A escola também deve ensinar a comer alimentos saudáveis

Para Lara Folster, escola tem o papel pedagógico de conscientização sobre a importância de ofertar alimentos in natura nas instituições

imagem: Freepik

Lara Folster

Estudou no Natural Gourmet Institute for Health and Culinary Arts, em Nova York e é fundadora da Lanche&Co, empresa que leva comida de verdade para escolas. Fundou a empresa quando se tornou embaixadora no Brasil do projeto Food Revolution, do chef Jamie Oliver, em 2012. A ideia inicial veio do desafio de alimentar de forma saudável o próprio filho nos primeiros anos de escola, diante da competição com salgadinhos, docinhos e refrigerantes de seus colegas. 

Entre todas as discussões sobre currículo escolar, ainda se fala pouco sobre um papel fundamental das escolas: ensinar a comer de forma saudável. Um aprendizado que vale tanto para as crianças, quanto para os pais que passam a elas, no dia a dia da casa, os hábitos alimentares. 

Culturalmente há um entendimento de que a alimentação dos pequenos deve deixá-los felizes. Enquanto adultos estão preocupados com sua saúde, buscam um cardápio variado e com menos açúcar, as crianças recebem fast food e ultraprocessados – aqueles feitos com ingredientes artificiais. Não surpreendentemente, esses acabam sendo os mais pedidos em lanchonetes escolares, ou os mais encontrados nas lancheiras.

É, de fato, difícil competir com salgadinhos e refrigerantes coloridos. Os alimentos ultraprocessados são feitos para serem amados: além de virem com quantidades de açúcares viciantes, há um enorme marketing por trás de suas produções que faz com que eles sejam colocados no topo da lista para o público infantil, em contraponto a frutas e legumes, com suas imperfeições naturais e pouco carisma. É ainda mais difícil concorrer com essas opções depois que o paladar se acostuma a elas. 

Soma-se ainda o fato de os industrializados serem invariavelmente mais baratos, acessíveis e práticos – mães e pais sabem bem o trabalho de se cozinhar uma refeição do zero ou de preparar uma lancheira diariamente. Mas os efeitos para a saúde de ingerir com frequência os ultraprocessados são também devastadores, podendo causar doenças crônicas como obesidade, diabetes, e problemas renais. Por isso, ensinar a alimentação saudável desde cedo é fundamental. 

Daí entra o papel da escola na missão de mostrar a importância da comida de verdade. Isso passa não apenas por um processo pedagógico de conscientização sobre a importância de equilibrar diversos nutrientes no prato, mas também pela oferta de alimentos in natura no interior das instituições. Em alguns municípios do país, inclusive, já é proibida a venda de industrializados nas cantinas – o que não significa que, na prática, a lei seja cumprida. 

Vale lembrar que alimentação de qualidade e consciente não se restringe só aos alimentos escolhidos. Diz respeito a toda a cadeia de produção e preparo, desde a origem dos produtos à gestão do desperdício e dos insumos. Se queremos educar nossas crianças para um mundo mais sustentável, é importante que vejam no seu dia a dia a adoção de embalagens recicláveis ou biodegradáveis como norma, e saibam do destino dos restos dos pratos. 

Há hoje bancos de alimentos, por exemplo, que retiram aquilo que seria desperdiçado e distribui para pessoas em situação de insegurança alimentar. Já os resíduos orgânicos da cozinha podem ir para compostagem, virando adubo para as plantas. 

Por fim, trazer a criança para a cozinha e ensiná-la sobre os cuidados da mesa e o respeito com aqueles que preparam as refeições é fundamental. Cozinhar pode ser divertido, além de trazer benefícios diretos para a saúde e para o convívio familiar.

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