Por que o TikTok pode funcionar como uma plataforma de ensino

Em crescimento no Brasil, a rede social já é sucesso e muitos professores são famosos por desenvolverem conteúdos que ensinam de maneira lúdica e descontraída às novas gerações

por: , Eduardo Wolff | eduardo@padrinhoconteudo.com
imagem: Depositphotos

Danças, memes e brincadeiras. O TikTok está bem atrelado a momentos para desopilar, rir. Esses são fatores que fazem com que se tenha uma forte adesão de adolescentes e jovens adultos. Segundo dados da própria plataforma, 66% dos usuários têm menos de 30 anos, com faixa etária entre 16 e 24 anos. E a leveza e a simplicidade de transmitir o conteúdo (muitos informativos) permitem a aplicação do app na área da educação. Para utilizar o recurso, basta usar a criatividade e fazer o upload de um vídeo na rede social.

Antes de contar como fazer isso, vale contextualizar a dimensão do app mais baixado no mundo no primeiro trimestre de 2022. Conforme o mais recente relatório da empresa de análise Sensor Tower, foram 175 milhões de downloads.

Com tanta popularidade, não é surpresa ver o app presente nas salas de aula. Segundo a mestranda no Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), Juliana Coin, o Tiktok tem um maior potencial de engajamento orgânico, se comparado com outras redes sociais. 

“É muito valorizado quem comenta, curte, compartilha ou faz duetos nos vídeos. Acontece uma entrega de conteúdo para todos. Muitas pessoas que não são celebridades podem produzir algo e ter uma alta taxa de engajamento.

Os docentes têm um campo fértil ser explorado por meio da plataforma. “A geração que consome o TikTok é uma nativa digital. Entendendo a linguagem de interesse, os jovens vão buscar informação, seja de maneira mais informal e fácil de compreender. Fica a cargo dos professores acionar esses gatilhos, usando humor, ironia e satira aliado a muita informação”, enfatiza.

Simone faz sucesso com vírgula e ortografia

Dinamismo, descontração, bom humor e muita interação. São qualidades que alguns docentes conseguiram transmitir em suas miniaulas, conquistando milhares de pessoas pelo país.

Com mais de 200 mil seguidores, a professora de Língua Portuguesa e Especialista em Linguística, Simone Porfiria, iniciou a sua jornada no TikTok durante o isolamento social. “Eu comecei a usar a plataforma como forma de entretenimento e distração. Eu fazia vídeos de dublagens e vídeos de humor. Logo depois dessa fase, a rotina de trabalho foi retomando a normalidade e eu fiquei sem tempo para me divertir na rede social. Entretanto, para não me desfazer do perfil, tive a ideia de começar a gravar vídeos contendo dicas rápidas de Língua Portuguesa. Em questão de semanas vi meu perfil crescer exponencialmente. De lá pra cá, nunca mais parei de postar esse tipo de conteúdo”, relata.

Durante o período em que as escolas ficaram fechadas, Simone enfatiza que os seguidores se identificaram muito com o fato de verem uma professora dando dicas de Língua Portuguesa no Tiktok. “De alguma forma, se sentiram acolhidos, de volta à escola e algumas pessoas relataram que se sentiram motivados a voltar a estudar. Esta plataforma é muito poderosa, há excelentes professores postando bons conteúdos. Durante as minhas aulas presenciais, eu sempre cito um perfil ou outro para que meus alunos sigam e aprendam de forma lúdica. Nas minhas aulas o Tiktok nunca foi proibido”, ressalta.

As perguntas mais interessantes e curiosas que os seguidores deixam em cada um dos seus vídeos são a inspiração para os próximos. “Em seguida, penso em como responder tais dúvidas de maneira rápida e lúdica. Para gravar os vídeos eu utilizo apenas o celular e um tripé, nada mais. Acredito que essa seja a chave para fazer com que os seguidores assistam ao vídeo até o final. As dúvidas principais são sobre ortografia e vírgula. São recordistas de audiência”, frisa.

Confira o perfil da professora:

@simoneporfiria

Responder @moraesago Existem gêmeos perfeitamente iguais? Então.. nem sinônimos. 😁 #foryou #professorapreta #dicadeportuguês #fyp #sinônimos

♬ som original – Simone Porfiria

Gabriel prepara um roteiro para os seus vídeos

O professor de História Gabriel Bonifácio Chagas começou a entrar nesse mundo a partir do seu irmão e da sua cunhada, que, frequentemente, usavam a rede social. De usuário a produtor de conteúdo, o docente, no início, apenas queria dar evidência ao seu trabalho a gestores educacionais, mas, atualmente, conta com mais de 100 mil seguidores em seu perfil.

