Olhar tecnológico e humanizado será premissa para o trabalho do futuro

O Educação em Pauta inicia a publicação de uma série de reportagens sobre o que o mercado demandará de habilidades nos próximos anos e como se qualificar para isso

por: Jean Peixoto | jean@padrinhoconteudo.com
imagem: FreePik

O preparo dos trabalhadores do futuro se inicia desde já dentro das salas de aula. Para compreender os desafios impostos aos educadores e aos jovens em formação, em um mundo cada vez mais tecnológico e hiperconectado, o Educação em Pauta dá início a uma série de reportagens sobre o preparo dos estudantes que almejam ingressar no mercado de trabalho nos próximos anos e também para os profissionais que já estão ativos e de olho no que virá pela frente.

Segundo o relatório sobre o futuro do trabalho elaborado pelo Fórum Econômico Mundial (WEF), em parceria com a Fundação Dom Cabral (FDC), cerca de 39% das habilidades exigidas atualmente no mercado de trabalho devem ser transformadas ou tornarem-se obsoletas entre 2025 e 2030. O estudo aponta que o desenvolvimento de habilidades tecnológicas, com foco acentuado em competências relacionadas à Inteligência Artificial (IA), Big Data, e segurança cibernética hoje é um diferencial altamente competitivo para os jovens que estão ingressando no mercado. 

Para a consultora de carreira do PUCRS Carreiras e professora da disciplina de projeto de vida do Ensino Médio, Jéssica Machado, existem, atualmente, três desafios centrais para os estudantes que planejam suas carreiras profissionais: o domínio das novas tecnologias; o conhecimento sobre as profissões em expansão e declínio e o desenvolvimento de competências socioemocionais.

Novas tecnologias

Mais da metade dos mil empregadores ouvidos para a pesquisa sobre o futuro do trabalho apontaram que a ampliação do acesso digital é uma das tendências mais transformadoras, principalmente em IA e processamento de informações (86%), robótica e automação (58%) e geração, armazenamento e distribuição de energia (41%).

O pesquisador Yuri Lima, que é coordenador de Futuro do Trabalho do Laboratório do Futuro/COPPE da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), comenta sobre a velocidade com que os avanços tecnológicos ocorrem na contemporaneidade e o impacto dos mesmos sobre os processos de aprendizado e ensino. Ele cita como exemplo as substanciais transformações ocorridas tanto no âmbito profissional quanto educacional de professores e estudantes desde a criação do Chat GPT, em 2022.

“Os jovens que vão ingressar no mercado de trabalho nos próximos anos vão lidar com um avanço e difusão de tecnologias numa velocidade como nunca se viu antes. São tecnologias, como a IA e a Robótica, que se tornam cada vez mais capazes de executar atividades e demonstrar habilidades que acreditávamos serem exclusivas dos humanos e que permeiam todos os setores econômicos”, diz o pesquisador.

Mercado em transformação 

O avanço tecnológico também promete modificar os tipos de profissões e vagas oferecidas aos trabalhadores do futuro. Segundo levantamento do Fórum Econômico Mundial, deve aumentar a demanda por especialistas em Big Data, em IA e Machine Learning (aprendizado de máquina). Já algumas funções administrativas, secretariais e operacionais tendem a ser substituídas por tecnologias digitais (veja no infográfico abaixo).

A consultora de carreira Jéssica Machado pontua que a partir da pandemia de coronavírus e, posteriormente, das cheias que atingiram o Rio Grande do Sul em 2024, a busca por cursos relacionados à área da saúde teve um crescimento expressivo. Do mesmo modo, ela pontua que os jovens vêm buscando novas oportunidades nas profissões relacionadas à tecnologia e que ofereçam maior flexibilidade, como a possibilidade de trabalho remoto — outra tendência apontada pelo levantamento do WEF. 

O estudo sobre o futuro do trabalho também sinalizou o envelhecimento da população em idade ativa nos países de alta renda em razão da queda na taxa de natalidade e o aumento da expectativa de vida. Já nos países de baixa renda, onde há elevadas taxas de natalidade, ocorre o movimento contrário, o que possibilita o ingresso de mais jovens no mercado de trabalho.

O pesquisador da UFRJ, Yuri Lima, acrescenta que o envelhecimento populacional junto à baixa oferta de serviços públicos de cuidados para os idosos tende a demandar uma grande quantidade de profissionais nos próximos anos. Segundo ele, outra tendência importante são as profissões voltadas para a transição verde, incluindo a mudança da matriz energética para energias renováveis e a preservação ambiental.

Além das profissões tecnológicas como desenvolvedores de software e designers de interface, o estudo sobre o futuro do trabalho também aponta para o crescimento de outros tipos de trabalho como o de motoristas de serviços de entrega e de engenharia ambiental. Na contramão, profissões tradicionais como caixas bancários, contadores e operadores de telemarketing tendem a desaparecer aos poucos. 

