Prós e contras: a Inteligência Artificial aplicada no ensino

Sistemas como o ChatGPT ainda geram muitas dúvidas. Alguns especialistas apontam quais são as boas práticas para melhor aproveitar esses recursos em sala de aula

por: Eduardo Wolff | eduardo@padrinhoconteudo.com
imagem: AdobeStock

A Inteligência Artificial (IA) vem ganhando projeção pelo mundo e, no Brasil, não é diferente. Um levantamento da consultoria FrontierView, encomendado pela Microsoft, aponta que a IA pode contribuir para um crescimento de 4,2% do PIB brasileiro até 2030.

Em grande discussão nos últimos tempos, o ChatGPT é uma nova geração de chatbots, uma aplicação que permite que a pessoa interaja em língua natural com o sistema. 

Caso você pergunte a esse mesmo sistema o que ele é, vai se definir como: “um modelo de linguagem de grande escala treinado pela OpenAI (empresa desenvolvedora) para gerar respostas automatizadas em linguagem natural para uma ampla variedade de perguntas e tarefas de linguagem”.

A sua aplicação ganhou novos ares e entrou na esfera da educação. Entre as primeiras reações, estão os receios quanto ao mau uso, principalmente, na educação básica. Afinal, essa tecnologia pode ser útil para a aprendizagem de crianças e adolescentes?

Outras dúvidas vieram à tona, como: O que impede um estudante de simplesmente passar as instruções e entregar um trabalho escolar feito por essa ferramenta? Como o aluno vai apresentar uma produção textual a partir da tecnologia de IA? 

O conhecimento e o pensamento crítico estão ameaçados?

Conforme comenta o professor da Escola Politécnica e coordenador do Centro de Inovação da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), Michael da Costa Móra, apesar dos resultados de performance serem surpreendentemente bons até o momento, o recurso apresenta informações e correlações equivocadas. “Por isso, o uso da ferramenta requer muito senso crítico para analisar o que é produzido”, frisa.

Para a pesquisadora em metodologias ativas e aprendizagem ativa e resultados de aprendizagem, Ana Valéria Sampaio de Almeida Reis, a tecnologia pode acrescentar muito ao desenvolvimento de crianças e adolescentes, justamente no pensamento crítico. 

“Por isso, o uso da ferramenta requer muito senso crítico para analisar o que é produzido”

Michael da Costa Móra – professor da Escola Politécnica e coordenador do Centro de Inovação da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS)

Como exemplo, ela menciona que um professor, em atividades interativas com os alunos, pode criar histórias a partir de imagens propostas por eles, enigmas, desafios em que o chat possa sugerir pistas. “Tudo isso associado aos objetivos de aprendizagem e aos resultados esperados. As aulas serão mais dinâmicas e participativas”, projeta. 

Os domínios cognitivos de pensamento, dos mais simples aos mais complexos, podem explorar diferentes áreas do conhecimento e incentivar a pesquisa para além do ambiente em que se encontram os alunos. “O conhecimento nunca estará ameaçado, porque o que você conhece estará sempre com você, na sua bagagem de vida, e se pode aprender sempre”, enfatiza. 

Ana Valéria questiona em que nível de assertividade e confiança a informação gerada pelo ChatGPT chegará até as pessoas, com quais referenciais e como transformar as informações em experiências. A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) já aborda a cultura digital na escola e o uso de tecnologias em favor da aprendizagem. 

Segundo a professora do Instituto de Informática da UFRGS e coordenadora da Cátedra Unesco em Tecnologias de Comunicação e Informação na Educação, Rosa Maria Vicari, o sistema apresenta uma performance razoável em vários temas da linguística e das ciências humanas. É um recurso de linguagem que gera textos com introdução, desenvolvimento (incluindo análise) e conclusão. 

Para ela, a performance do GPT depende da quantidade de textos sobre um determinado assunto que foram utilizados no seu treinamento. A ferramenta ainda não trata aspectos de sentimentos nos textos que gera. “Certamente, a emoção fará parte de uma próxima versão, pois a tecnologia já existe. Ele também fornece referências bibliográficas”, analisa.

>> Confira o webinar sobre Inteligência Artificial (IA): “ChatGPT — Desafios e Oportunidades para a Educação”, com as participações da Ana Valéria Sampaio de Almeida Reis e da Rosa Maria Vicari

E como as escolas devem se preparar?

