O ensino híbrido se consolida; e como fica o professor?
Para Jacir Venturi, especialista em Educação e vice-presidente do Conselho Estadual de Educação do Paraná, instituições de ensino devem oferecer oportunidade de capacitação aos professores e tutores, além de disponibilizar materiais de apoio e ambientes virtuais de aprendizagem estimulantes
Publicado em 13/01/23 às 07:02 - Atualizado em 23/01/2023 às 10:14
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AdobeStock
* Jacir J. Venturi
Vice-presidente do Conselho Estadual de Educação (CEE) do Paraná, foi professor e diretor de escolas públicas e privadas, e das universidades UFPR, PUCPR e Universidade Positivo.
O mundo caminha para a consolidação do ensino híbrido, modalidade que combina tanto o docente em sala de aula, orientando e expondo conteúdos aos alunos, quanto o aluno complementando esses estudos remotamente em plataformas digitais ou em outras formas de ensino não presencial.
Nas Instituições de Ensino Superior (IES), a partir da Portaria do MEC de 31/12/18, até 40% do conteúdo da carga horária de um curso superior presencial pode ser a distância – antes esse limite era de 20%. Evidentemente, há regramentos e limites, em especial para os cursos da área de saúde.
Para o Ensino Médio, é o limite de 20% para o conteúdo que pode ser ofertado a distância para o turno diurno e 30% para o noturno. No entanto, até onde a vista alcança, o que se prevê para os próximos anos é a dilatação desses índices. Afinal, os discentes de hoje são nativos digitais e em geral têm grande facilidade em dominar as novas tecnologias, sem que isso reduza em nada o quanto a presença do docente em sala é imprescindível para a qualidade do ensino.
Mas há, sim, uma mudança no papel, no perfil e na atuação deste profissional, o que gera uma recorrente e pertinente pergunta: e como fica o professor? Infelizmente, muitos bons didatas do passado, com suas aulas expositivas bem dadas, estão perdendo o emprego por não conseguirem o mesmo êxito em plataformas, linguagens e metodologias digitais. Nesse aspecto, valho-me de uma metáfora: os professores estão sendo convidados a embarcar em ônibus de ida, sem retorno. A maioria embarca e no caminho se capacita, se adapta, é darwinista e segue em frente, mas outros desembarcam ou são desembarcados.
A maioria dos docentes se sente despreparada para uma boa mediação tecnológica e muito apreciaria receber treinamentos na escola. É recomendável que a instituição de ensino, quando adentra ao universo do ensino online, se concentre inicialmente em ferramentas de menor complexidade, pois facilita a prática, a troca de experiências e o aprendizado para aqueles que se consideram – ou são considerados – dinossauros digitais. Nesse contexto, há aqueles docentes que se agigantaram e até montaram em casa um miniestúdio para as aulas remotas. Outros, tidos como ótimos didatas no presencial, não possuem fluência digital, tampouco desenvoltura e espontaneidade diante de uma tela para bem se comunicar com os alunos e as famílias. Mas há pelo menos mais uma boa notícia: uma recente pesquisa com professores constatou que 87% deles pretendem usar mais tecnologia. Isto posto, as transformações só se efetivarão se as escolas forem providas de boa conectividade, um dever de nossos governantes.
No Brasil, temos hoje 1,7 milhão de matriculados em faculdades de licenciaturas (52% em cursos a distância) que disponibilizam ao mercado anualmente um grande contingente de professores em parte carentes de boa formação pedagógica e de uso das novas tecnologias educacionais – e aí está uma das principais razões do nosso combalido sistema educacional. Os calouros iniciam a licenciatura motivados e têm boa cultura digital, porém os cursos superiores de formação de professores, em sua maioria, não preparam adequadamente profissionais da educação para o ensino digital e para a nova fronteira que tem sido aberta com o ensino híbrido.
É importante lembrar, no entanto, que toda disrupção é alvo de controvérsias e falhas, e o ensino totalmente online, bem como o híbrido, não são exceção, recebendo também críticas, em boa parte merecidas. Mas, nesse caso, elas não deveriam estar voltadas à modalidade e sim às instituições de ensino que não oferecem oportunidades de boa capacitação aos seus professores e tutores, não disponibilizam materiais de apoio com boa didática e tampouco um AVA (Ambiente Virtual de Aprendizagem) amigável e estimulante.
Num futuro não muito distante, grandes mudanças se efetivarão. E especialmente no Ensino Superior, as universidades necessitarão de menos espaço físico, pois, em um ecossistema de inovação e ambientes virtuais mais didáticos que os atuais, os estudantes terão um aprendizado mais eficaz da parte teórica em um quarto silente de sua casa e irão ao campus para experiências em laboratório, práticas nas clínicas ou encontros focados em projetos e problemas com conteúdo assaz diversificado. As nações que estiverem na vanguarda dessa nova era educacional certamente colherão os bons e merecidos frutos econômicos e sociais.
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