Metodologias de ensino

Yuri Lima afirma que a tecnologia deve ser uma aliada no ensino dentro das salas de aula. Ele aponta também para a necessidade de formações complementares, para além da educação convencional e acadêmica, como uma forma de o profissional se manter atualizado e alinhado ao mercado. 

“Precisamos entender os jovens que vão ingressar no mercado de trabalho como vetores da adoção tecnológica nas empresas diante do importante papel que essas tecnologias têm para impulsionar a economia brasileira”, sublinha. 

Jéssica Machado reitera que a realização de atividades práticas e a compreensão das necessidades específicas de cada grupo de alunos são poderosas ferramentas para o ensino dos jovens. 

“Uma das ferramentas que pode ser utilizada, principalmente para o desenvolvimento de competências socioemocionais e competências técnicas é o uso da prática, que auxilia esses jovens a se conectarem. Pensar muito no que aquela turma necessita, ouvir desse jovem o que ele quer aprender também auxilia muito nessa conexão com o aluno”, diz a professora. 

Habilidades emocionais

O conjunto de habilidades comportamentais e emocionais que tratam sobre a forma como cada trabalhador interage com o outro, o ambiente e consigo mesmo — as chamadas Soft Skills — são outro fator que precisa ser trabalhado com os futuros profissionais. Essa é uma das atividades desenvolvidas por Jéssica Machado, tanto no PUCRS Carreiras, que oferece mentoria aos estudantes da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), quanto na disciplina de Projeto de Vida, que ela ministra para alunos do Ensino Médio. 

“Essas competências estão relacionadas ao desenvolvimento pessoal do indivíduo como, por exemplo, a competência de liderança e o pensamento analítico. Essa demanda vem surgindo porque, se nós temos uma grande inserção da tecnologia no mercado de trabalho, logo, o mercado vai cobrar que os profissionais tragam o lado humano do trabalho também”, disse Jéssica.

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Capacitação para o futuro

Com o intuito de aproximar empresas e profissionais dentro de seus propósitos, o Instituto Caldeira desenvolve diversos programas voltados a auxiliar os jovens que pretendem conquistar um espaço no mercado de trabalho. Um deles é o Trampo 4.0: Conectando Jovens ao Futuro do Trabalho, que é um curso livre, com foco em apresentar a estudantes do Ensino Médio o mundo do trabalho e da nova economia

Realizado em parceria com escolas privadas associadas ao Caldeira, o Trampo 4.0 oferece aos estudantes a oportunidade de dialogar diretamente com especialistas sobre o impacto da Inteligência Artificial no ambiente de trabalho e na vida cotidiana. Nesta edição, participam estudantes do Colégio Marista Rosário, do Monteiro Lobato e do Farroupilha, todos associados ao SINEPE/RS.

“Basicamente, no ano passado a gente fez um projeto piloto, que foi uma demanda das escolas membros do Caldeira que queriam que os seus alunos tivessem a oportunidade de fazer uma imersão dentro do Instituto. E a gente criou uma disciplina eletiva para que os alunos dessas escolas pudessem participar. O projeto deu tão certo que esse ano a gente está fazendo novamente”, explica Felipe Amaral, diretor do Campus Caldeira. 

O curso possibilita que os jovens vivenciem de perto a dinâmica do mundo tecnológico em experiências práticas dentro do hub. As aulas do 4.0 iniciam em 28 de abril. Os encontros ocorrerão todas as segundas-feiras, das 14h30min às 17h30min durante 10 semanas.

Uma das atividades que também ocorre no escopo do curso é O Dia D Interescolas, que é uma ação voltada para alunos do Ensino Médio, que ocorre na próxima sexta-feira (11), das 14h30min às 17h, no Campus Caldeira. A ação busca ampliar as percepções dos alunos sobre as carreiras emergentes no novo mundo do trabalho. 

O instituto também o Geração Caldeira, que é uma ação voltada para jovens de 16 a 24 anos da rede pública que queiram trabalhar com inovação e tecnologia. No programa, o aluno recebe capacitações com especialistas do mercado, acesso ao ecossistema do Caldeira, bolsa financeira, além de realizar conexões que podem levar a vagas de emprego.

“Temos exemplos de vários jovens que trabalhavam no café que tem aqui dentro do Instituto Caldeira e que hoje trabalham em várias outras empresas também, com marketing, com vendas e com programação. Temos diversos outros jovens que trabalhavam em carreiras como frentista de postos de gasolina, assistente de pedreiro, trabalhavam na padaria da sua família e que hoje trabalham no mundo da inovação e tecnologia. O que faltava, então, era uma capacitação, um aprimoramento e uma oportunidade de trabalho”, completa Amaral. 

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