Como incentivar meninas a seguirem carreira na área de tecnologia?
Projetos buscam talentos em Tecnologia da Informação (TI) e orientam sobre as muitas possibilidades de atuação no setor
Uma breve visita a uma loja de brinquedos já deixa claro que carreiras voltadas para a área da tecnologia não são parte das brincadeiras das meninas. Por mais que muitos tabus já tenham sido quebrados nesta seara, a maioria dos profissionais de Tecnologia da Informação (TI) ainda é formada por homens. No Brasil, estudos realizados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que apenas 20% dos profissionais de TI no país são mulheres. Com o objetivo de fazer essa porcentagem crescer e apresentar as possibilidades da tecnologia para meninas estudantes do Ensino Médio, a Associação dos Usuários de Informática e Telecomunicações do Rio Grande do Sul (SUCESU-RS) criou o programa Mulheres na TI. Por meio de parcerias com empresas e, também, instituições de ensino, a iniciativa quer criar conexões que contribuam para a igualdade de gênero dentro da TI.
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“Quando se pensa em tecnologia, algumas pessoas restringem ao desenvolvimento de sistemas, como se essa fosse a grande demanda. Mas há outros tipos de profissão na área, como analista de negócios e gerente de projetos. A TI é muito democrática, pois não é preciso ter uma formação completa para começar a trabalhar. Você pode ter poucos recursos e conseguir uma excelente carreira, diferentemente de outros cursos, como Medicina, por exemplo”, explica Mirtes Sonntag, uma das coordenadoras do programa Mulheres na TI.
Outro ponto importante e que acaba conquistando mulheres para a área é a possibilidade de trabalhar de qualquer lugar. Uma pesquisa realizada pela Yoctoo Tech Recruiters, em 2022, mostra que 61% delas consideram atraente uma vaga que possibilita a flexibilidade de horários. No mesmo levantamento, 49% das entrevistadas afirmam que vagas full home office são um benefício que pesa na hora de procurar uma colocação.
“Na pandemia, o chamado “any office” ficou ainda mais presente. A TI permite trabalhar de qualquer lugar para qualquer lugar, oferecendo muitas possibilidades de abrir portas globais.”, afirma Mirtes, que acredita que o programa é uma oportunidade das estudantes descobrirem as muitas profissões que constroem a área da tecnologia.
Ela própria encontrou na TI o seu caminho e, hoje, colhe os frutos desta decisão. “A TI me permitiu atuar nas áreas de gestão, conhecer inúmeras empresas. Visitei lugares que eu jamais visitaria se não fosse pela minha profissão. Aprendo muito a cada novo cliente”, conta Mirtes, destacando que a área de TI tem tudo a ver com o universo feminino.
“É algo criativo e democrático. Com um computador e um smartphone já é possível trabalhar. A TI cumpre uma função social muito importante”, finaliza.
Jovens talentos no mercado
Por meio do Centro Social Marista de Porto Alegre (Cesmar), a Rede Marista desenvolve o projeto Full Stack Social, voltado para estudantes de 16 a 22 anos, que oferece cursos de desenvolvimento WEB, voltados para a aprendizagem profissional e que seguem a Lei da Aprendizagem, mais popularmente conhecida como Jovem Aprendiz.
“A presença de mulheres na área da programação é fundamental para desmistificarmos a máxima de que somente homens se interessam por esta área. Temos uma educadora mulher e isso ajuda ainda mais na identificação das meninas”, afirma a coordenadora da socioaprendizagem do Cesmar, Cátia Silene Zaro.
Iniciado em 2021, o Full Stack Social já observa resultados no mercado, com alunos muito jovens iniciando carreiras promissoras na área de TI. Isadora Moraes, de 20 anos, conheceu o projeto quando estava fazendo um curso de programação no Tecnopuc e afirma que a experiência lhe auxiliou a lidar com a timidez e, também, sua postura na hora de apresentar um trabalho. Hoje ela é estudante de Segurança da Informação na Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos) e trabalha em uma empresa de cybersecurity.
“O que mais me atraiu na tecnologia foi a inovação. Tudo gira em torno da tecnologia hoje em dia, desde a saúde até o esporte e o entretenimento. É fascinante participar de uma parte importante na vida de cada um. Eu fui descobrindo aos poucos a paixão por essa área, pesquisando oportunidades até encontrar o que eu gosto de fazer”, lembra Isadora, que tem planos de seguir na área e realizar uma especialização fora do país.
Na empresa em que atua, desde o CEO até os jovens aprendizes são instigados a pensar na diversidade dentro do universo da tecnologia. “Há oportunidades e vagas de liderança femininas, conscientização constante sobre o tema e um ambiente seguro para se expressar e fazer a diferença”, destaca a estudante.
Letícia Pimentel Fonseca, de 22 anos, também viu as portas do mercado de trabalho se abrirem após finalizar o curso do Full Stack Social. Agora ela é aluna do curso profissionalizante em UX/UI designer e prepara-se para, no ano que vem, dar início à graduação em Design Digital e Experiência do Usuário. Para a estudante, a tecnologia é uma possibilidade de transformar a vida das pessoas por meio da inovação. Mesmo apaixonada pela área, esta não era a sua primeira opção de carreira. “Curiosamente, nunca imaginei trabalhar com tecnologia. Quando criança, meu sonho era ser juíza. Ao longo da adolescência, minhas escolhas evoluíram, mas nenhuma delas estava voltada para a área de TI”, comenta Letícia.
A jornada para a equidade de gênero na tecnologia ainda será longa, mas o horizonte reserva um cenário de muitas vagas para a área. Uma pesquisa da Associação das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação e de Tecnologias Digitais (Brascom) prevê que, em 2025, vamos ter 800 mil vagas de TI somente no Brasil. Que nossas garotas ocupem muitas delas com seu talento e dedicação.
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