A formação docente no século XXI: personalização e coletividade

Especialista em gestão escolar fala sobre os desafios e as oportunidades na formação continuada de profissionais para auxiliar o educador

imagem: AdobeStock

Marícia Ferri

Doutora em Educação, atua há mais de 20 anos na área educacional, com ênfase em Gestão Escolar. Cocriadora da Escola de Professores Inquietos. Diretora Pedagógica do Colégio Farroupilha e membro da Diretoria do SINEPE/RS

Para discutirmos a temática da formação continuada dos profissionais que atuam na Educação Básica, é preciso, antes de qualquer coisa, considerar sua previsão na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira (LDB), de 1996. A inserção e a garantia dessa prática no texto do dispositivo legal atribuem à formação dos profissionais da educação não apenas um aspecto fundamental, mas um caráter necessário frente às múltiplas e incessantes mudanças impostas pela contemporaneidade. E são esses desafios que nos convidam a uma atuação conjunta e epistemologicamente embasada na garantia da educação e do desenvolvimento de nossas crianças e de nossos jovens.

“A personalização da formação docente é essencial para que possamos, de fato, auxiliar o educador em seu crescimento pessoal e profissional. Em que pesem os desafios dessa implementação, o ideal é que o mesmo processo seja extensivo a outros profissionais da educação”

Marícia Ferri – Diretora Pedagógica do Colégio Farroupilha e membro da Diretoria do SINEPE/RS

No bojo dessa realidade educacional em constante mudança, é possível observar, no espaço escolar, a presença dos mais variados temas que nos convocam à reflexão e à ação. São, nesse sentido, as inquietações no âmbito pedagógico que produzem os deslocamentos impulsionadores de um pensar sobre a formação continuada na Educação Básica.

Pensar, por exemplo, a respeito do que deve ser considerado, em qual deve ser a metodologia ou de que modo envolver e tranquilizar os pais nos casos de adaptação das crianças à escola, além de ponderar sobre “como” os profissionais das equipes pedagógicas e os docentes têm planejado as experiências de aprendizagem dos estudantes, sem deixar de refletir sobre a organização e as formas de ocorrência dos processos avaliativos. Na perspectiva dessa análise, é também imperativa a reflexão acerca da inteligência artificial, que impacta e impactará cada vez mais a experiência de nossos alunos, ou, ainda, do desenvolvimento de soft skills no ciclo básico da educação. Essas são algumas das ponderações que perpassam o cotidiano escolar e que, só ancoradas em um viés formativo, darão aos profissionais que atuam nas escolas condições mínimas de compreensão dos fenômenos que dirigem o tempo presente – afetando os modos de ser, estar e agir (por meio de decisões que impactam vidas) dentro e fora do ambiente escolar.

Percebe-se como algo comum, as instituições organizarem momentos de formação no início do ano letivo. No entanto, cabe lembrar que as demandas que envolvem mudanças sociais, políticas e culturais são cada vez mais céleres, e, em razão disso, a oportunidade de reflexão pedagógica deveria perpassar todo o ano letivo, abordando pautas que venham ao encontro das necessidades da comunidade escolar. Aqui, me refiro tanto às formações que atendem a uma demanda técnica, quanto àquelas que visam ao debate em torno de outras questões, independentemente de dizerem respeito a um campo específico ou ao campo da formação docente com seus saberes didático-metodológicos. Nesse contexto, inclusive, pode haver temas que demandam maior discussão e aprofundamento, como ocorre com as temáticas da avaliação e das metodologias ativas. 

Para além das questões técnicas, as relações interpessoais estão presentes nos processos formativos. Muitos adultos passam a maior parte do seu tempo no ambiente escolar, sendo comum o surgimento de conflitos. Essa abordagem, portanto, precisa fazer parte do programa de desenvolvimento dos profissionais, sendo inserida na formação pedagógica.

Ainda, na perspectiva da gestão escolar, é importante considerarmos como os adultos aprendem e quais metodologias são necessárias aos momentos de formação. Além disso, é preciso entendermos as reais necessidades dos professores. Nesse sentido, a personalização da formação docente é essencial para que possamos, de fato, auxiliar o educador em seu crescimento pessoal e profissional. Em que pesem os desafios dessa implementação, o ideal é que o mesmo processo seja extensivo a outros profissionais da educação.

Ao longo de 2022, o Colégio Farroupilha convidou as escolas que participaram do movimento  “Porto Alegre – Cidade Educadora” para cocriarem um evento que visasse à formação de professores: o Inteligência Coletiva. As experiências foram divididas a partir de relatos organizados no interior de palestras e workshops que proporcionaram momentos significativos de aprendizagem e reflexão docente, consolidando-se, então, uma perspectiva de extrema importância: reunir escolas com o propósito de colocar no centro do debate, em nossa cidade e em nosso Estado, melhorias para a educação, as quais, invariavelmente, devem passar pela dimensão formativa.

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