Alfabetizar é ler o mundo

Neste artigo, Tatiane Ayala Waldow faz uma abordagem em que conecta alfabetização, mundo digital e cidadania

imagem: Gemini

 

Tatiane Ayala Waldow é coordenadora do Ensino Fundamental I no Colégio Anchieta de Porto Alegre (RS). Graduada em Letras e mestre em Gestão Educacional. Tem experiência na área de Educação, atuando principalmente na educação básica e gestão educacional. Escritora de livros infantis.


O patrono da educação e da alfabetização no Brasil, o educador e filósofo Paulo Freire, já afirmava: “A alfabetização é mais, muito mais, do que ler e escrever. É a habilidade de ler o mundo.” Em sintonia com esse pensamento, em uma escola de tradição católica e de pedagogia inaciana, o propósito é formar pessoas para o mundo, que possam, ao longo de suas vidas, agir a partir dos princípios humanistas e cristãos, que pressupõem conviver e atuar com e para os outros. Essa missão, no entanto, envolve desafios cada vez mais complexos.

A leitura abre as portas para saberes e experiências que se somam na constituição do sujeito, desenvolvendo habilidades e competências essenciais para a aquisição de novos conhecimentos e atitudes. Ler supõe compreender o que está desenhado nas letras, seja no papel, no quadro ou na tela de um dispositivo digital qualquer. Os meios para chegarmos a este ideal são permeados por intervenções e esforços diários e integrados entre professor, família e estudante.

Ler o mundo se torna uma alegria e um legado, pois não se tem notícias de alguém que desaprendeu a ler, ou “desleu”! O compromisso com o mundo por meio da leitura e da escrita vira nosso ideal de vida. Precisamos desta capacidade para tarefas simples e para interpretar os cenários em que atuamos.

Quando se ingressa no 1º ano do Ensino Fundamental, etapa em que somos alfabetizados formalmente, passamos a exercitar a nossa sociabilidade, pois ninguém aprende sozinho. A função social da escola ultrapassa a dimensão cognitiva e de decodificação de signos. Ela incentiva o estudante a conviver e partilhar o que sabe, suas hipóteses expressas em diversos modelos de escrita por meio de múltiplas linguagens: plástica, tecnológica, musical, oral, corporal, matemática e tantas outras que ampliam sua visão de mundo.

É nesse ponto que a alfabetização se conecta diretamente à cidadania global. Comunicar-se não é apenas usar a língua materna, mas abrir espaço para outros idiomas, para diferentes códigos e para novas formas de interação. Quanto mais reduzimos distâncias geográficas e culturais, mais fortalecemos os laços de solidariedade.

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Na perspectiva da Rede Jesuíta de Educação, alfabetizar é um compromisso com a formação integral. Significa colaborar para que cada criança aprenda não só a ler e escrever, mas também a ler a si mesma, o outro, o mundo e a presença de Deus na vida cotidiana. Esse processo se sustenta na pedagogia inaciana, que convida a contextualizar, experienciar, refletir, agir e avaliar — formando sujeitos críticos, conscientes e comprometidos com os demais.

Por isso, alfabetizar não se restringe ao letramento. É também cultivar o cuidado com a Casa Comum, o respeito à diversidade e o compromisso com um planeta sustentável. É preparar leitores capazes de discernir no universo digital, compreender diferentes culturas, dialogar em múltiplos idiomas e linguagens, estabelecendo vínculos e relações marcadas pela justiça e pela solidariedade.

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