Os avanços e as potencialidades do ensino híbrido para 2025
Modalidade se consolida como tendência educacional, oferecendo flexibilidade e personalização, mas gera discussões sobre implementação e regulamentação
A velocidade das informações e o avanço das tecnologias têm mudado a dinâmica das relações na sociedade contemporânea. O impacto dessa revolução tecnológica incide também nos formatos com que aprendemos e assimilamos as informações. Sob essa perspectiva, o ensino híbrido tem se apresentado como uma das tendências de ensino-aprendizagem para 2025.
Com a possibilidade de propor um equilíbrio entre as interações presenciais e o aprendizado remoto, a modalidade prevê uma educação mais acessível, ampla e adaptável, fatores que podem ser decisivos e essenciais para alguns cenários educacionais. A experiência imersiva e a viabilidade de personalizar o conteúdo, considerando o ritmo de aprendizagem de cada aluno, surgem como pilares principais que trazem o ensino híbrido para o centro das discussões.
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Os aspectos positivos das modalidades híbridas e remotas provocaram uma movimentação no mercado das gestões educacionais, especialmente diante das crises sanitárias e climáticas dos últimos anos. Como alternativa para dar continuidade aos conteúdos ministrados, escolas e instituições passaram a considerar a modalidade não apenas como um recurso emergencial, mas como uma poderosa ferramenta de aprendizado individualizado.
E o que dizem os especialistas?
Certificado pelo Google for Education, o especialista e doutor em Educação Paulo Tomazinho explica que é necessário diferenciar conceitos similares e compreender claramente o que é o ensino híbrido. Ele ressalta que a tradução do termo em inglês pode causar confusão. “O termo, muitas vezes mal traduzido do conceito original Blended Learning como ‘ensino híbrido’, deveria ser melhor representado como ‘aprendizagem combinada’. Essa abordagem vai muito além da combinação entre presencial e online, englobando combinações como digital com analógico, individual com colaborativo, conteúdo com experiências práticas e avaliações formativas com somativas. Quando bem compreendida, a aprendizagem combinada permite flexibilidade e personalização, unindo a interação presencial com recursos digitais”, destaca Paulo.
Além de definir claramente o conceito, Paulo defende a capacitação efetiva do corpo docente, considerando que os professores precisam estar aptos e habituados à nova metodologia. “É essencial investir na formação continuada dos professores, capacitando-os para integrar ferramentas digitais, gestão de sala de aula e metodologias ativas de forma eficaz. O professor só utiliza aquilo em que tem clareza, segurança e conforto”, afirma.
Ao falar sobre os caminhos para implementar a metodologia, o especialista sugere que as instituições invistam em projetos-piloto, analisem os resultados e os compartilhem com a comunidade acadêmica. “Minha recomendação é começar com disciplinas isoladas ou projetos interdisciplinares de curta duração. Isso permite testar a metodologia, aprender no processo e realizar ajustes necessários de forma gradual. Essa abordagem progressiva dá segurança aos professores, permitindo que desenvolvam confiança no uso de novas práticas. Ao mesmo tempo, os resultados desses experimentos podem ser compartilhados com as famílias, demonstrando que a metodologia complementa, e não substitui, o ensino tradicional, trazendo benefícios reais”, conclui.
Como o modelo tem funcionado para quem já implantou a metodologia?
A necessidade de adaptação dos processos frente aos desafios impostos pela pandemia de Covid-19 exigiram que as instituições desenvolvessem mais afinidade com os ambientes virtuais. De acordo com a coordenadora do curso de Especialização em Gestão Escolar do Instituto Ivoti, Doris Helena Schaun Gerber, o aprendizado do período pandêmico foi essencial para iniciar os trabalhos de implementação das atividades remotas.
“Em 2020, nós ingressamos na oferta online na graduação e esse aprendizado foi essencial para incluir o ambiente virtual nos cursos de especialização. Após a definição da estrutura curricular geral de cada curso, avaliou-se quais eram os componentes curriculares que obrigatoriamente deveriam ser presenciais e quais seriam realizados de forma remota, sempre considerando o máximo de 40% de aulas online permitidos pela legislação”, explica a gestora.
Para além da flexibilidade no acesso proporcionada aos alunos, Dóris destaca os benefícios que já podem ser observados a partir da implementação do modelo híbrido. “Como principais ganhos desse modelo de aprendizagem é possível apontar a redução de despesas de deslocamento para os estudantes, já que 40% da carga horária de cada curso é remota, e a ampliação do quadro docente dos cursos que, neste modelo, permite a presença online de professores de diferentes regiões do país”, conclui.
