eficiente, planilhas, controles, uma equipe que ajude. Tudo para garantir que os projetos tenham continuidade”, observa.

Maiara comenta que a área da saúde costuma ter uma empregabilidade muito grande e, nessa perspectiva, o papel da escola é apresentar um projeto pedagógico alinhado à realidade. Por isso, atividades ligadas ao mundo do trabalho e ao empreendedorismo fazem parte do dia a dia dos estudantes. “Procuramos estar alinhados com as demandas do mercado e observando habilidades essenciais para as profissões. Temos contato muito grande com as instituições empregadoras, que dão feedback grande sobre o perfil que precisam”, conta.

A escola também consulta os hospitais sobre o que estão achando dos egressos que foram contratados. Tudo para entregar um resultado cada vez melhor para estudantes e empresas. “Perguntamos o que falta no perfil deles para ajustarmos nosso trabalho. E o retorno, felizmente, é muito positivo”, enaltece.

Uma demanda recorrente do mercado é em relação às competências socioemocionais. Elas aparecem de forma transversal no projeto da escola, com ações focadas em trabalho em equipe, comunicação não violenta, resolução de conflitos e outras habilidades. Além disso, a saúde mental e o bem-estar social nunca saem do foco.

É importante estar atento para ter currículos adaptáveis e responsivos a essas necessidades do setor. A gente vai aos hospitais da região e conversa perguntando como chegam nossos egressos, o que falta no perfil deles, para que trabalhemos e formemos pessoas que atendam a essas demandas. E o retorno, felizmente, é muito positivo. Mas uma queixa geral das organizações é às questões socioemocionais. E uma das questões muito presentes no nosso currículo, de maneira transversal, são as competências como trabalho em equipe, comunicação não violenta, resolução de conflitos, cada vez mais valorizadas e mais integrantes do nosso currículo. As reuniões pedagógicas trazem sempre isso.

“O ambiente profissional é competitivo e demandante. Nossos alunos são trabalhadores, têm carga de estudo e ainda vão para o campo de estágio, que muitas vezes é diferente do trabalho atual que desempenham. São níveis elevados e crescentes de estresse. Os gestores precisam de estratégias que promovam bem-estar e saúde psicológica. Temos apoio forte na escola, para os alunos, nessas questões de aprendizado e também das transições de mercado de trabalho. Humanização é fundamental”, reforça.

Tecnologia como aliada

De estudante no internato até se tornar diretor da Educação Básica do Instituto Ivoti, Junior Tiago Ben trilhou uma jornada ímpar. Ele chegou para cursar o Ensino Médio, ainda adolescente, em busca de formação em magistério. Depois da licenciatura em Computação, ainda no começo dos anos 2000 deu início ao ensino de informática e robótica educacional na mesma instituição.

Aos 115 anos, o Instituto Ivoti se mantém firme no propósito de formar educadores. No começo, o objetivo era atender os primeiros imigrantes alemães luteranos que chegaram ao Sul do Brasil. “A escola sempre esteve baseada nessa filosofia, seus princípios e valores”, explica Junior.

O idioma alemão, a música, as artes e os esportes são algumas das marcas do sistema de ensino da Rede Sinodal, da qual faz parte. Além disso, cursos técnicos habilitam os jovens e outros interessados nas áreas de informática, design gráfico e agropecuária.

O fato de sempre ter trabalhado com tecnologia faz com que o olhar do diretor seja apurado para essas questões. Ainda assim, o desafio é imenso. “Na contemporaneidade, com novas tecnologias e a inteligência artificial, que está no auge dos debates, somos desafiados. Ao mesmo tempo, nos trazem muitas oportunidades. O papel da gestão também é conseguir trabalhar com professores e estudantes para que façam um bom uso desses recursos”, acredita.

O uso ético e responsável, a contribuição para o desenvolvimento e o processo de autonomia dos jovens estão entre as pautas que norteiam a relação do instituto com a tecnologia. O que fugir disso pode deixar escapar o caráter humano das relações. “A gestão tem o papel de olhar para as pessoas. Em uma escola, isso significa o cuidado e o ensino das nossas crianças e dos jovens. Além disso, para que tenham esse cuidado, preparação, desenvolvimento cognitivo, novas habilidades, precisamos de mais pessoas: professores, boas coordenações, pessoas engajadas para que esse trabalho tenha bons resultados. A direção de uma escola tem de motivar, engajar, ajudar a criar condições para que todo esse trabalho possa ser desenvolvido com qualidade”, frisa.

Fora das telas e dos algoritmos, Junior percebe a importância do investimento nas relações, estabelecendo momentos e estratégias para que os jovens mantenham espaços e momentos para se relacionar, estar juntos, conviver e conversar. Uma das dificuldades do mundo atual, segundo ele, é a falta de capacidade para dialogar de forma civilizada.

Nesse sentido, o Instituto Ivoti aposta nas manifestações artísticas (são três orquestras, por exemplo), desportivas e culturais. Por meio de parceria com instituições de ensino de outros países, os estudantes têm a possibilidade de viajar – e também de receber seus pares vindos de diferentes lugares. É o caso do Colegio Alemán, de Córdoba, na Argentina. Os alunos gaúchos passam uma semana no país vizinho e acolhem por igual período os colegas argentinos. Já em Brighton, na Inglaterra, eles permanecem por três semanas de intensa vivência da cultura britânica.

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