Em Veranópolis, acolhimento ultrapassou os muros e chegou a toda a comunidade

Ações da AVAEC, medalha de ouro na categoria Gestão Institucional no Prêmio Inovação Sinepe/RS 2022, começaram para o público interno e ganharam a cidade

por: Pedro Pereira | pedro@padrinhoconteudo.com
imagem: Arquivo Pessoal

Um dos pilares de qualquer instituição de ensino é a formação de cidadãos. Quando as atividades se refletem em ações positivas para além dos muros da escola, é sinal de que o trabalho está no caminho certo. Foi o que aconteceu com o Colégio Agrícola de Veranópolis, da Academia Veranense de Assistência em Educação e Cultura (AVAEC).

Com a chegada da pandemia e o consequente isolamento social, a equipe se preocupou inicialmente com a saúde mental da própria comunidade: alunos, familiares, professores e funcionários. Para trabalhar esse contexto, foi criado o projeto “Movimento de conexão da vida à sua essência”, um conjunto de estratégias para mitigar o impacto da realidade que se impunha.

“Um dos grandes motes da nossa escola é trabalhar com a humanização. Pensamos em ações que pudessem aproximar as pessoas, resgatar a questão dos vínculos e mobilizar a comunidade”

Cleciane Moro – diretora do Colégio Agrícola de Veranópolis, da Academia Veranense de Assistência em Educação e Cultura (AVAEC)

No entendimento da instituição, o cenário encontrado no retorno ratificou uma série de questões consideradas importantes durante a pandemia. Segundo a equipe, no projeto apresentado ao Prêmio Inovação Sinepe/RS 2022, que levou o ouro na categoria Gestão Institucional, “passados mais de 540 dias, o retorno à presencialidade mostrou os vestígios deixados por esse longo, instável e temeroso período. O isolamento e a redução dos contatos presenciais e interpessoais foram marcantes, impactando, sobremaneira, a vida do ser humano. Os efeitos produzidos não se restringiram à vida familiar e chegaram à sala de aula. Foram não somente de ordem fisiológica, como, também, reverberaram nos âmbitos sociais, educacionais, econômicos, políticos, culturais, sem precedentes na história recente das epidemias”.

A diretora da escola, Cleciane Moro, explica que o projeto surgiu para suprir demandas de cunho intelectual, além do emocional, porque também ajudava a escola a se adaptar à forma de ensino que se apresentava como a única possível. “Um dos grandes motes da nossa escola é trabalhar com a humanização. Pensamos em ações que pudessem aproximar as pessoas, resgatar a questão dos vínculos e mobilizar a comunidade”, conta Cleciane.

Poema para todos

Talvez a ação de maior destaque seja a do poema nas ruas. Alunos do 1º ao 9º ano das unidades educacionais AVAEC leram, estudaram e gravaram poesias, com a ajuda das famílias. Os versos de autores brasileiros eram reproduzidos por um carro de som que circulava pela cidade, levando palavras de conforto a toda a comunidade. A iniciativa também promoveu um multiletramento, já que os alunos e suas famílias precisaram interagir com a tecnologia, além do conteúdo propriamente dito.

Convite para ouvir poesias escritas e gravadas pelos alunos. Moradores de outros bairros entravam em contato pedindo para receber o carro de som | Crédito: Divulgação

“Teve impacto porque divulgamos gradativamente os bairros. Priorizamos onde estavam mais centralizadas as famílias da escola. Quando divulgamos o cronograma de bairros que não estavam contemplados inicialmente, as pessoas faziam contato dizendo que também queriam ouvir”, conta Cleciane.

Diferentes estratégias compuseram o projeto

Uma das primeiras iniciativas foi o drive-thru, como forma de fortalecer (ou não deixar enfraquecer) o vínculo dos alunos com a escola. As famílias receberam convites eletrônicos, com recomendações sobre como se comportar durante a atividade. De dentro dos veículos, elas e os alunos assistiram a apresentações e shows – os horários eram escalonados para não haver aglomeração nem mesmo de carros.

