Qual papel da escola confessional?
Para Luciano Centenaro, gerente educacional dos Colégios da Rede Marista, o modelo aplicado hoje precisa buscar outra maneira de atuação
Luciano Centenaro
Gerente Educacional dos Colégios da Rede Marista
Na exortação apostólica Evangelii Gaudium: a alegria do evangelho, o Papa Francisco convida a sermos “Igreja em Saída”. Como tal, faz chamamento para que não sejamos uma organização que se basta em si mesma, porém que assuma sua vocação missionária. Trata-se de uma Igreja comprometida com o movimento de estar em busca, de ir ao encontro, de colocar-se próxima, especialmente daqueles que mais necessitam. Que faça sentido na propagação de um evangelho que não reproduza as exclusões e que atinja a todos.
Tenho refletido sobre o papel da escola confessional, cristã e católica na missão de sermos Igreja em nossos espaços de missão. Por muitos e muitos anos foi possível esperar pacientemente que nossas crianças e jovens viessem até nossos sagrados espaços escolares e pudessem receber os ensinamentos necessários para que professassem sua fé de maneira ética e solidária à luz do evangelho de Jesus Cristo.
Seria isso o suficiente nos dias atuais? Seria esse o convite feito pelo Papa Francisco por meio da Evangeli Gaudium e de potentes ferramentas, como o Pacto Educativo Global e a Igreja Sinodal, que nos convidam a caminhar juntos?
Na livre e espontânea tradução dos ensinamentos legados até então pelo Papa Francisco, entendo que a escola confessional hoje precisa buscar outra maneira de atuação. Verdade que muitas iniciativas são feitas no sentido de minimizar as dificuldades sociais encontradas, principalmente no que diz respeito à assistência social, importante ferramenta para diminuir a dor daqueles que mais sofrem com necessidades básicas. Porém, o que se espera, na minha percepção, é mais do que um olhar “de dentro para fora”.
Trata-se de pensar uma escola confessional de “portas abertas”, uma escola cujo legado esteja na sua capacidade de transcender seus muros e contribuir para uma sociedade que preze pelos valores do evangelho. Uma escola que possa fazer a diferença por meio do empreendedorismo social, voluntariado e construção de uma economia menos excludente e pautada nas reflexões contemporâneas da nova economia de Clara e Francisco. Uma escola que possa mostrar alternativas para a sociedade, mesmo que esta insista em não disponibilizar as menores condições aos mais necessitados.
Pensar um universo escolar em que os conhecimentos historicamente construídos sirvam de subsídios para a melhor tomada de decisão. Uma escola que possa ir ao encontro e não de encontro com quem pensa diferente. Uma escola que não fique apenas na reflexão, mas que ocupe os espaços externos com campanhas, projetos, pesquisas e ações que possam alterar para melhor as condições da comunidade que a cerca. Uma escola que valorize a arte, filosofia, matemática, sociologia, linguagens e ciências, entre outras, e que seja reconhecida pela sua capacidade criativa, construtiva e reflexiva. Que não seja autoritária com o saber e que compreenda a natureza das diferentes formas de pensar.
Faço votos que possamos ver esta escola de “joelhos ralados”, que se ajoelha para orar pelos mais necessitados e também para brincar e defender nossas crianças. Uma escola que, apesar de sua idade, se faz nova, todo dia. E que, a cada dia que passa, consegue reconstruir um universo de possibilidades a partir dos conhecimentos nela desenvolvidos. Uma escola aberta, acessível, participativa, cocriativa, realizada, feliz… uma “escola em saída”, que não cabe mais dentro de si própria pelo desejo de ir ao encontro.
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