No mesmo sentido de aprendizagem multiplataforma, híbrida e transversal, a Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos) também implementou a metodologia. A modalidade de ensino híbrido para as formações de Ensino Superior foi oficialmente ofertada, em um primeiro momento, para o curso de Fisioterapia da instituição.
A coordenadora do curso, a professora Ana Paula Barcellos Karolczak, explica como foi o processo de implementação do formato. Assim como Paulo, Ana destaca que, para além de transformar o presencial em online, é preciso entender as características da metodologia de aprendizagem híbrida. “Montar o projeto pedagógico do curso, no formato híbrido, foi bem desafiador. Dentre os principais desafios é possível elencar a necessidade de entender o modelo. Entender que não é somente pegar o presencial e transformar em online. É preciso aprender a metodologia de ensino do online, entender como funciona a aprendizagem nesse formato e, além disso, definir quais as práticas serão presenciais”, explica a coordenadora.
Ana destaca, ainda, que, a partir do momento em que o formato foi efetivamente implementado, percebeu-se uma adesão e uma receptividade muito positivas por parte dos alunos, especialmente daqueles que trabalham em turno integral e não teriam disponibilidade para estudar de forma 100% presencial. “Sem dúvida nenhuma, um dos principais ganhos desse formato é a flexibilidade para o aluno trabalhador. A maioria dos nossos alunos têm esse perfil e, considerando que a Fisioterapia é um curso longo, com uma carga horária robusta, o formato presencial acaba por inviabilizar a graduação para uma parcela grande de alunos que têm o sonho de obter essa formação. Esse é um relato que escutamos diversas vezes dos estudantes, que alegam que, se não fosse nessa modalidade, não seria possível fazer o curso”, conclui Ana.
Alternativa também para o Ensino Médio
A flexibilidade e o dinamismo oferecidos pelo modelo híbrido também foram potencialidades identificadas para trabalhos com alunos do Ensino Médio. Com itinerários formativos híbridos, ainda em 2022, o Colégio Marista Rosário, de Porto Alegre, implementou a metodologia para a disciplina de Arte e Design. A professora Fernanda Borges explica que o formato adotado possibilita mais autonomia por parte dos estudantes e permite personalizar os conteúdos por meio das plataformas digitais. “O itinerário híbrido de Arte e Design para Intervenção Social considera a criatividade e o protagonismo dos estudantes como norteadores do processo de aprendizagem. No formato híbrido, as principais vantagens são a autonomia dos estudantes para realizar as atividades, ampliando o protagonismo discente, e a possibilidade de diversificar mais as atividades, contando com maior suporte digital”, destaca a professora da Rede Marista.
Mas o que diz a legislação quanto ao formato?
As potencialidades do ensino híbrido também levaram o assunto para o âmbito legal da legislação brasileira. Apesar de ainda aguardar tramitação final, em julho de 2024, a Comissão de Educação da Câmara de Deputados aprovou o Projeto de Lei de nº 2.497/21, de autoria da deputada Luísa Canziani (PSD), que prevê a oferta da metodologia híbrida na Educação Básica, em articulação com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC).
Com texto substitutivo aprovado do relator, deputado Ismael dos Santos (PSD-SC), a redação do PL destaca que a aprendizagem híbrida é aquela que “oferece diferentes perspectivas metodológicas com a possibilidade de conexão digital e uso transversal das tecnologias disponíveis para o alcance dos objetivos de aprendizagem, incluindo atividades presenciais e não presenciais”, pontua o texto.
A proposta, ainda em estágio de apreciação, frisa que a aprendizagem híbrida somente poderá ser adotada na Educação Básica a partir dos anos finais do Ensino Fundamental ou em situação de emergência reconhecida por lei. Após aprovação em todas as instâncias necessárias, as alterações devem contar com regulamentação específica expedida pelo Ministério da Educação (MEC).
Ficaria definido ainda, a partir do texto aprovado, que em regime de colaboração, a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, deverão elaborar políticas públicas a fim de promover a infraestrutura necessária para a conectividade, bem como desenvolver estratégias de inclusão digital e assegurar a capacitação continuada dos profissionais da educação.
A proposta tramita agora em caráter conclusivo e deve ser apreciada pela Comissão de Constituição, Justiça e de Cidadania. Para, evidentemente, virar lei, o projeto ainda precisa ser aprovado pelo Senado e sancionado pelo presidente da República.
Confira o PL na íntegra: Projeto de Lei de nº 2.497/21.
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