Os principais desafios das escolas privadas: uma análise contemporânea
Formação continuada de professores, saúde mental e educação ambiental são temas que precisam receber grande atenção por parte das instituições
Maria Elisa Schuck Medeiros – Doutorado em Educação pela Universidade La Salle (2023). Mestre em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (2005), Graduada em Pedagogia – Habilitação em Orientação Educacional pelo Centro Universitário La Salle (1996) , Especialização em Psicopedagogia Clínica e MBA em Gestão Educacional. Membro do Comitê Provincial de Prevenção de Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes,desde o ano de 2022. Experiência profissional como professora de educação infantil e anos iniciais e EJA (Ensino de Jovens e Adultos), graduação e pós graduação.. Também atuou como orientadora educacional, supervisora educativa, vice-diretora e diretora de escola.Atualmente é Gerente de Educação e Pastoral Rede La Salle no Brasil e Professora de Graduação no curso de Pedagogia da Universidade La Salle.
As instituições de ensino privado no Brasil desempenham um papel de suma importância no panorama educacional nacional, exercendo uma presença marcante na educação básica e propondo uma formação integral, com ênfase na excelência pedagógica.
Contudo, vivemos em uma sociedade cíclica, dinâmica e em constante transformação, na qual a educação se insere de maneira indissociável. Diante das novas realidades globais, surgem desafios para a adaptação às mudanças, exigindo dos gestores habilidades escolares emocionais refinadas para lidar com realidades até então desconhecidas e que, por muito tempo, não fizeram parte de sua vivência. Esse cenário exige uma reflexão minuciosa, pois, em um mundo marcado pela incerteza, não lidamos com certezas absolutas.
A cada novo ano, surgem desafios que se intensificam, renovam-se ou se metamorfoseiam, mas, invariavelmente, estão presentes no contexto educacional. Ser gestor, portanto, no contexto atual, implica na capacidade de transitar com habilidade por essas incertezas, com resiliência, discernimento e sabedoria, de modo a transformar tais obstáculos em oportunidades significativas de crescimento.
A seguir, apresentamos alguns dos desafios que, além de representarem entraves, podem ser alavancados para que as escolas privadas se qualifiquem e se destaquem no cenário educacional de 2025.
1. Formação Continuada dos Professores
A formação continuada de professores é um dos pilares fundamentais para a manutenção da qualidade educacional. No Brasil, embora as escolas privadas apresentem uma infraestrutura superior em comparação às instituições públicas, frequentemente enfrentam desafios que não tangem à garantia da atualização e qualificação constante de seus educadores. Esse aspecto é revelador essencial, pois o cenário educacional está em permanente transformação, exigindo que os docentes estejam preparados para lidar com novas abordagens pedagógicas, alterações nos currículos e as demandas específicas de sua atuação.
O desafio, portanto, reside em garantir que a formação dos professores tenha real pertinência, voltada para as necessidades concretas da equipe docente, e que não se limite a uma fase pontual, mas se configure como uma prática contínua. Dessa forma, a formação deve possibilitar momentos de aprendizagem colaborativa que favoreçam reflexões profundas sobre as ações pedagógicas.
2. A Educação Ambiental como Resposta aos Desastres Climáticos
Em um cenário global de crescente conscientização sobre as questões ambientais e os impactos das mudanças climáticas, as escolas privadas no Brasil enfrentam o desafio de integrar a educação ambiental de forma profunda e consistente em seus currículos e práticas cotidianas.
O Rio Grande do Sul, por exemplo, tem sido severamente impactado por desastres climáticos, como enchentes e tempestades, que provocam danos substanciais à infraestrutura e comprometem a vida de milhares de pessoas. Nesse contexto, a conscientização sobre a importância de adotar práticas sustentáveis e preservar o meio ambiente não deve ser encarada como um tema pontual no currículo, mas sim como uma abordagem transversal que permeie todas as disciplinas e atividades escolares.
Para que as escolas possam educar de maneira eficaz sobre a preservação ambiental, é imprescindível que haja um envolvimento coletivo, envolvendo alunos, educadores, funcionários e famílias. Trata-se de uma oportunidade única para as instituições educacionais desenvolverem pesquisas e atuarem de maneira proativa, expandindo sua influência para além de seus muros e contribuindo para a formação de uma consciência ambiental mais sólida e transformadora, que estimule mudanças significativas no comportamento das pessoas, pois são essas que transformam o mundo.
A integração das tecnologias digitais no processo de ensino-aprendizagem é outro grande desafio para as escolas privadas. Hoje, as escolas enfrentam o desafio de integrar ferramentas digitais de maneira eficiente e permanente, não apenas para suprir lacunas, mas para enriquecer o processo de aprendizagem, oferecendo novas formas de interação, personalização e acesso ao conhecimento.
A tecnologia tem o potencial de transformar o ensino tradicional, proporcionando experiências mais dinâmicas e colaborativas, com recursos como plataformas de ensino online, jogos, vídeos educativos interativos e ferramentas de feedback instantâneo.