Pensar que a IA vai resolver tudo, é uma utopia difícil de se prever. É o que acredita a especialista em educação e tecnologia do Centro de Inovação para a Educação Brasileira (CIEB), Larissa Santa Rosa, que afirma que não se pode erradicar o ChatGPT ou qualquer outro recurso similar que venha a surgir: “é negar a realidade”. 

Para isso, é importante garantir a formação continuada de qualidade aos professores que possibilitam melhores tomadas de decisão para essas ferramentas em sala de aula. Na sua visão, somente os educadores darão uso eficaz a esses recursos que podem apoiar e facilitar os processos de ensino. “A tecnologia pode ser um atalho na elaboração das atividades e avaliações”, diz.

Já Ana Valéria sinaliza que a escola deve se manter aberta às inovações. Ainda mais quando se aborda as profissões que ainda não existem e os alunos devem estar preparados para as mesmas. O tema do ensino por competências é não só as cognitivas, mas as socioemocionais, as psicomotoras e as transversais. “Será que as profissões do futuro estarão isentas de tecnologia?”, questiona.

Para a especialista, a tecnologia tem de despertar o que há de mais humano: a pesquisa, a investigação, a curiosidade, a criatividade e a apropriação de saberes com ética, respeito às fontes, uso de linguagem apropriada e contextualizada. Segundo ela, o ChatGPT não conhece os limites entre ética e moral. A preparação da escola parte de quem é e do que a compõe: gestores, colaboradores, professores, alunos, pais, seus espaços, seus ambientes virtuais ou não, sua proposta curricular e seu modelo pedagógico. 

“Todos sintonizados para dominar as tecnologias, e não só elas, e usá-las para o desenvolvimento mútuo da comunidade educativa, da criação de um ecossistema de aprendizagem em que se evidenciem as experiências dos estudantes e o impacto que essas experiências geram”, indica.

Em pensamento similar, Rosa aponta que a educação em todos os níveis precisa urgentemente se adequar a novas competências e novas habilidades. Cada dia mais, a tomada de decisão será dividida com as máquinas, sendo preciso aprender a conviver com elas. 

Além disso, reforça que os empregos estão mudando. Um aluno pode se formar em um dia e no outro ser substituído por um aplicativo. Existem vários exemplos de transformação no mercado de trabalho, como: Uber, Airbnb, Spotify, etc. Da mesma forma, novas profissões surgem, como: piloto de drone, neurocientistas, engenharia cyborg, entre outras.

Para contribuir com essa realidade, a UFRGS lançou um documento chamado Referencial Curricular para a Inteligência Artificial no Ensino Médio. Neste, o ChatGPT é uma das tecnologias sugeridas para ser utilizado pelos professores em suas aulas. 

E o que está por vir?

Móra comenta que mais atualizações e ferramentas estão a caminho. O ChatGPT, que é baseado em um projeto chamado GPT 3.5, tem a sua nova versão, a 4.0, em desenvolvimento. “É de se imaginar que a interação seja de maior qualidade”, sinaliza. 

Outras empresas de tecnologias também estão com atenção neste tipo de ferramentas. A Microsoft fez um acordo com a OpenIA e promete uma nova versão do Teams (plataforma de EaD) com tecnologias do ChatGPT. As aulas serão “escutadas” pelo GPT e o mesmo poderá criar um resumo dos principais pontos, gerar listas de tarefas e legendar as reuniões em tempo real para vários idiomas. Já o Google anunciou que vai lançar algo similar, o BARD, baseado no seu projeto LaMDA. 

A reportagem do Educação em Pauta questionou o próprio ChatGPT sobre qual seria o seu futuro na educação. A resposta dada foi a seguinte: “é promissor, pois o modelo pode ser usado para melhorar a qualidade e a acessibilidade da educação em todo o mundo. Uma possível aplicação é a criação de assistentes de aprendizado virtuais, que ajudam os alunos a aprender em seu próprio ritmo, respondendo a perguntas, fornecendo feedback e criando exercícios personalizados […] é importante lembrar que o ChatGPT não pode substituir completamente os professores e educadores humanos, mas pode ajudá-los a fornecer uma educação mais eficaz e personalizada.”

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