Entenda o Transtorno do Desenvolvimento Intelectual e suas formas de inclusão
Devido à amplitude de características das pessoas com Deficiência Intelectual (DI), o processo de aprendizagem requer uma atenção especial
Pessoa com Deficiência Intelectual (DI) ou Transtorno do Desenvolvimento Intelectual. Estas são as formas para se referir a quem tem este transtorno do neurodesenvolvimento, cujos sintomas costumam se manifestar no período de desenvolvimento, inclui déficits funcionais, tanto intelectuais quanto adaptativos, nos domínios conceitual, social e prático.
Segundo a psicóloga e especialista em Transtornos do Desenvolvimento, Claudia Lisandra Klein, geralmente a DI se manifesta no período de desenvolvimento da criança. As mesmas podem demonstrar ter mais dificuldade de adaptação, por exemplo, na creche, e demorar mais para aprender habilidades que envolvam a leitura, escrita, matemática, tempo ou dinheiro, sendo necessário apoio em uma ou mais áreas para o alcance das expectativas associadas à idade.
As crianças com DI podem ser identificadas nos dois primeiros anos de vida, pois irão apresentar atrasos em marcos importantes do desenvolvimento, como motores (podem demorar a engatinhar e caminhar) linguísticos (atraso na fala) e sociais.
É de ressaltar a diferença de deficiência intelectual e deficiência mental. “A mental está mais ligada ao contexto e intervenções psiquiátricas e/ou psicológicas”, salienta a psicóloga da Unidade Pindorama da Instituição Evangélica de Novo Hamburgo (IENH), Aline Roberta Saile.
4 fatores mais recorrentes de pessoas com Deficiência Intelectual
Fonte: Claudia Lisandra Klein, psicóloga e especialista em Transtornos do Desenvolvimento
Dinâmicas em sala de aula
O processo de inclusão é para que ocorra o processo de aprendizagem do aluno com DI. As pessoas consideradas “atípicas” estão tendo cada vez mais oportunidades, pois a diferença é parte da natureza humana e é fundamental para que haja mais oportunidades para todos. “Neste sentido, o professor deve desenvolver práticas pedagógicas eficientes, para que aconteça a inclusão e aprendizagem”, sinaliza Claudia.
De acordo com a especialista, a criança com DI vai crescendo e tornando-se um adolescente, por isso é importante que os programas pedagógicos sejam relevantes às suas necessidades e adaptados às suas habilidades individuais. Os professores precisam acreditar na capacidade do adolescente com DI de superar seus limites.
Programas de ensino que envolvam as emoções e o conhecimento do próprio corpo são bem-vindos neste período de desenvolvimento, bem como programas de preparação para o mercado de trabalho. “Resumindo, quanto mais o professor dá significado à aprendizagem, mais seu aluno vai aprender”, salienta.
Na Unidade Oswaldo Cruz, da IENH, a psicóloga Vanessa Marikelly Vauchinski, explica que os estudantes, da Educação Básica, possuem um currículo personalizado e são acompanhados por um auxiliar de atividades escolares para que possam ter um atendimento mais individualizado, tanto na infância, quanto na adolescência. “Dependendo do desenvolvimento do aluno são pensadas as melhores estratégias em sala de aula”, ressalta.
Cada estudante da escola, diante do diagnóstico de algum tipo de transtorno, possui um planejamento personalizado, com acompanhamento de toda a equipe pedagógica da escola, dos profissionais externos e, principalmente, dos professores que atuam diretamente em sala de aula, para desenvolver seu processo de aprendizagem de forma mais adequada, diante das suas necessidades.
É propiciado a este estudante um planejamento individualizado por meio do Plano Educacional Individualizado (PEI) e também a possibilidade de atendimento individualizado na sala de recursos multifuncionais, por ser aluno de Atendimento Educacional Especializado (AEE). “As propostas são desenvolvidas buscando potencializar aspectos menos frágeis do indivíduo e, de acordo com os resultados obtidos, busca-se oferecer desafios pertinentes ao quadro e à necessidade de cada criança ou adolescente”, esclarece a psicopedagoga e professora da Sala de Recursos da IENH, Cíntia Miranda.