Entretanto, um dos maiores desafios é garantir que tanto os estudantes quanto os professores saibam utilizar essas ferramentas de forma eficaz e responsável. A Inteligência Artificial (IA), por exemplo, representa uma área de grande potencial, mas também um grande desafio, pois exige dos estudantes a capacidade de compreender seus mecanismos e impactos, evitando o uso superficial ou indevido.
Assim, as escolas privadas precisam criar estratégias para integrar as tecnologias de maneira equilibrada, promovendo o uso responsável e pedagógico de dispositivos como smartphones, tablets e laptops. Isso implica, entre outras coisas, no desenvolvimento de habilidades que permitam aos estudantes navegar em um mundo digital cada vez mais complexo, ao mesmo tempo em que as escolas precisam lidar com as implicações de legislações como a Lei Federal 15.100/2025, que proíbe o uso dos celulares na sala de aula que não seja para fins pedagógicos e orientado pelo professor.
4. Saúde Mental das Famílias e Estudantes, Combate à Violência
Nos últimos anos, questões relacionadas à saúde mental ganharam enorme relevância dentro das escolas, tanto para os estudantes quanto para as famílias. Oferecer programas de educação emocional e oficinas sobre como lidar com o estresse e a ansiedade podem ajudar a construir a resiliência de crianças e adolescentes. Além disso, a promoção de um ambiente escolar mais acolhedor e flexível, que leve em consideração o bem-estar psicológico dos estudantes, é fundamental para garantir que estes não apenas aprendam, mas se sintam seguros.
A violência nas escolas é uma realidade preocupante que afeta diretamente o ambiente de aprendizagem e o bem-estar dos alunos. Essa violência pode se manifestar de várias formas: agressões físicas, verbais, psicológicas, racismo, homofobia, discriminação de classe social e até violência sexual. Muitas vezes essa violência acontece de forma velada, dificultando a percepção dela no ambiente.
O bullying é uma das formas mais insidiosas de violência nas escolas, impactando benefícios na saúde mental e emocional dos alunos. O impacto do bullying vai muito além do momento da agressão: ele pode afetar toda a trajetória escolar da vítima e comprometer seu desenvolvimento emocional e social. Por isso, as escolas têm um papel crucial na prevenção e combate a esse problema. Não se trata apenas de punir os agressores, mas de educar toda a comunidade escolar sobre as consequências desse comportamento, incentivando e promovendo uma cultura para a paz.
Programas de conscientização, que envolvem palestras, atividades e discussões sobre o bullying, devem ser implementados para educar os estudantes. Além disso, a escola precisa criar protocolos claros de intervenção, para lidar com os casos de bullying de maneira eficiente e rápida. A formação de uma rede de apoio dentro da escola é fundamental para fornecer o suporte necessário para as vítimas e para trabalhar com o agressor.
Uma abordagem preventiva também é importante. Incentivar os alunos a serem aliados no combate ao bullying, criando grupos de apoio e promovendo a inclusão, pode fazer a diferença. O protagonismo estudantil é uma excelente ferramenta para que os próprios estudantes se sintam responsáveis pela criação de um ambiente de respeito e amizade.
A criação de um ambiente escolar saudável e seguro é responsabilidade de toda a comunidade escolar — gestores, professores, funcionários e famílias. Investir na saúde emocional dos alunos, promover uma cultura de respeito e empatia, e garantir a aplicação de políticas de prevenção e intervenção no combate à violência são passos essenciais para que os estudantes possam desenvolver-se de maneira plena e equilibrada.
Ao implementar ações voltadas à promoção da saúde mental e ao combate à violência, as escolas privadas não estão apenas voltadas para o crescimento acadêmico de seus alunos, mas também para sua formação como cidadãos responsáveis, solidários e conscientes de sua importância na construção de uma sociedade mais justa e respeitosa.
Diante dos diversos desafios surgem também as oportunidades para as escolas transformarem essas dificuldades em áreas de inovação e liderança. Essas oportunidades, ao serem devidamente exploradas, não apenas ajudam a resolver problemas imediatamente, mas também posicionam as escolas privadas como líderes em uma educação mais eficaz e adaptada às exigências do século XXI.
Ao abraçar o desafio de criar um ambiente escolar seguro, acolhedor e que promova o bem-estar de todos, as escolas privadas podem fortalecer sua identidade e atrair famílias que buscam uma educação de qualidade e integral. Além disso, essas iniciativas ampliam a capacidade de resposta da escola diante das mudanças sociais e tecnológicas, tornando-a mais resiliente e capaz de formar cidadãos críticos, conscientes e preparados para enfrentar os desafios do futuro.
O compromisso com o cuidado com a saúde mental, a formação contínua de educadores e a educação responsável em relação às tecnologias são, portanto, pilares que podem não apenas melhorar o ambiente educacional, mas também garantir uma educação que respeita e valoriza as necessidades de cada estudante.
Dessa forma, as escolas privadas podem se destacar como instituições que, além de formar profissionais capacitados, também valorizam o desenvolvimento de cidadãos mais éticos, empáticos e comprometidos com a sociedade, refletindo o papel da educação na construção de um futuro mais justo e equilibrado para todos.
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