Consciência ambiental se cultiva na escola
Profissionais da educação e do meio ambiente apontam a melhor forma de abordar mudanças climáticas e como utilizar a educomunicação em aula
É na escola que descobrimos o mundo e o que se passa nele. Seja o funcionamento de organismos, como os humanos surgiram ou como evoluímos enquanto sociedade. Também é na escola que começamos a entender o que é aquecimento global, qual a importância das árvores para a qualidade do ar que respiramos, e passamos a ter dimensão do que são as mudanças climáticas.
Em 2024, assunto não faltou em relação a esse tema. Além de vermos 95% do Rio Grande do Sul ser afetado por uma enchente, houve aumento de 221% nas áreas queimadas no Cerrado. A Amazônia, por sua vez, enfrentou a pior seca já registrada, com rios atingindo níveis mínimos alarmantes.
Professora do Colégio La Salle Niterói, de Canoas, na Região Metropolitana de Porto Alegre, Bárbara Alves destaca que a educação ambiental tem contribuído na formação dos jovens desde as turmas iniciais. Em um primeiro momento, os conteúdos ajudam a criar consciência sobre esse problema enfrentado pelo mundo inteiro. Mas a iniciativa vai além: engaja a comunidade escolar na temática, algo considerado muito importante em uma escola em que 40% dos estudantes foram atingidos pela água das cheias no ano passado.
Bárbara é coordenadora do projeto “Exploradores da Terra: Juntos Fazemos a Diferença”, que leva os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODSs) da Organização das Nações Unidas (ONU) para a sala de aula. “O projeto nasceu em 2022, a partir da leitura de ‘A Gargalhada de Alegria de Dona Ecologia’. Estudamos e construímos algumas coisas com as crianças, como o ‘Papapapel’, e isso se espalhou pela escola”, conta.
O “Papapapel”, segundo a professora, é um coletor apenas de papel, como o nome sugere. O material recolhido é reciclado pelos estudantes para serem reutilizados. A aceitação foi grande, e as famílias foram convidadas a participar do projeto.
A escola também criou momentos como o “lanche sem lixo”, incentivando os jovens a preparar a refeição em casa, engajando os adultos na tarefa e tentando não usar embalagens. Assim, o projeto estimula a criação de soluções para as questões ambientais e da própria sociedade, como o consumismo. “Eles começam a entender que, além de preservar o meio ambiente, estamos gastando de forma desnecessária”, reflete a professora.
Em razão da enchente, o projeto não chegou a entrar em temáticas mais profundas, respeitando o trauma vivido pelos estudantes. Bárbara conta que os mais jovens voltaram com medo da chuva, então, foi necessário um trabalho lúdico e com acolhimento ao sentimento de perda. Para este ano, um projeto de iniciação científica, previsto para agosto, busca focar em soluções, como a prevenção das enchentes.
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A consultora ambiental/ESG Nájila Rocha explica que o primeiro passo para trabalhar a educação ambiental e as mudanças climáticas é ilustrar para o estudante que o problema não está longe da realidade dele e, principalmente, que é um algo atual e não do futuro, nem de uma categoria específica.
“O problema é de todos, nós todos estamos vivendo. Não é só do cientista ou de quem governa. Eu acredito muito que é através da educação que a gente vai fazer essa mudança, sim, mas a gente precisa capacitar professores, trazer ciência para dentro da sala de aula e não só na aula de Ciências”, analisa Nájila.
Dentro da abordagem das mudanças climáticas nas escolas, a consultora ambiental defende que deve haver uma interdisciplinaridade do tema. Na forma prática, ela sugere conectar o conteúdo em si com a disciplina, por meio de projetos, ações e até com ideias propostas pelos alunos.
“É entender que a gente pode alfabetizar uma criança lendo um livro da Chapeuzinho Vermelho ou um livro infantil que trabalha mudanças climáticas, questões sociais, ambientais”, opina.
Outra prática que pode ser adotada pelos educadores, de acordo com Nájila, é a proposição de projetos que o aluno possa aplicar na vida dele, provocando a análise da criança ou do jovem dentro da sua realidade e não a situação de um país distante, por exemplo. “A gente precisa falar com as pessoas, conversar, pensar em ideias novas, precisamos que os jovens tragam ideias novas”, ressalta.
A professora da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (USP) e membro do Comitê Consultivo da Secretaria Especial de Mudanças Climáticas da Prefeitura de São Paulo (SECLIMA) Thaís Brianezi acredita que a educomunicação pode ser usada como aliada na educação ambiental. Ela explica que a educomunicação é entender o direito à comunicação na prática, que cada pessoa não é só receptora, mas também emissora de uma mensagem.
“Não é só acesso à informação, linguagem simples, transparência. É trabalhar a escuta ativa, os processos de participação e a educação mediática, como os estudantes e professores podem se apropriar das tecnologias de comunicação para produzir conhecimento sobre emergência climática”, explica Thaís.
A professora defende que todo canal é válido, seja produções textuais, quadrinhos, podcasts, vídeos, peças. Ela destaca que cada um vai encontrando a linguagem apropriada para emitir uma informação. As práticas educomunicativas podem ser levadas para as seguintes áreas:
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