Para a pedagoga, especialista em Inclusão e coordenadora do Atendimento Educacional Especializado (AEE) do Instituto Jô Clemente, Yara Leandro dos Santos, os conteúdos de sala de aula comum para a pessoa com ou sem DI devem ser os mesmos. No entanto, ela pondera que deve haver algumas adaptações para ajustar o currículo no viés de não ocorrer situação de exclusão, como também deve ser aplicado com igualdade de oportunidades para todos. “Podemos dizer que o que vai mudar no contexto sala de aula são as mediações, as adaptações e alguns recursos para favorecer no processo de aprendizagem”, frisa.
Na transição para adolescência, Yara comenta que são trazidas várias reflexões, principalmente, em relação à maturidade. Nesta fase, a tendência comum é serem questionadores, mais rigorosos em aceitar algumas situações e mais criteriosos em suas parcerias, bem como mudanças significativas diante de preferências.
Ao longo da sua experiência com adolescentes com Síndrome de Down, ela teve a oportunidade de atendê-los em sala comum. Na oportunidade, Yara lembra que houveram grandes desafios para que esses estudantes conseguissem ser ouvidos ou validassem suas ideias diante de discussões coletivas. “Assim, a tendência em buscar parcerias com crianças menores era bem comum”, diz.
Formas mais adequadas para aprender
A especialista em educação especial e professora da Faculdades Integradas de Taquara (Faccat), Cibele Fernandes da Costa, acredita que não existe um método único para ensinar. As estratégias didáticas devem ser diversificadas e de acordo com as necessidades observadas no estudante, pois, indiferente da deficiência intelectual, cada pessoa tem um estilo para aprender que prevalece sobre os demais, podendo ser auditivo, visual ou cinestésico.
Após o período de sondagem das aprendizagens do estudante, deve-se construir a adaptação curricular por meio de um documento que recebe diferentes nomes, tais como: Plano Educacional Individualizado (PEI) e Plano de Desenvolvimento Individual (PDI), entre outros. “Nesse documento, construído coletivamente, deve-se registrar as estratégias didáticas, a metodologia, as habilidades e as metas que se deseja alcançar com o estudante”, recomenda.
No caso do AEE do Instituto Jô Clemente, a metodologia adotada tem como base de apoio os quatro pilares da educação: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a conviver e aprender a ser. Algumas das técnicas mais assertivas são trabalhar com vínculo, relação de confiança e, depois, uma análise sobre as habilidades prévias, preferências e mediação com aprendizagem em encadeamento.
Para Yara, é imprescindível, tanto para a criança como o adolescente com Síndrome de Down, manter um bom vínculo com o professor mediador e uma boa observação em suas habilidades e preferências. “É a partir das preferências que vamos inserindo situações de aprendizagens e alguns desafios para ampliar competências e novas habilidades”, pontua.
Com o intuito de orientar famílias e educadores sobre o direito à educação inclusiva e como garanti-lo, foi criado o Guia “Escola para todos – Educação Inclusiva: o que você precisa saber?”, desenvolvido pelo Movimento Down, com o apoio do Instituto Jô Clemente.
Vida adulta e ambiente universitário
Para a professora da Faccat, assim como na Educação Básica, é preciso dar o suporte com os recursos necessários para que a aprendizagem aconteça. “Remover barreiras que possam estar impedindo a aprendizagem, principalmente as barreiras atitudinais”, frisa.
No caso de pessoas com Síndrome de Down, a coordenadora do AEE do Instituto Jô Clemente, comenta que é perceptível a insegurança em seguir os estudos sendo uma barreira que a própria família impõe diante dos desafios e experiências negativas que vão enfrentando em sua trajetória escolar. “É preciso oportunizar uma jornada igualitária e inclusiva. É necessário pensar sobre um currículo flexível de forma a contemplar aprendizagens para alcançar o máximo de desenvolvimento”, frisa.
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