Academia e mercado de trabalho se unem para aprimorar formação

Parceria entre FAHOR e John Deere, em Horizontina, cria sinergia entre academia e indústria em que todos saem ganhando

por: Pedro Pereira | pedro@padrinhoconteudo.com
imagem: Divulgação John Deere

O começo da vida profissional não costuma ser fácil. O dilema entre provar experiência para garantir uma oportunidade e, ao mesmo tempo, precisar de uma oportunidade para ganhar experiência faz com que muitos estudantes patinem um pouco antes de ingressar na carreira. Se as instituições de ensino não conseguem oferecer a experiência prática completa, tampouco as empresas, na outra ponta, têm tempo e estrutura para ensinar o que os colaboradores precisam dominar.

A solução é unir os dois lados, como fazem John Deere e FAHOR, em Horizontina. A empresa de máquinas agrícolas – que tem relação umbilical com a cidade no Brasil – e a faculdade fundada há 25 anos, também no município, firmaram parceria para que os estudantes tenham acesso a estágios e, especialmente, a equipamentos reais e de ponta para estudar.

O surgimento da própria faculdade é uma consequência da presença da SLC, empresa que lançou a primeira colheitadeira automotriz do Brasil, em 1965. Foi um marco tão importante que 5 de novembro, data da apresentação, foi definido em lei como o Dia da Inovação e do Empreendedorismo em Horizontina.

“As famílias que eram donas da empresa sempre ajudaram o colégio Frederico Jorge Logemann, de onde surgem cursos técnicos e a faculdade. No curso técnico em mecânica, por exemplo, a SLC pagou as mensalidades dos alunos por muitos anos”, conta o vice-diretor da FAHOR, Marcelo Blume.

União da comunidade

Crescer em parceria, portanto, faz parte do DNA das duas instituições. Aliás, da região. Hoje, a FAHOR tem nada menos do que 264 convênios ativos com empresas que oferecem estágio e emprego aos estudantes. A própria instituição recebe a informação, formata o anúncio e divulga entre as turmas. Quando se trata de uma oportunidade para quem já está formado, todos os egressos que aceitam continuar no mailing da FAHOR são alcançados.

“Desde a formação da primeira turma, todos seguem recebendo as vagas de emprego. Às vezes a pessoa quer trocar de trabalho ou procura uma oportunidade, quer subir de nível, mudar de cidade”, cogita Blume.

Segundo o vice-diretor, há muito mais vagas de trabalho e estágio do que alunos. Para se ter uma ideia, tem gente que passou no vestibular para iniciar a graduação em 2026 e já solicitou o comprovante de matrícula para se candidatar a uma vaga de estágio, que será iniciado antes mesmo das aulas.

No último vestibular, a John Deere chamou, selecionou e contratou 11 estudantes que haviam passado na prova, mas ainda não haviam assistido a nenhuma aula. “Tempos atrás, [a oferta de vagas] era para quem estava no fim do curso. Nas outras empresas também tem muita vaga, inclusive em outros ramos”, explica Blume.

Além da área de engenharia, que abastece as indústrias da região, o curso de Economia também é bastante procurado por estudantes e empresas parceiras. As cooperativas de crédito estão entre as mais atuantes, com cursos in company e até mesmo a criação de componentes curriculares alinhados com o que se pratica no mercado, de acordo com as especificidades dessas instituições. Sicredi e Cresol, por exemplo, já compõem o ecossistema – e o Sicoob aderiu recentemente.

“Por meio das competências do curso de Economia, montamos curso para certificação de investidores, que os profissionais da área financeira precisam ter, além de MBAs em gestão de cooperativa de crédito, que já realizamos em cidades como Três de Maio, Santa Rosa e Teutônia”, explica Blume.

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Máquinas e bancadas

No caso da John Deere, a parceria ganhou contornos ainda mais práticos, inclusive com maquinários se deslocando para o campus. A relação é uma troca em que todos ganham: os acadêmicos de cursos de engenharia da FAHOR podem entender o funcionamento de equipamentos de ponta e também manusear componentes como motores, em bancadas especialmente montadas para essa finalidade. Em contrapartida, a empresa – que comprou a fábrica de colheitadeiras da SLC, fundada na cidade – pode treinar vendedores e técnicos no mesmo espaço, capacitando equipes de diversos países da América do Sul.

