Lições para acompanhar o desenvolvimento tecnológico exponencial

A formação do profissional do futuro não se resume a dominar ferramentas, mas sim a capacidade de aprender rapidamente a lidar com novas situações, sistemas e equipamentos

por: Pedro Pereira | pedro@padrinhoconteudo.com
imagem: PUCRS/Divulgação

Ainda estão no planeta algumas gerações que nasceram em um mundo completamente analógico e viram a transformação digital chegar, sorrateiramente, e de repente tomar conta de tudo. Olhando logo à frente, a velocidade exponencial com que a tecnologia evolui não permite que façamos uma previsão de como será o mundo do trabalho, e a vida em geral, dentro de poucos anos.

A rapidez com que os dispositivos e algoritmos escalam funcionalidades exige um profissional e cidadão resiliente, que consiga se adaptar rápida e eficientemente. Formar esse indivíduo, no entanto, é um dos principais desafios das instituições de ensino.

A metodologia aplicada pela Singularity Brazil, especializada em treinamento de lideranças de grandes empresas, é um bom exemplo. Tudo começa pela compreensão dos objetivos de uma inovação, seja ela qual for, e não em uma tecnologia específica.

“Nos aprofundamos muito nos porquês, entendendo que todo novo empreendimento, toda ação profissional deve partir de uma ação social. Todo trabalho que vai fazer diferença no mercado deve ter impacto social e global”, defende o pedagogo Fabio Naito, gerente de Produtos Educacionais da Singularity Brazil.

Na concepção da instituição, um projeto pode, em um primeiro momento, ter impacto local, mas os porquês acabam sempre se ampliando para o impacto global, com desdobramentos que o tornem relevante para a sociedade como um todo. Só depois dessa compreensão a tecnologia entra em campo, para encontrar as ferramentas que podem auxiliar a alcançar o desdobramento social – tanto local, quanto global.

“Pode ser a escolha de uma tecnologia existente ou até mesmo desenvolver uma nova. A gente parte sempre do problema, não da solução. A tecnologia pode ser uma solução ou meio para alcançá-la. Primeiro, precisa ter de maneira muito clara qual é o problema”, explica Naito, que é especialista em Neurociência Aplicada à Educação. 

O direcionamento do uso da tecnologia começa por preparar as pessoas dentro de uma cultura digital. Segundo Naito, é comum que a instituição seja procurada para falar das tecnologias de ponta, mas o objetivo primordial dos projetos que capitaneia é saber como está a corporação, fazer uma capacitação de transformação digital, entender os desenhos que estão propondo e, aí sim, colocar de maneira estratégica uma mudança de propósito efetiva. Nunca se trata de simplesmente utilizar uma nova ferramenta.

Na sala de aula

É possível transpor esse modelo de pensamento para a Educação Básica e o Ensino Superior. Neste caso, igualmente, mais do que ter e utilizar as tecnologias, trata-se de entender e desenvolver as competências elementares para utilizá-las.

Já que não se trata de ferramentas específicas, mas sim de estar preparado para quaisquer facilidades que venham a surgir – ou mesmo para criá-las –, é importante trazer as competências de tecnologia a partir da compreensão do mundo analógico. Neste caso, a indicação de Naito é que as instituições trabalhem com projetos orientados à resolução de problemas, com identificação e levantamento de hipóteses, para posterior desenvolvimento.

“No segundo momento, como a tecnologia começa a avançar de fato para que a gente tenha resultados mais rápidos, pode partir para o levantamento de dados. Em vez de usar papel para entrevistas, criar um post para preenchimento de formulário e incrementar a análise dos resultados”, sugere.

Naito destaca dois fatores importantes para que se esteja preparado para as constantes (e cada vez mais velozes) mudanças tecnológicas. A primeira é a capacidade de questionamento, senso crítico, pensamento autônomo. Logo depois vem a compreensão de que ninguém é herói sozinho, o mais importante é o trabalho coletivo. “Que expertises eu não tenho e preciso buscar em outras pessoas para alcançar um objetivo? Deve haver um trabalho colaborativo, entender esse questionamento de maneira saudável. Não estou falando de tecnologia, mas de preparação do humano para uso da tecnologia e resolução de problemas no futuro”, salienta.

O ensino por projetos não é uma novidade e independe da tecnologia exponencial, mas serve perfeitamente para desenvolvê-la. A virada de chave vem no momento em que as ações conseguem escalar na mesma proporção. “Falamos sempre sobre propósito e impacto social, que atinja algum problema global. Porém, isso só é possível com a tecnologia exponencial quando a gente começa a ter um desdobramento dessas ações em curva igualmente exponencial”, conclui Naito.

Service Learning

Boa parte das ideias desenvolvidas pela Singularity Brazil podem contribuir para os estudos de pensamento computacional na Educação Básica. No caso do Ensino Superior, um bom exemplo vem da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Uma iniciativa que começou justamente com o nome de Método Exponencial e, depois, recebeu a denominação de Service Learning integra teoria e prática para que os estudantes busquem soluções para desafios reais, dentro de qualquer disciplina, em qualquer curso de graduação. Assim, visam alcançar o referido impacto e sua escala exponencial.

As atividades são desenvolvidas pelo Laboratório de Empreendedorismo e Inovação, o Idear, com foco na trilha de empreendedorismo durante a graduação. “A gente tenta trazer situações reais para o desenvolvimento de competências técnicas, sociais e comportamentais. Acaba sendo muito mais interessante porque o estudante consegue se sentir parte daquele problema e criar a solução necessária”, observa a coordenadora acadêmica do Idear e professora da Escola de Ciências da Saúde e Vida da PUCRS, Anelise Simon.

Entre as competências que norteiam as atividades estão a criatividade, a capacidade de tomar decisões, o trabalho em equipe e o empreendedorismo – não só focado em um novo negócio, mas com a visão mais ampla que abrange a atitude necessária para alcançar soluções que causem impacto. Essas competências empreendedoras também são desenvolvidas nas escolas da Rede Marista, ligada à universidade, contando com atividades e consultorias pontuais do Idear.

Preparação para diferentes tecnologias

Ainda que não se trate de como usar determinada tecnologia, saber operar diferentes sistemas e equipamentos é fundamental para esse tipo de projeto. O Idear conta com alguns, como impressão 3D, prototipagem e robótica. 

“A relação dessas tecnologias com o Service Learning é que, independentemente da escolha de qual tecnologia vai ser usada, o professor vai solucionar um problema real. Pode ser com inteligência artificial, realidade virtual, energia renovável… Temos um rol de possibilidades para que o estudante se desenvolva dentro das temáticas da atualidade”, detalha Anelise.

Ela ressalta que a presença constante de novas ferramentas exige o preparo não apenas do estudante, mas também dos professores. Sem treinamento constante, eles não ficam prontos para explorar toda a potencialidade de cada tecnologia, visto que o estudante, provavelmente, vai estar à frente nesse sentido. É uma questão geracional. “Ele quer vivenciar e temos de acompanhar”, sentencia.

Para que os acadêmicos tenham contato com soluções do mundo real, o Idear conta com uma série de empresas e organizações parceiras, que levam demandas do dia a dia em busca de respostas. Em uma das iniciativas, estudantes da disciplina de Laboratório Interdisciplinar de Design I, do curso de Design, criaram brinquedos para serem destinados a crianças e adolescentes atendidos pela Fundação Pão dos Pobres. Ou seja: é a tecnologia a serviço do ensino, na busca por soluções locais que possam escalar para impacto em nível global.

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