Evasão em escolas: as estratégias para retenção de alunos
Especialistas apontam o cenário atual e os cuidados essenciais para a permanência de estudantes em uma instituição de ensino
Um estudo do Escolas Exponenciais indicou que 21% das famílias cogitam trocar seus filhos de colégio no próximo ano letivo. A pesquisa, divulgada em 2022, foi realizada com 150 mil famílias do Brasil.
Ainda, neste estudo, entre os principais motivos levantados para a saída de estudantes estão: pouca abertura para relacionamento com aqueles que atuam com os seus filhos; atividades pedagógicas pouco divulgadas ou informações incompletas e tratamento impessoal ou falta de atenção com os seus filhos.
Conforme informa o especialista em gestão, comunicação, marketing e andragogia, Christian Rocha Coelho, a previsão para até o final de 2023 é que a evasão de estudantes seja normalizada. “O natural é perder em torno de 10 a 20% de alunos”, frisa.
Ele ainda complementa que a influência da recessão econômica é muito menor do que se imagina. É a última instância que faz com que os pais transfiram seus filhos do ensino privado para o público. “Em época de crise, o que é mais habitual é aumentar o índice de desconto. No pós-pandemia, tanto esse ano como o ano passado, as perdas por esse motivo foram controladas”, pontua.
Geralmente, os índices de inadimplência ocorrem em casos de alunos mais novos na escola, que estão há menos de dois anos. Aqueles que estão há mais tempo, os pais honram seus compromissos e a inadimplência irá somente acontecer em situações graves na família.
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Já o consultor de estratégias corporativas de escolas particulares, Ivan da Cunha, ressalta que o processo de fidelização atual é muito mais complexo do que era no passado. O que se faz necessário é um acompanhamento contínuo, mas não somente do aluno. “É se permitir entender a real expectativa dessa família”, aponta.
O consultor empresarial e tesoureiro do Sindicato do Ensino Privado do Rio Grande do Sul (Sinepe/RS), Iron Augusto Müller, sinaliza que a evasão possui uma relação direta com o emprego e o desemprego, bem como reflexos na situação econômica das famílias. “Durante a epidemia tivemos uma evasão sem precedentes no ensino infantil, mas os alunos desse nível já retornaram para as escolas”, ressalta.
Captação e retenção: qual se investe mais?
O investimento em captação deve ser o mesmo do que a retenção, pois o impacto de uma escola, ao perder um faturamento, tende a ser um custo muito caro, conforme alega Cunha. É preciso um equilíbrio de entendimento para que a captação e a retenção possam caminhar juntas. “Antes, se colocava a captação em primeiro lugar. Se você cometesse equívocos na retenção, tinha muitos alunos para captar. Hoje em dia é muito mais disputado”, analisa.
Já na visão de Müller, a captação demanda esforços maiores que a retenção. “Não quero dizer com isso que seja fácil reter. É preciso uma constante qualificação, inovação, conquista diária do aluno e famílias para que com esse encantamento permaneçam”, reforça.
O consultor aponta que a captação requer investimentos para buscar aquele aluno que não é visível. No caso da retenção do estudante, com um trabalho de qualidade, é possível conquistar sua permanência, desde que o encantamento do aluno e da família se mantenha.
Estratégias eficazes
A fidelização começa no primeiro dia do ano. Para Cunha, não adianta chegar na época de matrícula, com uma família insatisfeita, e tentar a reversão para evitar uma saída. “Essa atenção se faz durante os 365 dias do ano. Naturalmente, é preciso uma gestão de pessoas. É a equipe, é o time que faz a retenção”, frisa.
O especialista ainda sugere que o gestor que não tem uma escuta adequada, também não vai mobilizar o seu time que, por sua vez, não irá desempenhar um papel eficaz de retenção. Ou seja, serão pessoas simplesmente reativas a uma reclamação. “Existem pesquisas que mostram que cerca de 70% das famílias não reclamam e tiram seus filhos de determinada escola. Temos um perfil de consumidor que não perde tempo reclamando, porque tem muitas opções e, simplesmente, transfere seu filho para uma outra instituição”, contextualiza.
O uso da criatividade se faz fundamental. “O encantamento que precisamos despertar no aluno e na família, muitas vezes, não necessita de grandes investimentos. É aquela qualidade que se consegue produzir com os valores que você já paga para seus colaboradores”, diz Müller.
E, para manter e melhorar a qualidade de serviços, é preciso um constante investimento, mas é preciso explorar, ao máximo, a capacidade produtiva e a qualidade desse serviço. “Isso para que não se torne demasiadamente caro e fora da capacidade de pagamento das famílias”, complementa.
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Em outro apontamento, Coelho fortalece a valorização do trabalho pedagógico desempenhado pela escola. Segundo ele, não adianta realizar um grandioso trabalho de marketing se o serviço em si não é bom para a família. Logo, o foco principal tem que ser no que é realizado em sala de aula.
Com pensamento semelhante ao de Müller, Coelho acredita que um bom serviço não é o suficiente. É necessário encantar. E faz um alerta: “quando um aluno sai, sempre quer arrastar alguém, somos animais sociais. Então, é comum ver uma debandada de perda concentrada em determinada sala de aula.”
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