Das competências para a docência no pós-pandemia

Novas habilidades serão necessárias aos educadores comprometidos com uma lógica que busca a aprendizagem de todos, e não a padronização das expectativas e das intervenções pedagógicas

imagem: Depositphotos

Mônica Timm de Carvalho

Mestra em Gestão Educacional pela Unisinos, é especialista em Gestão Empresarial pela UFRGS e Licenciada em Letras (UFRGS). CEO da Plataforma de Leitura Elefante Letrado. 


Ensinar é tarefa humana das mais complexas. Exige conhecimento sobre uma dada realidade (um objeto de estudo) e sobre como se provoca a aprendizagem dos estudantes.

Ao conjunto de conhecimentos e procedimentos empregados intencionalmente na docência é que se dá o nome de didática. Sabidamente, para que essa didática implique os resultados educacionais aspirados, é fundamental que o professor evidencie um conjunto de competências que varia de acordo com o contexto em que se dá o ato educativo. Daí a necessidade do investimento na formação permanente de quem ensina. 

São inúmeros os trabalhos publicados sobre competências para ensinar. Ainda que tais estudos tenham sido e seguem sendo de enorme valia e pertinência, o fato é que seus pressupostos precisarão ser revistos à luz das mudanças que a pandemia trouxe à vida humana em todo o planeta. Não há como negar: a realidade é hoje muito diferente daquela que encontrávamos há apenas dois anos atrás, quando a Covid-19 se estabeleceu no cotidiano de todos nós.

Crianças e jovens ficaram distantes dos processos presenciais da escola durante quase dois anos letivos, o que lhes trouxe incontáveis prejuízos à sua formação. Professores tiveram que se apropriar do funcionamento das novas tecnologias educacionais do dia para a noite, necessitando incluir em suas práticas docentes a realidade das aulas remotas e do ensino híbrido.

O fato é que tudo isso trouxe grandes aprendizagens aos educadores, alguns dos quais mobilizando extraordinários resultados educacionais dos estudantes em ambientes virtuais de aprendizagem. Lamentavelmente, os ganhos não foram equivalentes para todos; já as perdas, em vista dos efeitos generalizados da não presencialidade, resultaram na ampliação das diferenças entre as redes pública e privada. Além disso, passou a ser maior o grau de heterogeneidade encontrado nas salas de aula em geral, e mais díspares os resultados educacionais entre as escolas brasileiras como um todo.

Nesse contexto de urgência, assume maior relevância a competência dos professores para identificar os diferentes estágios de desenvolvimento dos seus alunos em relação às expectativas de aprendizagem. Será com base em avaliação atenta sobre cada estudante que se poderá estabelecer maior personalização do ensino, atitude pedagógica que respeita e acolhe as diferenças, sem perder de vista que o desafio, e não a resignação, é o que mobiliza o desejo de aprender.

Novas habilidades e competências serão necessárias aos educadores comprometidos com uma lógica que busca primeiramente a aprendizagem de todos, e não a padronização das expectativas e das intervenções pedagógicas. E mais: se houver o entendimento de que a diversidade é um valor, serão modeladas intervenções docentes que respeitam e valorizam os diferentes ritmos e possibilidades dos estudantes. Nesse sentido, o currículo deixa de ser uma mera prescrição e passa a ser um horizonte de sustentação a múltiplas trilhas de aprendizagem. O fundamento dessa nova lógica é a convicção de que todos, sem exceção, podem aprender, ainda que por caminhos diferentes. 

Que sejam muito valorizados os professores que se aventuram a tecer diferentes formas de mobilizar a aprendizagem de seus alunos. São profissionais que demonstram, num tempo de tantas mudanças, quão hábeis são na técnica de ensinar para mudar vidas. 

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