Drive-thru temático reforçou conexão dos alunos com a escola sem contrariar orientações das autoridades de saúde durante a pandemia | Crédito: Divulgação

Em outra atividade, o acesso às caixas brincantes também era de carro, mas no caminho inverso: as professoras é que faziam visitas agendadas para entregar os materiais aos alunos. “Embora tivessem contato com as crianças pelos meios eletrônicos, era importante essa presença, trocar um olhar, mesmo sem um abraço. Sabíamos a importância naquele momento”, analisa a diretora.

A atividade foi mantida no presencial. As caixas são utensílios que os professores produzem na escola, a partir de materiais reciclados e coisas da natureza. A entrega para as crianças estimula a criatividade, o manuseio e também a conexão consigo mesmo, segundo a diretora.

Conforme as vantagens dos encontros remotos foram sendo descobertas, as atividades também iam ganhando corpo. Além do contato entre alunos e professores, a quebra de distâncias geográficas estimulou a criação do “Autor On-Line”, adaptação de um projeto que já existia na escola, o “Autor Presente”.

A ideia era estimular a participação em atividades síncronas para, além de manter o nível de ensino, propiciar vivências significativas em meio a um momento atípico. Os professores trabalhavam o conteúdo com os alunos e, então, era promovido um encontro virtual com o autor da obra. 

O retorno foi positivo – e não só por parte dos estudantes: os próprios escritores se disseram satisfeitos com a experiência e relataram que, depois, seguiram o mesmo tipo de dinâmica com outras escolas. É mais uma atividade que continua no formato presencial e, além disso, os alunos também desenvolvem o processo de escrita. No fim de 2022, lançaram um livro, com direito a sessão de autógrafos.

Cuidado com a emoção

Ao passo que a aprendizagem ganhava o reforço dessas estratégias, o aspecto emocional também precisava ser trabalhado. A escola, então, criou a “Hora do Eu” para que os professores da Educação Infantil e dos anos iniciais externassem os sentimentos e desenvolvessem a escuta dos sentimentos dos outros. 

Tornaram-se momentos de verbalização das angústias e compartilhamento de experiências. “Todos nós precisamos disso. Não só em época de pandemia, mas se agravou com essa situação. As professoras se encontram com um psicanalista, que faz a análise de situações e também traz subsídios para interpretar as ações do ser humano”, conta Cleciane.

Paralelamente, é feito um trabalho com literatura especializada que dá suporte em temas que desafiam os educadores que trabalham com diferentes faixas etárias. Situações como frustrações, desfralde, nascimento de um irmão, convivência, perdas ou medos ajudam os professores a trabalhar em sala de aula essas questões latentes entre os alunos.

Projeto com fitas estimula alunos a olharem para a própria essência e aumenta o grau de reflexão sobre o mundo ao redor | Crédito: Divulgação

Entre os estudantes, iniciativas como a “Fitas em Movimento” estimularam a consciência sobre si mesmo, dos outros e do ambiente ao redor – um dos propósitos que tem motivado o trabalho dos professores junto aos alunos. Foi preparado um painel externo, onde dizia “Em cada fita, um desejo. Em cada desejo, a energia do bem conectando-se à essência da vida”. Ao lado dessas palavras, fitas verdes traziam a inscrição “Movimento e conexão da vida à sua essência”. 

Cada turma vivenciou momentos de reflexão, de fazer pedidos e de agradecer, amarrando as fitinhas no painel, instalado em frente à AVAEC. Para a instituição, essas fitas, que se encontram em constante movimento graças ao sopro do vento, “passaram a representar a esperança, os bons desejos que o coração emana e as possibilidades de melhores dias”.

Fitas deixadas pelos alunos simbolizam a esperança, os bons desejos que o coração emana e as possibilidades de melhores dias | Crédito: Divulgação

Em contato com as famílias, o retorno foi sempre positivo. Para a comunidade escolar, a instituição conseguiu dar continuidade ao ensino mantendo a essência. “Nosso DNA é trabalhar o conhecimento de uma maneira diferenciada, que tenha significado. Aí entra a parte do acolhimento. Também temos a característica de sempre buscar algo diferenciado, inovador. Trouxemos coisas inéditas em cada projeto”, orgulha-se Cleciane.

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