Excesso de informação em pouco tempo pode prejudicar o aprendizado

No primeiro artigo da série Ciência e Aprendizagem, André Hedlund, especialista em Psicologia da Educação, fala sobre sobrecarga cognitiva

imagem: FreePik

André Hedlund, mestre em Psicologia da Educação pela Universidade de Bristol, ex-bolsista Chevening, consultor pedagógico, moderador do  British Council. Leciona Bilinguismo e Cognição na PUCPR, é autor de “O Fator Coruja: Reformulando sua Filosofia de Ensino” e “Estudando com a Ciência da Aprendizagem”. Atualmente, André Hedlund é o líder do grupo de interesse em Mente, Cérebro e Educação do BRAZ-TESOL, criador do podcast “Fator Coruja” e fundador do Learning Cosmos.

Apesar de vivermos em tempos de abundância, todos os dias nos deparamos com barreiras ou restrições que muitas vezes parecem impossíveis de escapar. Esses limites ditam como devemos planejar nossa vida. A falta de dinheiro nos faz evitar gastos exorbitantes. Com pouco tempo disponível, o número de tarefas que somos capazes de realizar é limitado. E quando pensamos no nosso aprendizado? Que limites são esses? No primeiro artigo da Série Ciência da Aprendizagem, vamos explorar a dicotomia de vivermos em tempos exponenciais e de quanta informação o nosso cérebro consegue processar.

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A Ciência da Aprendizagem

Antes de tudo, devemos lembrar que um dos limites mais importantes da nossa prática docente, e da educação como um todo, é a falta de informações confiáveis e respaldadas por evidências científicas sobre como aprendemos. É aí que entra a Ciência da Aprendizagem. De acordo com o Johns Hopkins Science of Learning Institute

“a Ciência da Aprendizagem é uma abordagem que reconhece o valor e a importância da fertilização cruzada entre campos de estudo tradicionais, recorrendo a diversos métodos e técnicas para compreender como ocorre a aprendizagem, com o objetivo final de otimizar a aprendizagem para todos.”

Para tanto, essa abordagem conta com as contribuições da neurociência e da biologia, da computação e da engenharia, além da ciência cognitiva e da psicologia. É justamente essa colaboração conjunta que faz a Ciência da Aprendizagem uma ferramenta mais confiável e indispensável na formação docente e na tomada de decisão não só no âmbito das políticas educacionais, mas, também, na escola em relação ao currículo, tempo de aula, organização dos espaços e qualquer outro aspecto relacionado à aprendizagem.

Os limites da minha memória

Pensemos em um exemplo prático. Todos os dias, milhões de crianças e adolescentes vão para a escola para ficarem entre 5 e 7 horas majoritariamente sentados recebendo conteúdos de diversas disciplinas que muitas vezes não se comunicam. Se nós pudéssemos estimar de maneira confiável quanto desse conteúdo diário foi de fato aprendido, certamente ficaríamos chocados. A capacidade da nossa memória é muito menor do que gostaríamos de admitir. 

Aliás, talvez muita gente não saiba, mas existem diversos tipos de memória. Contudo, para entendermos melhor como funciona o processo de aprendizagem, vamos focar em um processo e um conceito.

O Processo e Conceito

Quando somos expostos a novos conteúdos, a informação entra pela memória sensorial. Se for relevante ou instigante, colocamos atenção (foco) e a informação segue para a memória de curto prazo. Se não fizermos nada com a informação, ela é esquecida rapidamente. No entanto, se revisarmos a informação e a recuperamos ao longo do tempo, ela se consolida como memória de longo prazo.  

Damos o nome de consolidação de memória a esse processo e ele depende do sono de qualidade. Memórias de conceitos novos são consolidadas durante o sono e precisam de ativação frequente ao longo de um período de vários dias, semanas e até meses para se tornarem permanentes. 

O problema é que a porta de entrada é limitada. Esse conceito chamamos de carga cognitiva. Isso quer dizer que a nossa memória de curto prazo (ou recente) só consegue processar um número restrito de chunks, ou seja, pedaços significativos de informação. Um ano como 1997 ou o nome de uma capital como Oslo são chunks. Processamos com eficácia entre 2 e 9 chunks por vez.

Como ajudar nossos estudantes

Estudantes são bombardeados com novos chunks todos os dias, o que leva a uma sobrecarga cognitiva. O pior é que após sofrerem a sobrecarga, escolas ainda exigem horas de tarefas em casa com o intuito de consolidar os conteúdos novos. A combinação de MUITA INFORMAÇÃO + POUCO TEMPO de revisão e recuperação é garantia de POUCO APRENDIZADO. 

Portanto, apesar de sabermos que temos que ensinar muito conteúdo, deveríamos:

  • Evitar a sobrecarga – Temos que respeitar os limites da memória e podemos fazer isso dividindo as informações em partes menores, oferecendo tempo suficiente para a compreensão de cada parte e usando pausas estratégicas durante a aula (brain breaks).
  • Priorizar sono de qualidade – Podemos incentivar mais tempo livre e longe das telas dando menos tarefas que exijam tempo sentado e mais atividades que envolvam projetos mão-na-massa.
  • Implementar Revisão Espaçada – Precisamos planejar atividades de revisão que ocorram em intervalos regulares ao longo do mês e não somente alguns dias antes de uma prova
  • Usar Recuperação Ativa (ou Prática de Lembrar) – Temos que promover atividades que exijam que os alunos relembrem ativamente as informações aprendidas, como questionários e discussões em grupo.


A grande verdade é que em tempos de fácil acesso às redes sociais e a uma infinidade de informações, nossos cérebros não têm condições de processamento alinhamos com a era da informação e estamos sofrendo com isso. Uma escola (e uma aula) orientada pela Ciência da Aprendizagem deveria lembrar da máxima de outros tempos: menos é mais.

No próximo artigo da série, vamos discutir exatamente como usar estratégias específicas para otimizar a carga cognitiva e adicionar um pouco de desafio para melhorar os resultados de aprendizagem.

Quer saber mais sobre Ciência e Aprendizagem? No dia 28 de novembro tem artigo novo assinado por André Hedlund.

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