Os recursos utilizados são simples: um celular e quatro aplicativos gratuitos. Para preparar cada vídeo, o docente começa com um roteiro para seguir um fluxo de pensamento. Para isso, realiza leituras com livros que já possui, textos de graduação e mestrado que seus colegas desenvolveram, além dos próprios produtores de conteúdos das redes sociais. “Faço uma leitura rápida daquilo que gosto e me aprofundo. Quando está pronto o roteiro, eu começo a gravar e, posteriormente, faço a edição e decupagem do vídeo, e complemento com imagens e legendas. Basicamente, eu desenvolvo aquilo que gostaria de assistir”, explica. 

Atualmente, Chagas utiliza as caixas de perguntas para ser a base dos seus vídeos. “A partir das dúvidas, consigo explicar melhor determinados assuntos. Produzo conteúdos para as pessoas que estão dispostas a me ouvir. Por serem vídeos curtos, é um espaço promissor para a educação, tamanho velocidade de acesso. O TikTok distribuiu de maneira rápida os vídeos”, comenta.

Conheça o perfil do professor:

Grande potencial de engajamento de alunos

Quando um perfil é criado pela primeira vez dentro da plataforma, não existe uma configuração de algoritmo. O máximo que existe é uma conexão com a conta do Gmail, por exemplo. Por isso, as “dancinhas” são mais populares e as apresentações iniciadas pela rede social, como informa Juliana Coin, da UFRGS. A jornalista está desenvolvendo um estudo com ênfase no TikTok dentro da linha de redes sociais, interações e sociabilidades. 

Conforme explica Juliana, ao utilizar mais o TikTok, a plataforma vai aprendendo o comportamento do usuário por meio do machine learning (que significa aprendizagem da máquina, em tradução livre). 

“Em geral, a regra de todas as redes é essa: quanto mais você usa, mais os perfis de interesses vão se definindo. No caso do TikTok, o algoritmo “Para você” ou FYP (For You Page, em inglês) é o que mais rápido capta os dados e realiza a definição de persona”, diz.

Por ter conteúdos rápidos e muito diretos, a comunicação com o público jovem é evidente. E essa aderência ao Tiktok gerou impactos em relação à concorrência. 

“Como o TikTok estava ganhando muita visibilidade, o Instagram também alterou a plataforma e criou o reels com o mesmo sentido”, aponta a professora do curso de especialização presencial e EAD Influência Digital: Conteúdo e Estratégia da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), Karen Sica.

Dicas de sucesso dos professores tiktokers:

Estudo paranaense

Pesquisadores da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste) realizaram um levantamento intitulado “Criatividade em rede: o TikTok como um ODA em potencial para o ensino”. Segundo o estudo, a maioria dos conteúdos disponibilizados desta rede social são produções de vídeos simples, muitas vezes gravadas na própria casa, sem a necessidade de grandes aparelhos digitais, sendo indispensável apenas um smartphone que permita filmar e compartilhar o vídeo. 

“Pensando pelo viés educacional, essa simplicidade na produção colabora para que professores possam produzir e disseminar os conteúdos. Obviamente que as contas de grande impacto contam com edições dos vídeos, que vão sendo aprimoradas na medida em que o usuário criador aprende a manipular as suas criações e o próprio aplicativo”, refere o levantamento.

A pesquisa aponta que as características de Objetos Digitais de Aprendizagem (ODA) apresentadas pelo TikTok permite tornar uma ferramenta colaborativa para o ensino. “[…] um professor pode explorar que os estudantes pesquisem nessa rede informações que possam ajudar com os conteúdos trabalhos em sala. […] A Geração Alfa está cada vez mais consumindo e produzindo materiais em rede, e por isso há a necessidade de o professor buscar formas de interagir com esses aprendentes, buscando ancorar-se nas mesmas ferramentas que eles estão acostumados a usar”, aponta o estudo.

Diante deste potencial, o TikTok está atento à área da educação e possui uma meta de fortalecer o seu ecossistema para esse tipo de conteúdo. Em setembro de 2021 iniciou o seu Programa de Aceleração com o intuito de apoiar conteúdo educativo no Brasil. Com o #AprendaNoTikTok, os criadores de conteúdo estão sendo selecionados e convidados pela empresa multinacional que oferta workshops para aprender mais sobre a plataforma e se conectar ainda mais com a sua comunidade.

Top 10

Entre as 10 redes sociais mais usadas no Brasil em 2022, o TikTok ocupa a quinta posição, com 73,5 milhões de usuários. Perde apenas para WhatsApp, YouTube, Instagram e Facebook, respectivamente. As informações são do relatório de abril de 2022 produzido em parceria por We Are Social e Hootsuite.

Descoberta de conteúdos

Em um estudo conduzido pela empresa de pesquisas Nielsen, contratado pelo próprio TikTok, é apontado que: “88% dos usuários acham que o TikTok é um lugar onde as pessoas podem se expressar abertamente; 81% dos usuários sentem que podem ser eles mesmo quando usam o app e 60% dizem que a descoberta de novos conteúdos é uma razão para usar o aplicativo, sendo que 92% afirmam descobrir conteúdos novos e que gostam”. 

Mais: 75% dos usuários têm um senso de comunidade quando usam o app e 80% se identificam com o conteúdo que veem no TikTok.

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