Geração Beta: os desafios de educar estudantes hiperconectados

Nativos da Inteligência Artificial, os Betas – crianças nascidas a partir de 2025 –
exigirão das escolas um novo olhar sobre os métodos de ensino e uma maior conexão com seus familiares

por: Eduardo Wolff | eduardo@padrinhoconteudo.com
imagem: FreePik

Uma nova geração nasceu com o ano de 2025 – a chamada geração Beta – de acordo com classificação do pesquisador social e demógrafo australiano Mark McCrindle. O pesquisador define o conceito de geração como uma grupo de pessoas nascidas em um mesmo período: compartilham eventos históricos, tendências sociais e influências culturais, que moldam seus comportamentos, valores e perspectivas de mundo. 

A geração Beta é a primeira geração nascida na terceira onda da revolução digital, que tem, como referência, a Inteligência Artificial. A título de curiosidade, a primeira revolução foi marcada pela criação do computador e a segunda pela Internet. 

Na projeção feita por McCrindle, esses recém-nascidos serão criados em lares com aparelhos domésticos conectados à Inteligência Artificial (IA) e seus pais se comunicarão e verificarão onde eles estão indo por meio de dispositivos. As escolas seguirão sendo parte fundamental na formação destas crianças, mas precisarão ser educadas por professores de outras gerações, mas bem-informados sobre esses recursos tecnológicos.

No entanto, esses educadores terão papel ainda mais relevante na vida da geração Beta para estimular o equilíbrio entre tecnologia e desenvolvimento humano, dentro e fora da sala de aula. A psicóloga e professora da Fundação Educacional Machado de Assis (Fema), Camila Câmara, indica duas abordagens estratégicas que já podem, e devem, começar a ser inseridas na vida escolar.

A primeira recomendação é de que a tecnologia precisa ser vista como uma ferramenta para enriquecer o aprendizado e não como substituição da interação humana. “Podem ser realizadas, por exemplo, atividades que promovam a colaboração entre os alunos, como plataformas de aprendizagem e troca de ideias”, aponta.

A segunda orientação de Camila é que as escolas implementem programas que ensinam habilidades socioemocionais, como empatia e comunicação, em conjunto com o uso de tecnologia. “Isso ajudará os alunos a desenvolverem não apenas competências técnicas, mas também habilidades interpessoais que são essenciais para o convívio social”, comenta.

Aliado a isso, ela reforça que as competências socioemocionais serão extremamente importantes para esta geração, pois terão um papel essencial no desenvolvimento integral dos jovens em um mundo em constante mudança. “Isso inclui habilidades como trabalho em equipe, resiliência, empatia, comunicação”, projeta. 

Doutora em Educação e professora na Faculdades Integradas de Taquara (Faccat), Rachel Karpinski, complementa que o uso crescente de tecnologias trará desafios significativos também em relação à ética, à privacidade e a forma como esses recursos impactarão nas relações humanas dentro dos espaços escolares.

Para ficar no radar das escolas
O ativista digital Juliano Kimura indica que será essencial se preparar para tecnologias como Realidade Aumentada  Além disso, a capacidade da geração Beta será diretamente ligada aos equipamentos e recursos digitais que terão acesso. “É como baixar um vídeo. Em uma escola, você baixa em um minuto, já em outra, em dez minutos. Ou seja, os recursos de processamento e equipamentos podem agir de forma similar no aprendizado”, sustenta.

As escolas deverão utilizar plataformas adaptativas em que irão ajustar os conteúdos às demandas individuais dos alunos, estimulando maior autonomia na aprendizagem. Esta é a perspectiva do pesquisador de comportamento geracional Dado Schneider.

Já Camila acredita que será ampliada ainda mais a gamificação na aprendizagem. Por ser divertida, é uma maneira de promover, por meio de tarefas, engajamento e incentivos às competições saudáveis na sala de aula. “O ensino precisará estimular ainda mais o pensamento crítico entre os alunos, tendo o professor como mediador”, acrescenta.

