Um olhar sobre o cenário escolar pós-pandêmico

A parceria entre os setores pedagógico e administrativo é fundamental para projetar, além da sustentabilidade financeira, a execução de propostas inovadoras





Marícia Ferri
Diretora Pedagógica do Colégio Farroupilha e Diretora do SINEPE/RS

Transcorridos dois anos de pandemia, 2022 iniciou repleto de esperança; afinal, com a vacinação, passamos a enxergar um caminho para novas possibilidades no que se refere à luta contra a Covid-19. Embora ainda estejamos em meio à pandemia, surgem evidências de superação do vírus e, ao contrário de fevereiro de 2021, iniciamos o ano letivo em modo presencial, mantendo os cuidados para com toda a comunidade escolar. Nesse contexto, também foi necessário buscar alternativas a fim de que os estudantes não tivessem prejuízo em suas aprendizagens, para além daquele sofrido emocionalmente – em face da falta de convivência durante o período de isolamento social.  

Mais do que nunca, os gestores escolares conheceram a multiplicidade dos desafios que diariamente surgiram durante esse delicado momento e que, por sua vez, foram potencializados nesse período peculiar de crise sanitária. Entre 2020 e 2021, houve uma alteração na rotina da escola. Para garantirmos a segurança das pessoas no ambiente escolar, foi necessária a adoção de diversos protocolos sanitários que acompanhassem a variação do status pandêmico. Nesse ínterim, em dado momento – e a partir da autorização do Poder Executivo –, crianças e adolescentes puderam experimentar um retorno ao ambiente escolar. Naquele momento já diagnosticávamos prejuízos como consequência da falta de socialização e da necessidade do ensino remoto, ocasião em que estes jovens contavam com a ajuda de seus pais, responsáveis ou cuidadores.

Com a presença de todos na escola, neste começo de 2022, sabemos que é fundamental que as equipes pedagógicas tenham um olhar atento e cuidadoso, não somente no tocante aos aspectos cognitivos, mas também àqueles voltados às relações interpessoais e à saúde dos estudantes. A excessiva exposição às telas durante os dois últimos anos, por exemplo, já tem manifestado seus efeitos quando se percebem sinais de abstinência de tela – fato preocupante entre familiares e educadores. 

Nesse sentido, é fundamental que as escolas promovam rodas de conversa, mediadas por orientadores e/ou psicólogos escolares, com as turmas. Além disso, é necessário que os docentes fiquem atentos às relações cotidianas, no que diz respeito aos modos de convivência entre seus estudantes. Ainda, sob o ponto de vista da gestão dos profissionais que atuam nas instituições escolares, também se deve exigir maior atenção aos alunos, considerando as diferentes realidades experienciadas e os reflexos dessas vivências no retorno ao convívio com seus pares.  

Do ponto de vista didático-metodológico, ressalta-se que as aulas presenciais (expositivas) transmitidas, em certa medida, favoreceram um modelo pedagógico que já havia sido superado. Logo, essa nem tão nova realidade tenderá a persistir nas formações para os docentes, que agora convivem com um distinto panorama tecnológico que deverá ser cada vez mais incorporado às atividades propostas. O efeito da pandemia sobre o professorado foi uma provocação emergencial às suas aprendizagens, o que demandou o domínio de ferramentas tecnológicas. Em tal perspectiva, foi esse movimento que fez com que a escola pudesse se manter viva, independentemente do ambiente: presencial ou virtual.

De todas as aprendizagens do contexto pandêmico, se há uma constatação acerca dos acontecimentos, é a de que, no que se refere aos gestores, realizou-se um balanço da totalidade dos novos processos. É perceptível que todos nós mudamos um pouco e, mesmo assim, devemos considerar que o cenário atual permanece como campo aberto de outras/novas possibilidades: seja com as metamorfoses metodológicas nas quais docentes e discentes foram inseridos, seja com o desafio da implantação do Novo Ensino Médio – projeto que merece atenção especial, tendo em vista as mudanças que impactam a dinâmica escolar por meio das escolhas de itinerários; da construção de um projeto de vida; da escolha das disciplinas eletivas etc. Esse cenário de transformações evidencia que os estudantes que antes cursavam o mesmo currículo, agora contam com a possibilidade de escolha.

O fato é que, com a implantação dos novos projetos, haverá a necessidade de acompanhamento constante (avaliação, ajustes, reorganização de objetivos). Para tanto, a parceria entre os setores pedagógico e administrativo é fundamental a fim de que possamos projetar, para além da sustentabilidade financeira, a execução de propostas inovadoras, com a garantia de que tudo esteja à disposição de professores e alunos com o intuito de assegurar aprendizagens sempre potencialmente significativas.

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