Tudo começou com um centro de treinamento da própria empresa, mas que, em 2012, foi transferido para o campus da FAHOR. “Funcionou legal, mas ficou na mesma durante uns 10 anos. A empresa viu que o desempenho era bom e começou a discutir a ampliação, que foi iniciada em 2023. Hoje, temos uma ampliação de prédio, laboratório, número de instrutores e área de ação”, destaca Blume.

Centro de Treinamento da John Deere | Crédito: Lucas Breunig/Acervo Pessoal

São seis instrutores e oito laboratórios dedicados ao treinamento das equipes da rede autorizada da John Deere, que também ficam à disposição dos estudantes. Somam-se a eles mais de 20 máquinas com tecnologia de ponta, entre elas sete colheitadeiras, 10 tratores, três pulverizadores e três plantadeiras. Todas são dedicadas ao ensino do manuseio e das funcionalidades. É nas bancadas que o monta-e-desmonta acontece, com oito tipos diferentes de motores, que contemplam várias linhas de plantio.

Essa estrutura atende cerca de 400 concessionárias no Brasil, Argentina, Paraguai, Uruguai, Bolívia e Chile – entre outros países com menor participação. Isso porque a John Deere estabelece um mínimo de cursos que os funcionários precisam ter para se manter ativos. Além disso, um concessionário só pode vender determinado modelo depois que os funcionários estiverem treinados para explicar e prestar suporte aos clientes dentro daquelas particularidades. “Sempre que é lançado um produto novo, tem que treinar – e cada vez que entra um funcionário novo, também”, ressalta o vice-diretor da FAHOR.

Vantagem na formação

Lucas Breunig, 18 anos, está no segundo semestre de engenharia. Ele é mais um dos que entraram na graduação com estágio garantido, com bolsa para estudar à noite e desenvolver atividades no centro de treinamentos da John Deere à tarde. Dois meses depois, já estava efetivado – passando a trabalhar em turno integral. As funções ainda são mais administrativas do que técnicas, mas a imersão é real.

“Os técnicos vêm fazer treinamento e os instrutores pegam um trator, por exemplo, e colocam falhas que acontecem na vida real para que eles tentem resolver. A ideia é mostrar caminhos para achar soluções mais rapidamente. Estudam a parte elétrica e a hidráulica para saber o que pode acontecer. Como eu tenho interesse, absorvo muita coisa que eu sei que vai me ajudar bastante na faculdade”, detalha o estudante sobre o dia a dia no CT.

Lucas conta que já aprendeu muito sobre essas áreas e, ciente de que vai ter componentes curriculares como elétrica, hidráulica, mecânica e cálculo, se sente mais preparado do que se não tivesse onde praticar. A relação com os instrutores, segundo ele, também é um diferencial, pois pode tirar dúvidas o tempo todo. “Eu sou da parte administrativa, mas o que tiver para fazer, eu faço. Colocar água no pulverizador para fazer teste, por exemplo”, ilustra.

Tudo isso faz parte da rotina como funcionário do CT. Enquanto aluno, Lucas e os colegas também têm acesso a tudo que a John Deere mantém na estrutura. Sempre que querem utilizar as bancadas e máquinas, assim como desfrutar da orientação dos instrutores, basta que não estejam ocupados com os cursos.

Até mesmo os aparelhos de SmartTV interativos que compõem o centro de treinamento são utilizados pelos professores, nas mais diversas atividades, para explicar os conteúdos. O equipamento permite que eles congelem a imagem, façam marcações na própria tela e passem informações em formato multimídia.

“Já estou usando fórmulas que aprendi aqui, mas sei que vai me ajudar ainda mais daqui para a frente, do terceiro semestre em diante. Em Física e Mecânica, por exemplo, estou recebendo uma base boa. Quando for criar projetos da faculdade, isso vai me ajudar bastante”, acredita Lucas.

Enquanto conversava com Educação em Pauta, o estudante estava no CT. No momento, ele é o único da equipe que ainda não concluiu a graduação. Isso não quer dizer que a presença de acadêmicos fique limitada: durante o dia, é comum que outros alunos da FAHOR passem pelo espaço para ver novidades e tirar dúvidas.

“Por estar no CT, vendo os instrutores, me dá uma inspiração de querer continuar aqui. Admiro o trabalho deles e gosto do que fazem. Seguir por esse caminho é a minha ideia. Também acredito que estar no CT adquirindo conhecimento técnico pode me abrir portas na fábrica, caso eu queira ir”, projeta o estudante.

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