Como a Inteligência Artificial (IA) vai mudar o trabalho do professor

Pesquisadores avaliam os pontos que serão transformados na jornada do educador

por: Bianca Zasso | bianca@padrinhoconteudo.com
imagem: Freepik

As ferramentas de Inteligência Artificial (IA) já fazem parte do cotidiano de muitos estudantes de diferentes níveis de ensino. Seja para gerar imagens ou obter informações sobre os mais diversos assuntos para um trabalho escolar, ou mesmo para buscar orientações sobre a execução de diferentes tarefas, a IA já está “na mochila” de muitos estudantes. Mas parece que na sala dos professores ela ainda é uma novidade que desperta curiosidade e muitas dúvidas. Isso porque uma recente pesquisa realizada pelo Instituto Semesp mostrou que apenas 39,2% dos professores entrevistados utilizam ferramentas de IA com regularidade em sala de aula. 

O número pouco expressivo é, na visão do professor e pesquisador Luciano Rodrigues, fruto de muitos fatores, especialmente do pouco letramento digital e do preconceito de alguns educadores com a presença da IA nas escolas. Integrante do grupo de pesquisa Argos, voltado para a educação digital, da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), Luciano acredita que há também um receio das instituições, incluindo universidades, quanto ao aumento da presença da IA no cotidiano dos estudantes, ao invés de perceberem as oportunidades de uso dessas ferramentas. “Os professores podem explorar a capacidade de gerar ideias a partir da IA, como a criação de um chatbot que vai ajudar a responder perguntas dos alunos, por exemplo, seja para disciplinas mais técnicas até para auxiliar questões sociais. Ela é uma ferramenta poderosa e os professores podem se munir dela para melhorarem suas rotinas”, avalia o professor. 

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Facilitar a execução de tarefas mais maçantes, como correção de provas ou elaboração de apresentações também é uma das possibilidades das ferramentas de IA que promovem um novo formato de trabalho para os professores. Para Luciano, utilizar a IA com cuidado, sempre realizando uma revisão, pode garantir um tempo maior para o professor se dedicar, por exemplo, a um aluno que apresenta alguma dificuldade de aprendizagem ou mesmo na construção de atividades mais assertivas para alunos com deficiência. “O professor pode utilizar uma inteligência artificial para gerar ideias. Ela não vai determinar uma atividade, mas vai determinar ideias que o professor pode aplicar junto aos seus alunos, que são os atores principais em sala de aula”, comenta. 

A necessidade de capacitação para professores poderem aproveitar da melhor forma os benefícios da IA é destacado pelo professor Fernando Osório, do Center for Artificial Intelligence (C4AI), da Universidade de São Paulo (USP). Os números da pesquisa do Semesp, para ele, não devem ser considerados um problema e é preciso ter cuidado com o “hype” da IA dentro das escolas. “Não me parece ser um problema ter ‘somente’ cerca de 40% dos professores usando essas ferramentas. O problema é saber quantos professores as usam bem, pois a maioria está seguindo essa onda, mas poucos são os que dominam realmente essa tecnologia de modo adequado”, pontua. 

O professor acredita que esse domínio da tecnologia traz uma visão mais clara sobre sua real utilidade, já que são ferramentas comandadas por pessoas, por isso a necessidade de revisão de todo e qualquer conteúdo gerado por IA, assim como o cuidado, especialmente na busca de assuntos com o qual o professor não está familiarizado. “Eu jamais usaria uma IA para fazer uma tradução de um texto de português para japonês, pois não conheço o idioma e não teria como validar a resposta da ferramenta. Mas conheço muitas pessoas que estão usando a IA assim, sem dominar”, lembra Fernando. 

As mudanças ocasionadas pela presença da IA no trabalho dos professores ainda são uma incógnita, já que essas ferramentas ainda são um mistério, inclusive para quem as utiliza com certa frequência. No entanto, mesmo que apresente benefícios para o cotidiano dos educadores, o lado humano continua imperando, especialmente no âmbito da IA Generativa, como ChatGPT e Gemini, em que os comandos são os reais guias dos resultados que serão obtidos. 

Fernando acredita que o educador do futuro (que está bem próximo) é alguém que analisa, valida e verifica as respostas da IA, e que sabe mostrar tudo isso aos seus alunos. “É um educador que pilota, que ensina a pilotar, com a ajuda da IA, mas sem delegar para ela aquilo que é o seu papel: questionar, debater, validar, ser um curador de conhecimentos de qualidade”, finaliza. 

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