Pais educadores: como é a vida entre ensinar alunos e cuidar dos filhos
Em alusão ao Dia dos Pais, professores contam como são suas rotinas e os aprendizados que tiveram com essa fase diferenciada de suas vidas
Por definição (e por que não mencionar “por coração”), professor é aquele que cria e educa uma criança, um adolescente e, até mesmo, um adulto. Para celebrar o Dia dos Pais, contaremos três histórias: de um músico, de um engenheiro e de um agrônomo. Todos professores, cada um representando diferentes fases da vida escolar: Educação Básica, Ensino Técnico e Educação Superior.
Em suas histórias de vida eles relatam sobre o que aprenderam com a paternidade, as qualidades adquiridas e que foram transpostas, de alguma forma, aos seus alunos em sala de aula.
No compasso da aprendizagem
Além de educador musical, Cristiano Augusto Mundt é trompetista, trombonista e saxofonista. Desde o segundo semestre do ano passado dá aulas de música no Colégio Coração Sagrado de Jesus, em Arroio do Tigre. Leciona nos turnos da manhã e tarde para alunos da Educação Infantil até do 9° ano do Ensino Fundamental.
Além do colégio, atua também em uma escola municipal em Passa Sete. Nesse ambiente escolar tem a responsabilidade de reger a banda marcial.
A recente chegada de Martim, de nove meses (que no meio da entrevista engatinhava em seus pés), modificou a sua vida. A alegria de acompanhar cada “sinfonia” de aprendizado do filho é algo especial. “Mudou bastante meu modo de viver, são outras preocupações. O grande foco é estar em casa para cuidá-lo”, diz.
Atenção e paciência são algumas das atribuições desenvolvidas na vida de um pai, ainda mais para quem é de primeira viagem, com muitas novidades.
Para o docente, escutar mais seus estudantes é algo que se tornou recorrente, fruto dessa convivência com o filho. “Meus alunos vêm contar as suas historinhas, do que aconteceu na semana. Falam também das suas evoluções musicais”, reforça.
Essa maneira de agir em casa facilita o trabalho na escola, ainda mais diante de uma faixa etária variada. Com os menores, o professor usa mais a música como divertimento, ensina movimentos, coreografias e cantos. Já para os maiores é fazê-los entender o conteúdo musical, ler partituras e ensiná-los a tocar a flauta doce. Em alguns momentos, os estudantes mostram o que aprenderam em apresentações de homenagem ao Dia das Mães ou ao Dia dos Pais.
Para o educador, o seu desejo é proporcionar o melhor possível ao filho. Classificado como “bem calmo”, Martim gosta quando seu pai toca um violão para ele escutar, mas até um certo tempo. “Até querer meter a mão nas cordas”, brinca o pai de, quem sabe, um futuro músico.
A engenharia para voltar a estar com os filhos
Durante a semana, o professor técnico e coordenador do curso de Agrimensura da Escola Bom Pastor, Marciano Carneiro, enfrenta a estrada para transmitir seus conhecimentos para estudantes. Com residência em Porto Alegre, o pai da Sofia, de cinco anos, e do Filippo, de oito anos, se desloca quase todos os fins de semana para Nova Petrópolis. Em algumas ocasiões, dá aulas em São Leopoldo e Santa Maria.
Às sextas-feiras, o professor inicia uma espécie de engenharia logística. Pela manhã, pega seu carro e deixa as crianças na escola e, por volta das 17h, ruma para a Serra Gaúcha para lecionar à noite. Pernoita na cidade e, no sábado, seguem as aulas para, no final da tarde, voltar à capital gaúcha. Aí, sim, é hora do programa familiar com os filhos e sua mulher, Kelly.
Com as crianças, Carneiro destaca que foi uma nova e diferente etapa da vida do casal. O modo de viver se tornou ainda mais responsável, com um forte sentimento de compromisso, educação e presença. “Por mais que tenham esses momentos de distância, estar presente com eles é a minha prioridade”, frisa.
Desde 2011, é professor, porém, com a chegada dos filhos, notou que a sua dinâmica em sala de aula se transformou. Com alunos do curso técnico, que variam de 17 a 60 anos, a proposta é trazer um conteúdo dinâmico, independentemente da idade. “Sinto que mudou muito o meu comportamental, tento transmitir o conhecimento de uma maneira mais fácil e com paciência”, salienta.
Plantando o orgulho pela profissão
“Meu pai é professor”. Com muito orgulho, o pequeno Ricardo, de cinco anos (recém completados em junho), disse essa frase algumas vezes para suas professoras de escola, conta o pai, pesquisador e professor do curso de Agronomia da Faculdade Setrem, Rodrigo Danielowski.
Com todos os familiares em Pelotas, o educador aceitou, em 2018, o convite de ser docente na instituição de Ensino Superior em Três de Maio. A vantagem de morar em uma cidade pequena, com cerca de 23 mil habitantes, permite que a rotina com o filho seja mais presente.
Pela manhã e à tarde, atua na área da pesquisa e, à noite, leciona. Pela proximidade de onde reside, consegue sair da faculdade e almoçar em casa com Ricardo e sua esposa. Após a refeição, volta para a instituição de ensino e seu regresso ao lar é por volta das 22h, mas aí só consegue ver Ricardo dormindo. Sábados e domingos estão liberados – momentos para desfrutarem as vivências juntos.
Para Danielowski, o professor tem uma simbologia de ser um ponto referência, algo que representa o que é correto. É aquele que transmite saberes. Ele acredita que o orgulho do seu filho pela sua profissão esteja associado a isso.
A responsabilidade de ser pai muda completamente o modo de raciocinar, pois se pensa muito mais de forma conjunta. A chegada de um filho vem solidificar a família de vez. Para seus estudantes, o docente consegue, por meio da sua paternidade, transmitir essa proximidade e dar essa atenção. “De certa forma, o professor se torna alguém que pode servir de exemplo. É a quem os alunos buscam obter mais informações para aprender. A relação com o filho permite isso, passar os conhecimentos para educar”, pontua.
Enquanto Ricardo sonha em ser mágico quando crescer, como aluno, já se destaca, é interessado em aprender assuntos avançados para sua idade. Um dos seus lazeres é ver séries educativas por streaming.
“Um dia desses, ele estava me falando sobre os glóbulos vermelhos”, relata o orgulhoso pai e professor.
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