A pesquisadora e curadora de arte para a infância Valesca Karsten sinaliza que deverão ser incorporadas ao currículo escolar aulas de educação digital, trazendo aos estudantes sugestões e orientações sobre o uso da tecnologia de forma ética e responsável. “Momentos de brincadeiras livres e contação de histórias, porém, continuam indispensáveis, pois são importantes para o resgate da infância, além de promoverem os vínculos e as habilidades sociais”, ressalta a pesquisadora.

Efeitos da IA na educação
Rachel faz ponderações quanto à IA para evitar que os estudantes deixem de percorrer percursos essenciais, como a capacidade de resolver problemas sem depender de algoritmos. “Isso pode prejudicar a formação de cidadãos com habilidades amplas”, analisa a pesquisadora.

Os currículos e as escolas terão que se adaptar às legislações vigentes que regem o uso desta tecnologia. É o que sinaliza a Professora do Departamento de Estudos Especializados da Área de Tecnologias na Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Patrícia Fernanda da Silva.

Patrícia avalia que a IA tende a agregar muito no modo de viver das pessoas, assim como na facilitação da aprendizagem. “Quando utilizada com sabedoria, a IA proporcionará a criação de materiais didáticos interativos e envolventes pela capacidade de gerar conteúdo personalizado”, revela.

Por essas razões, a pesquisadora ressalta que o currículo escolar deverá passar por mudanças significativas. Por isso, será preciso que as instituições de ensino estejam atentas às novas demandas da sociedade, incluindo a alfabetização digital e o desenvolvimento de habilidades socioemocionais.

Atuação dos professores 
Com intuito de contextualizar os impactos da IA no ensino, Kimura faz uma correlação com a chegada da Internet e seu uso em sala de aula. Assim, a educação passará por uma grande mudança. “A democratização dessa ferramenta torna possível que os alunos possam aprender de forma mais interativa, desde que seu uso seja bem orientado”, alerta Kimura.

Ao contrário do que possa parecer, a IA não substituirá os professores, segundo Rachel, se os momentos de aprendizagem reforcem a necessidade de interações humanas. “Para isso, os professores devem dominar o uso da ferramenta e usá-la a seu favor para não perder a autoria e protagonismo”, complementa.

Para reforçar, Patrícia cita que a IA será uma ferramenta de apoio aos docentes, possibilitando reduzir tarefas administrativas e burocráticas, deixando mais tempo para os educadores pensarem melhor as atividades em sala de aula. O tempo extra, recomenda Patrícia, poderá ser aproveitado para desenvolver metodologias diferenciadas e personalizar o ensino.


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Relação família e escola
Na visão de Rachel, os contextos familiares com escola precisarão ser mais colaborativos e dinâmicos. “Na escola, estamos falando de relacionamentos interpessoais, construção de valores e caráter. Algo que deve ser compartilhado e não uma responsabilidade apenas unilateral”, pontua.

Ela ressalta que a geração Beta terá um acesso intenso à tecnologia desde muito cedo. Desta maneira, modificará não apenas o comportamento dos bebês e das crianças, mas, também, as expectativas que esses familiares têm em relação à educação. 

Neste cenário, será fundamental alinhar as expectativas em relação ao papel da tecnologia, especialmente, na Educação Infantil. Será importante que tanto os professores, quanto os familiares, compreendam os riscos do uso excessivo ou inadequado, que podem impactar negativamente o desenvolvimento social, emocional e cognitivo dos estudantes. 

Porém, para Patrícia, as tecnologias, sendo bem aplicadas, fortalecerão esse vínculo entre família e escola. “O ensino será mais personalizado, assim os pais poderão estar acompanhando e monitorando o dia-a-dia e o progresso dos seus filhos na escola”, antecipa.

Para exemplificar, ela cita que, com a Inteligência Artificial, será possível usar aplicativos e plataformas que fornecerão relatórios personalizados sobre o desempenho dos alunos e assistentes virtuais e chatbots para esclarecer dúvidas e fornecer orientações aos pais. “Também se poderá  criar aplicativos para alertar sobre dificuldades de aprendizado do estudante antes que os problemas se agravem, entre outros recursos. 

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