Educação emocional traz benefícios em todas as etapas da vida escolar

Pedagoga e psicólogas comentam estratégias para trazer o assunto para o cotidiano da sala de aula

por: Bianca Zasso | bianca@padrinhoconteudo.com
imagem: Freepik

Muitas são as estratégias utilizadas por pais e professores para falar sobre emoções com crianças e adolescentes. O livro ilustrado “Emocionário: Diga o que você sente”, escrito por Cristina Nuñez Pereira e Rafael R. Valcárcel funciona como um dicionário de emoções. Por meio de exemplos claros, o leitor percorre uma série de sentimentos, desde os mais clássicos, como raiva e alegria, até os mais complexos de descrever, como orgulho e perplexidade. 

Emoções clássicas e complexas? Isso faz lembrar um filme que se tornou a maior bilheteria do país e levou espectadores de todas as idades ao cinema. “Divertida Mente 2”, longa-metragem de animação lançado em julho deste ano, levantou questões interessantes sobre a importância da educação emocional para crianças e jovens ao mostrar uma protagonista adolescente que passa a lidar com novas emoções no “painel de controle” de sua mente. A chegada da Ansiedade e da Vergonha colocam a personagem diante de novos desafios na escola e na relação com a família e com os amigos. 

Mariana Arantes, doutora em educação e especialista em inteligência emocional, acredita que as emoções devem fazer parte do cotidiano das instituições de ensino, já que é um ambiente vivo e feito de pessoas para pessoas. “Mesmo que a escola não aborde diretamente o tema das emoções diretamente, ele já está lá, porque todo mundo é um ser emocional”, explica. 

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Mariana também destaca uma orientação presente na Base Nacional Comum Curricular (BNCC) sobre uma formação integral dos estudantes, abrangendo o desenvolvimento de competências socioemocionais, como empatia, solidariedade e autoconhecimento. E isso só se consegue, de acordo com a educadora, por meio de vivências que permitam aos alunos exercitarem estas habilidades, que devem ser incentivadas pelas escolas desde a educação infantil. “É necessário que se fale sobre isso desde cedo, inclusive para que a escola consiga enfrentar com mais eficácia os casos de bullying, que explodiram, especialmente, entre as turmas de Fundamental 2”, orienta. 

Entender o que nos deixa alegres, tristes ou com raiva e como esses sentimentos interferem nas nossas ações traz benefícios não apenas para os estudantes, mas também para a comunidade escolar e as famílias. Mariana aponta que houve um tempo em que demonstrar os sentimentos era um sinal de vulnerabilidade. “Somos de uma geração que aprendeu a esconder as nossas emoções e pontos fracos. Hoje, sabemos que ter uma inteligência emocional desenvolvida nos dá muita força”, ressalta a pedagoga, que explica que existe uma lacuna na formação de professores sobre este tema. Logo, cabe aos gestores investirem no desenvolvimento da inteligência emocional dos educadores e terem ciência que este processo é demorado. 

Caminhos e projetos

Abrir um espaço para que os estudantes exponham suas emoções é um primeiro passo importante, mas que traz dúvidas. Para orientar conversas e possibilitar um entendimento mais pleno dos processos emocionais por parte dos estudantes, a psicóloga Melinna Vieira, especialista em clínica psicanalítica e que atende adolescentes, acredita que um dos caminhos mais efetivos é a literatura. Segundo ela, se deparar com realidades diversas promove um olhar mais amplo sobre os próprios sentimentos e também o respeito às múltiplas maneiras de vivenciá-los. “A literatura é atrativa e permite que a gente enxergue inúmeras maneiras de lidar com o medo, a vergonha e até a raiva. Um personagem pode estar passando por algo que já vivenciamos e isso nos traz acolhimento e repertório emocional”, sugere. 

Melinna também destaca a importância da busca por apoio profissional em alguns casos. Tornar a terapia uma possibilidade para ajudar crianças e adolescentes a entenderem melhor suas emoções é algo que deve ser trabalhado tanto em casa como nas escolas. “A terapia colabora no desenvolvimento da inteligência emocional e não precisa ser apenas associada a algum problema de comportamento. Isso tira um preconceito sobre a prática e também sobre o peso que as emoções têm sobre nossas atitudes. Somos movidos pela emoção, independente do ambiente em que estamos”, frisa a psicóloga. 

Estabelecer boas relações e  proporcionar uma convivência respeitosa na escola favorece o sentimento de bem-estar e os resultados aparecem também no âmbito da aprendizagem. Um estudo recente da Universidade de Illinois, nos Estados Unidos, mostrou que estudantes que tiveram a educação emocional inserida no currículo tinham uma tendência a apresentar melhores resultados acadêmicos, além de menor índice de comportamento agressivo e maior autoestima.

Um exemplo de projeto voltado para a atenção à educação emocional vem do Colégio Farroupilha, em Porto Alegre. A instituição construiu uma Matriz Socioemocional, que contempla competências e habilidades socioemocionais para que a escola também atue na formação integral dos estudantes. Para a psicóloga educacional do colégio, Greicy de Araújo, ao incluir estes temas em documentos norteadores da escola, é possível garantir que estas habilidades estejam alinhadas em todos os níveis de ensino e no planejamento dos professores de forma intencional. “Os professores podem inserir a temática das emoções e o desenvolvimento das competências socioemocionais nas diferentes disciplinas que fazem parte do currículo, como leitura de livros, seminários, discussão de trechos de filmes, oficinas interativas, produções escritas, vivências e reflexões, além de projetos interdisciplinares”, explica a psicóloga. 

Para ela,  ao realizar atividades em grupo, por exemplo, o estudante precisa trabalhar a ansiedade e se mostrar compreensivo a diferentes percepções e pontos de vista, que são situações que envolvem a regulação das próprias emoções. 

Em algumas situações, responder a pergunta “o que você sente?” não é uma tarefa fácil. Mas as escolas estão construindo um caminho para ajudar a encontrar as respostas. 

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