O que a Bett Brasil 2025 revelou sobre o futuro da educação

Da IA à educação climática, esse artigo reúne os principais insights sobre o futuro da escola revelados durante o maior evento do setor na América Latina

imagem: Arquivo pessoal

Carine Fernandes, jornalista, mestre em Comunicação e assessora de imprensa do SINEPE/RS


A Bett Brasil 2025 confirmou o que já era esperado: a Inteligência Artificial deixou de ser tendência para se tornar uma urgência a ser discutida e utilizada nas escolas. Com 29 palestras dedicadas exclusivamente ao tema, o evento mostrou que o desafio agora não é mais “se” a IA será incorporada à educação, mas “como” ela será integrada de forma ética, pedagógica e responsável, sem perder de vista aquilo que nos torna humanos — a capacidade de criar, errar e aprender com os próprios erros.

Uma das abordagens mais provocativas veio do especialista em IA generativa e literacia de prompt, Fernando Trevisani, que apresentou usos práticos da tecnologia, desde a construção de planejamentos de aula até a curadoria de conteúdos personalizados. A IA, argumenta ele, fará todo o trabalho baseado em memória, mas jamais substituirá a criatividade, a invenção e a reflexão crítica — e, por isso mesmo, deve ser usada com intencionalidade. O conceito de “literacia de prompt” — saber criar, interpretar e avaliar comandos — foi apontado como competência essencial para os educadores do presente, e não mais do futuro.

Mas a tecnologia, sozinha, não educa. Conforme lembrou Trevisani, nada é mais desafiador do que a formação de professores. A necessidade de investir em competências docentes na era digital, como entender os limites da IA e relacionar seu uso aos objetivos de aprendizagem, foi reforçada também por George Stein, que resumiu bem: “Não somos professores, somos desenvolvedores de seres humanos pela lente de uma disciplina.”

Outro destaque foi a análise sobre a geração atual de estudantes, os chamados “nativos algoritmos”, que nasceram em meio a dados e dopamina. Como a escola compete com o celular e suas recompensas instantâneas? Como convencer um jovem de que o esforço vale mais do que o atalho? A resposta parece estar no equilíbrio: ensinar a criança a pensar antes de usar a IA — e não ao contrário.

Além da IA, a Bett Brasil abordou outros temas centrais. O uso de dados educacionais, por exemplo, foi debatido sob a perspectiva da LGPD. Como usar dados de alunos para melhorar o aprendizado, sem ferir a privacidade? A resposta parece estar na transparência contratual com as famílias e na construção de uma cultura colaborativa de análise de dados dentro da escola, começando pelos professores.

Outro ponto que mereceu atenção foi a gestão de crises. Em tempos de redes sociais e polarizações, a reputação das instituições nunca foi tão frágil. A recomendação das especialistas em comunicação estratégica foi clara: é questão de “quando” — e não “se” — uma crise irá acontecer. Por isso, planos de prevenção, comitês internos, canais de ouvidoria e líderes preparados para comunicar são hoje tão importantes quanto bons resultados acadêmicos.

Outro eixo importante foi o ESG e a educação climática. Thaís Brianezi, professora da ECA-USP e membro do comitê consultivo da SECLIMA, apresentou uma pesquisa apoiada pela Fapesp que busca compreender o impacto da comunicação na educação ambiental e climática. O estudo reforça que a escola também tem um papel formador no campo ambiental e social. Segundo ela, ainda enfrentamos um distanciamento histórico sobre o tema. Precisamos avançar no reconhecimento da importância da educação ambiental.

A Bett Brasil 2025 deixou uma mensagem clara: não há mais espaço para uma escola neutra diante das transformações tecnológicas e sociais. O que está em jogo é a formação de cidadãos conscientes, capazes de usar a IA como ferramenta — e não como muleta —, que entendem os dados como aliados da aprendizagem e reconhecem que a reputação e a ética são partes indissociáveis da educação.

Aqui estão dez tendências da educação reveladas na Bett Brasil 2025:

  1. Integração da IA como ferramenta pedagógica e não substitutiva.
  2. Formação de professores em literacia de prompt e ética digital.
  3. Nova abordagem para vestibulares com curadoria inteligente de conteúdos com auxílio da IA.
  4. Criação de políticas claras para uso de dados pedagógicos, respeitando a LGPD.
  5. Educação climática integrada ao currículo por meio de projetos de educomunicação.
  6. Gestão de reputação escolar como estratégia de valor institucional.
  7. Formação de alunos para atuarem como cidadãos digitais e críticos.
  8. Uso da IA para personalização da aprendizagem desde os anos iniciais.
  9. Conscientização sobre o impacto dos algoritmos no comportamento e atenção.
  10. Reposicionamento da escola como espaço de construção humana, não apenas de conteúdo.


A escola do futuro, como vimos na Bett, será cada vez mais híbrida, inteligente e humana — esse é um caminho sem volta.

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